“Data Histórica”, por Anita Rocha Paixão

Hoje, dia 24, o Brasil relembra o suicídio de Getúlio Vargas. A morte do presidente provocou revoltas populares em todo o país e Sergipe não fugiu à regra. Naquela manhã de 24 de agosto de 1954, na cidade de Aracaju, a passeata promovida pelo PTB, e que culminaria com discursos na Praça Fausto Cardoso, terminou em tragédia: Lydio Paixão, partidário da UDN, tentando apaziguar os ânimos, foi barbaramente assassinado.

 

Obras como O Chefe Invisível, de Ricardo Leite, e História Política de Sergipe, de Ariosvaldo Figueiredo, citam o fato:

 

“Despertada pelos trabalhistas, agitada pela massa, Aracaju está nas mãos da ‘multidão enfurecida’ que segue para a Praça Fausto Cardoso, faz comício, termina com a morte do getulista Lídio Paixão, o qual, em meio a tensão, pede calma e paciência.” (Ariosvaldo Figueiredo, in História Política de Sergipe).

 

Em recente tese de Mestrado em Sociologia pelo Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe, intitulada “Entre a dor e a Revolta: o Suicídio de Getúlio Vargas e os Protestos Populares em Aracaju”, Rosemary Bomfim Santos aborda o assassinato de Lydio Paixão. 

 

“A revolta dos populares se voltou contra ele, principalmente porque no seu discurso, Lídio Paixão insistiu em defender a União Democrática Nacional e Leandro Maciel, presidente da seção sergipana da UDN, afirmando que nem o partido nem o seu líder eram responsáveis pela morte do presidente.

 

O crime da multidão foi uma demonstração da sua revolta e de seu desespero. Numa ação rápida, inesperada e incontrolável, os populares calaram a única voz que naquele momento não se unia à sua, que não agia em conformidade com eles, entendendo aquela atitude como uma ofensa não só a si própria mas principalmente ao seu grande líder.”

 

Na realidade houve um terrível mal entendido que culminou com a trágica morte de Lydio Paixão. O seu único intuito, naquela manhã fatídica, era prestar homenagem ao presidente morto (admirador de Vargas, batizou de Getúlio o terceiro filho que teve com Helena Matos) e “defender a União Democrática Nacional e Leandro Maciel” (citação acima).

 

Escolheu, entretanto, o local e o momento inadequados. Segundo depoimentos, Lydio Paixão estava muito emocionado com o suicídio de Getúlio Vargas e, por conta disso, foi imprudente e se expôs – desnecessária e gratuitamente – à fúria da multidão. E assim, foi vítima da massa enlouquecida que pôs termo à vida de um homem autêntico, corajoso, digno e trabalhador.

 

No cinqüentenário de morte de Lydio Paixão está sendo lançado o site www.infonet.com.br/lydiopaixao e, até o final do ano, o livro LYDIO PAIXÃO, de minha autoria, no qual, além do relato da vida do biografado, serão citados diversos fatos históricos ocorridos em Sergipe, particularmente no Município de Aracaju, do início do Século XX até 1954.

 

Micro-perfil:

 

Lydio Antônio da Paixão, filho de Antônio Manuel da Paixão e Maria Antônia da Paixão, nasceu no Município de Laranjeiras, em 22/8/1898. Ainda muito jovem foi morar no Rio de Janeiro, onde prestou o serviço militar obrigatório e fez o curso técnico de mecânica de refrigeração.

 

Retornando ao Estado de Sergipe, casou-se com D. Marita Teles e teve cinco filhos: Leônidas, Leonor, Leonisse, Leonídia e Leone. Alguns anos mais tarde, separado de Marita, casou-se com Helena Custódio Matos e teve mais quatro filhos: Lydio, Leônidas, Getúlio e Marianita.

 

Mecânico de refrigeração bastante requisitado nos Estados de Sergipe e Bahia, montou a primeira máquina da tradicional sorveteria Cinelândia. Foi delegado da 2ª DM e dedicou-se à política, sua grande paixão, sendo excelente orador. Participou da Ação Integralista Brasileira – AIB e era partidário da União Democrática Nacional – UDN, tendo sido candidato a Deputado Estadual nas Eleições de 1947. Nos momentos de lazer, era assíduo freqüentador do Clube Cotinguiba e um dos seus melhores dançarinos.

 

Em 24 de agosto de 1954, durante as revoltas populares verificadas em Aracaju, por ocasião do suicídio de Getúlio Vargas, Lydio Paixão foi assassinado na Praça Fausto Cardoso, de forma covarde e estúpida, deixando viúva, aos 29 anos, D. Helena, e órfãos, oito filhos (o primogênito, Leônidas Teles da Paixão, faleceu anos antes, vítima de tétano). 

 

* Anita Rocha Paixão é neta de Lydio Paixão

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