Só festa não basta

Seu Odir é um simpático senhor aposentado da Petrobrás que um dia resolveu comprar uma casinha à beira do Rio Poxim, no agradável bairro Inácio Barbosa, zona sul de Aracaju. Sentindo a falta do verde na beira do rio seu Odir resolveu pedir às autoridades da época que promovessem a arborização e uma urbanização condizente com o aspecto bucólico do lugar. Não encontrou apoio.


Mas seu Odir não se fez doce rogado. Começou a recolher mudas de arvores nativas (algumas, inclusive, espécies da Mata Atlântica) e danou-se a plantar um bosque à beira do rio. Como não havia caminhões pipa para aguar as plantas, Seu Odir arrumou um monte de garrafas pet e engendrou um sistema de gotejamento que garantiu que as mudas, não só brotassem, como também se transformassem no belo bosque que se vê hoje em dia na entrada do conjunto.


Todos os dias, seu Odir ainda enche as garrafas do bosque que ele acabou ofertando à cidade. Um exemplo de amor à Aracaju (e olhe que seu Odir nem sergipano é).

Atitude semelhante tem tido o seu Alezon, pescador lá do Mosqueiro, mais conhecido como Nem. A vida dele é plantar cajueiros, mangueiras e pés de mangaba, por onde tiver espaço. Praça, terreno baldio, beira de rio, seja onde for, vira e mexe ta o lá o Nem, jogando uma sementinha e torcendo que os moradores ajudem no seu florescimento. Não atrapalhando já ta bom.     

   
Para um leitor mais pragmático isso pode até parecer romantismo adolescente, essa coisa meio quixotesca de enfrentar moinhos de vento. Para mim, esse é o verdadeiro sentimento de cidadania e de amor às coisas da nossa casa maior, que é Aracaju.


Nessa semana de aniversário e festas comemorativas, minha singela homenagem a esses homens que à margem da enxurrada de exultantes mensagens na mídia,  exercitam na grandeza do anonimato, a verdadeira demonstração de amor á nossa terra.   


Por favor leitor, não me entenda mal. Longe de mim, ser um desmancha prazeres, até porque também adoro festa.


Mas, sinceramente, acho o fim da picada uma porção de gente que faz mal à cidade durante
o ano inteiro, destroem nosso patrimônio arquitetônico, nossa identidade cultural, poluem nossas águas, aterram nossos mangues e ainda vêm declarar amor à Aracaju na data de seu aniversário. A tolerância à hipocrisia tem limite. Tenha santa paciência!

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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