Ataque de submarino alemão a Sergipe vira cordel

Xilogravuras de Cláudia Nén ilustram o livro de Chiquinho
Em 1942, o mundo vivia a tensão da guerra, mas o Brasil que tinha à frente o presidente Getúlio Vargas não decidia de que lado deveria ficar: dos EUA ou dos paises do eixo (Itália, Alemanha e Japão). Mesmo querendo manter a postura pacífica, depois de muitas negociações com os Estados Unidos, o país entra na guerra contra o grupo dos alemães.

 

“Em 28 de janeiro

O Brasil toma decisão

Com os países do eixo

Cortou sua relação

O sergipano sofreria

A grande retaliação…”

 

Apesar de ser o menor Estado da federação, naqueles tempos Sergipe iria conhecer de perto as mazelas da guerra, com o famoso fato do ataque do submarino alemão ocorrido no litoral sergipano, dizimando centenas de civis inocentes.

 

“No dia 15 de agosto

Foi grande a destruição

Foi tanta gente morrendo

Naquela ocasião

Vítimas da covardia

Do tal governo alemão…

 

Três navios brasileiros

Foram aqui torpedeados

Pelo U-507

Morreram muitos queimados

Foi morte de todo o tipo

Vários corpos mutilados…”

 

Este fato foi testemunhado de perto por muitos que viveram naquela época e guardam hoje na lembrança imagens fortes de uma tragédia.  Mas, mesmo aqueles que não viveram naquele tempo, nem nunca ouviram falar nos famosos ataques alemães que deram impulso para que o Brasil entrasse na luta, poderão conhecer detalhes do acontecido através dos versos da literatura de cordel de Chiquinho do Além Mar, que lança nesta quinta-feira, 25, às 21h, no Teimonde, seu livro ‘Mar Vermelho: Os Ataques do submarino alemão no litoral de Sergipe, em 1942’.


A polêmica

 

Francisco Passos Santos, que usa o pseudônimo de Chiquinho do Além Mar, levou dois anos entre pesquisa e elaboração deste seu mais recente trabalho de cordel. Para escrever este livro consultou diversos pesquisadores e pessoas que viveram na época da tragédia, entre eles Luiz Antonio Barreto, Luiz Antonio Pires, Zé Peixe, Caboclinho e Dona Almira.

 

Chiquinho do Além Mar:”Enquanto cordelista e pesquisador aprendi a acreditar no que está escrito”
Apesar de pouco conhecido entre os mais jovens, o torpedeamento dos navios Baependi, Araraquara e Aníbal Benévolo, que transportavam passageiros pelo litoral nordestino, gera polêmicas. Há quem defenda que o ataque partiu dos EUA para forçar a entrada do Brasil na guerra e pelo fato de Getúlio Vargas ser simpatizante de Hitler. No entanto, a história revela que na época do atentado o país já estava aliado aos Estados Unidos. “Enquanto cordelista e pesquisador aprendi a acreditar no que está escrito. Não adianta dizer que foram os americanos se os livros de história dizem que foram os alemães. Contra fatos não há argumentos”, declara Chiquinho.

 

Ele conta que um padre alemão, ao receber seu livro há poucos dias, desfez de seu trabalho e foi grosso, pelo simples fato de não acreditar que foram os alemães. “Ele na qualidade de alemão não aceitou e falou que meu trabalho era mentira, que eu era mentiroso, e que não iria comprar nem prestigiar meu livro”.

 

O autor

 

Chiquinho, além de cordelista, professor de inglês e jogador de futevôlei
Chiquinho é professor de inglês e jogador profissional de futevôlei, ele escreve poesia desde pequeno, mas só a partir de 2003 conheceu as regras do cordel com Gilmar Santana, e aprendeu que, além da rima, o cordel exigia domínio de métrica, estrutura e dos diversos tipos de rimas, que existem para tornar o trabalho mais rico.

Depois dessa aproximação com as regras surgiu ‘A Mulher Interesseira – Uma Aberração da Natureza’; ‘O Resgate do Titã’; ‘O Boa Vida’; ‘Cantos e Encantos de Aracaju’, um guia turístico em forma de cordel. Depois disso ele partiu para as temáticas históricas, que iniciaram com a história de João Bebe Água, seguido de um trabalho sobre o aniversário do Sesc.

 

Avesso a temáticas recorrentes nos cordéis, como o sertão, o amor não correspondido, ficção, humor satírico, religião, entre outros, Chiquinho revela que a vertente histórica é a que mais lhe agrada. “Você jamais vai me ver dissertar sobre o cangaço, por exemplo, ou sobre temáticas já batidas. Eu procuro sempre trabalhar uma temática que ainda não foi explorada”, explica. “O tema de ficção atinge só os amantes da literatura de cordel” completa.

 

Essa é também uma maneira de atingir um público que não costuma ler cordel, como os estudantes secundaristas, que para conhecer o história do ataque terão que consultar o livro de Chiquinho. “Falar de um tema como esse em versos torna o trabalho mais acessível para as crianças e jovens aprenderem sobre a história. É uma maneira boa de falar de um fato tão importante, que a gente não encontra nos livros didáticos”, explica o cordelista, que já foi convidado para proferir palestra sobre o ataque.

 

Apesar de certo reconhecimento já adquirido no meio literário, o cordelista revela que ainda é muito difícil conseguir apoio para publicar aqui em Sergipe. “A gente sabe que se não fizermos um trabalho que atinja a todos os lares a gente não vai ter retorno, porque a cultura popular é tão desvalorizada, a gente recebe tão pouco apoio que alguns até param de escrever. É desestimulante a falta de patrocínio, a falta de apoio”, declara Chiquinho.

Quem quiser conferir o trabalho de Chiquinho do Além Mar poderá adquirir ‘Mar Vermelho’ (R$10) e seus trabalhos anteriores nas livrarias Escariz e Poyeses. Hoje, 25, às 21h, acontece o lançamento no Teimonde, com a banda The Ladys e sarau com declamações de poesias e leituras de cordel.

Por Carla Sousa

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