UFS recebe prêmio grande, mas o reitor está preocupado

A Universidade Federal de Sergipe recebeu no dia 4 deste mês, em Brasília, um prêmio que torna realidade o sonho antes somente acalentado pelas grandes instituições de ensino e pesquisa.

Com base em dados extraídos da Web of Science, o maior e mais confiável indexador de citações de pesquisas do mundo, a UFS conquistou a primeira colocação em visibilidade e impacto das publicações científicas na área das Ciências da Saúde, fazendo jus ao Research Excellence Awards Brazil.

O prêmio é concedido pela Clarivate Analytics, empresa que analisa pesquisas das universidades mundiais e que é contratada pela Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do MEC.

A bibliometria utilizada analisou trabalhos brasileiros de pesquisa publicados entre 2013 e 2018. Para dar uma dimensão do quanto esse prêmio é concorrido, somente em 2018 pesquisadores do Brasil publicaram mais de 50.000 artigos. No geral, levando em consideração as outras áreas analisadas, a UFS obteve o quarto melhor desempenho.

A atuação das Ciências da Saúde da UFS está diretamente ligada ao Hospital Universitário, onde se desenvolvem pesquisas avançadas, por exemplo, sobre a dengue, o zika vírus e a febre chikungunya. Ali, o professor Roque Pacheco, gerente de Ensino e Pesquisa do HU-UFS, e a pediatra Ana Jovina Bispo, do mesmo hospital, unidos a outros pesquisadores do Brasil, fizeram uma descoberta sem precedentes: fatores genéticos interferem na maneira como o vírus causa a microcefalia no feto.

Tudo isso é motivo de orgulho e entusiasmo para o reitor Angelo Antoniolli, professor e cientista paulista de Itapeva radicado na Universidade Federal de Sergipe há mais de 25 anos e que acaba de receber o título de cidadania sergipana, por indicação do ex-deputado Venâncio Fonseca.

“Na área da saúde, os pesquisadores discutiram a internacionalização previamente. Alguns experimentos são feitos aqui e complementados nas grandes universidades europeias e americanas, isto faz com que as publicações saiam integradas”, observou o reitor, citando uma política institucional para elevar os indicadores: otimizar o trabalho, escolhendo boas parcerias e os melhores periódicos para publicar. As pesquisas sobre aquelas doenças tropicais saíram numa publicação da “Nature”, uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo.

“Não houve investimento a mais, houve uma disposição dos nossos pesquisadores em buscar se integrar com outros pesquisadores do Brasil e do mundo”, diz o reitor, reconhecendo que as pesquisas da saúde têm um apelo maior e despertam interesse de universidades fora do Brasil, mas a UFS também se destaca nas outras ciências, como agrárias e exatas.

No entanto, Angelo Antoniolli está preocupado. “As 63 universidades federais estão passando por um momento muito difícil”.

“E agora o governo quer liberar as bolsas de doutorado para quem tem notas 5, 6 e 7 da Capes. Quem tem essa avaliação (notas muito boas e excelentes) são os programas mais consolidados, principalmente na região Sudeste, que têm 50 anos de pós-graduação. Nossa universidade não tem 10 anos de pós-graduação forte e incisiva”, afirma, acrescentando que os reitores estão tentando sensibilizar o governo federal de que tirar as bolsas dos programas que estão começando é impedir que eles cresçam. “Não se discute crescimento da universidade sem bolsas de pós-graduação, sem o investimento na pesquisa”.

O reitor da UFS explica que a pós-graduação, mestrado e doutorado, funcionam basicamente com bolsa. “Muitos dos nossos alunos são carentes, nós estamos numa sociedade bastante assimétrica. As bolsas são fundamentais até para que nossos alunos possam comer, possam dormir, para que possam estudar, para que possam permanecer na universidade”.

Hoje, mais de 70% dos alunos da UFS são egressos de escola pública. “E a universidade abre oportunidade a todos os segmentos sociais. Numa sala de Medicina, mais de 50% vieram das escolas públicas, e isso é um fator historicamente imensurável, é dar oportunidade a muitos jovens. As cotas estabeleceram essa questão”.

A UFS possui hoje mais de 30 mil alunos espalhados nos seis campi do estado e isso é fruto, lembra o reitor, do Reuni, o programa de reestruturação e expansão das universidades federais, instituído em 2007. “Nós estamos colhendo algo que foi pensado 10 ou 12 anos atrás. Os frutos bons das decisões corretas, quando abrimos concursos para os doutores, quando expandimos para o interior, quando nos alinhamos ao Reuni”.

O programa de reestruturação e uma decisão de gestão de somente contratar professor com doutorado fez com que em dez anos a UFS alcançasse um crescimento muito grande: de 200 professores doutores passou a ter 1.249, de seis programas de mestrados passou a ter 46, de um programa de doutorado passou a ter seis. A UFS tem no total 1.522 professores.

“A universidade entrou num circuito de pós-graduação e as publicações cresceram de forma significativa. Temos clareza que estamos fazendo o certo porque os resultados estão aí”, diz o reitor em tom de apelo. Aproximadamente, 90% dos alunos de mestrado e doutorado de Sergipe são da UFS.

As 17 primeiras universidades do Ranking Universitário Folha 2018 são públicas, sendo que 13 delas são federais. E mais de 90% das pesquisas científicas nacionais são produzidas pelas universidades públicas.

“Essa defesa tem que ser incondicional. Nós temos que sensibilizar nossos governantes, sensibilizar a sociedade sergipana para que essa universidade, a única universidade pública do nosso estado, continue a pensar na pesquisa para as soluções dos nossos problemas, para melhorar a qualidade de vida da nossa gente”.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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