Transporte público em Aracaju: quem são os prejudicados?

Quando o assunto é transporte público em Aracaju, a realidade da população que utiliza ônibus é bem distinta do que dizem os gestores públicos e os empresários do setor. Escrevi sobre isso em outro artigo nesta mesma coluna, no dia 24 de janeiro.

Retorno ao tema porque, esta semana, mais uma vez a população da Grande Aracaju foi prejudicada pela desorganização e precariedade do transporte público e enganada pelo discurso dos responsáveis pela gestão e prestação do serviço. No último sábado (16), 66 ônibus da empresa VCA foram apreendidos por determinação judicial (desses, 44 circulam na região metropolitana de Aracaju). De imediato, representantes do Setransp e diretores da SMTT garantiram publicamente que a população não seria penalizada.

Mas o que se viu nas ruas foi bem diferente. Cidadãos e cidadãs de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão sofreram com inúmeros atrasos nos horários dos ônibus, além da superlotação em muitos veículos. Na verdade, nenhuma novidade para quem depende do transporte público todos os dias na Grande Aracaju. O problema só foi ampliado. O que já é ruim ficou pior.

Tentando justificar dificuldades financeiras e sem demonstrar qualquer preocupação com os usuários do transporte público, mas apenas com os próprios interesses, o diretor executivo da VCA, Norman Oliveira, em entrevista ao Portal Infonet, chegou a afirmar que “a situação dos empresários do transporte é crítica em Aracaju”. Disse ainda: “estamos há dois anos sem aumento de tarifa, mas com reajustes de componentes, de óleo diesel”.

É verdade que a tarifa de ônibus não aumentou em 2012, mas o Imposto sobre Serviços (ISS) pago pelos empresários diminuiu consideravelmente. Logo, o empresariado não deixou de ser beneficiado.

Não faz mal lembrar também que a VCA (Viação Cidade de Aracaju) faz parte de um grande grupo empresarial de atuação no estado, o Grupo Bomfim, que compreende também as empresas Cidade Histórica, São Cristóvão e São Pedro.

Frente a isso, cabem duas perguntas:

Se a situação está crítica por que os empresários não apresentam para a população a planilha de lucros (ou de prejuízos) que têm a cada ano?

Se a situação está crítica por que o Setransp (sindicato dos empresários de transporte) continua patrocinando a maior festa privado-comercial da cidade?

Situação crítica vivem os trabalhadores, estudantes, aposentados que todos os dias são obrigados a enfrentar ônibus sucateados, terminais sem estrutura necessária, pontos sem qualquer proteção.

Situação crítica vivem os trabalhadores do transporte público (motoristas e cobradores), que constantemente têm salários e demais benefícios atrasados, jornada de trabalho além da prevista e uma série de direitos retirados.

Vale lembrar ainda que esta não é a primeira apreensão de ônibus em Aracaju. Somente este ano, em mais duas oportunidades, veículos foram impedidos de circular pelas ruas. No dia 8 de janeiro, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 28 coletivos por falta de conservação e documentação atrasada. Já no dia 5 deste mês, foi a vez da Companhia de Policiamento de Trânsito retirar sete ônibus das ruas, também por atraso nos documentos.

Em síntese, uma série de problemas que revelam o caos do transporte público em Aracaju. Caos apenas para a população, já que para os empresários sempre se encontra uma boa saída. Caos que só será revertido com uma política séria de transportes e trânsito. Uma política que priorize a qualidade do serviço para a população, a transparência na definição das políticas, a garantia dos direitos dos trabalhadores do transporte, o respeito aos que utilizam o serviço e o debate público e transparente sobre o tema.

NOTA

Prefeituras da Grande Aracaju devem convocar Conferência das Cidades

As prefeituras de todo o país têm até amanhã (22) para convocar as etapas municipais da 5ª Conferência das Cidades. A convocação deve ser feita em decreto específico, publicado em diário oficial e em veículos de ampla divulgação.

Os Executivos municipais de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, pelas atuais discussões que envolvem a urbanização e o desenvolvimento das cidades, devem assumir o compromisso de convocar e realizar as suas etapas. É nas Conferências que gestores públicos, empresários e segmentos populares expõem as suas concepções sobre a organização e o uso do espaço urbano.

Nas etapas dos municípios da Grande Aracaju temas como Plano Diretor, Transporte Público e Trânsito devem estar no centro do debate. Caso o executivo municipal não tome a iniciativa, o poder legislativo municipal ou a sociedade civil organizada podem convocar a Conferência em período posterior.

Informações sobre a 5ª Conferência das Cidades podem ser encontradas aqui.

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