Jorge Ducci e a Sulanca

Nasci em Penedo, tenho 40 anos, cheguei em Aracaju em 76 com meu pai e meus dez irmãos e comecei cantando num programa de calouros na TV Atalaia, de Nazaré Carvalho e Reinaldo Moura. Quem me iniciou cantando foi Barrinhos, inclusive ele foi a primeira pessoa a apostar em mim, quando fiz um teste para me apresentar como calouro num programa e ele achou que eu deveria me apresentar como convidado. Isso já me deu ânimo para querer prosseguir na carreira. Depois toquei em várias bandas e aí foi quando eu fui tocar na noite, cantei na Palhoça (no Siqueira), no Chopana, no Paredão, então comecei a tocar flauta, depois violão, bateria e outros. Na verdade não sou um instrumentista mas, me viro em vários instrumentos. Sempre Pioneiro Fiz algumas coisas pioneiras na minha vida, fui a primeira pessoa a produzir um disco em Sergipe, fui o primeiro a fazer um gingle aqui, fui o primeiro a gravar um disco de axé (na época que eu fazia popular) todo no computador, isso já antes dessa coisa tecno que está aí, fui o primeiro a cantar faucete no Estado e acho que o trabalho da Sulanca também é pioneiro. Fabricando Instrumentos A última novidade é que estou fabricando instrumentos folclóricos, de forma artesanal, o que requer muito cuidado; no início eu fabricava para uso da banda e agora estou começando a vender para outras pessoas. São instrumentos de alta qualidade, com um visual próprio e que são utilizados dentro das manifestações folclóricas em Sergipe. O Início da Sulanca Tudo começou a partir de 94 quando eu saí para pesquisar música e folclore sergipano; bacamarteiros, reisado, cacumbi, chegança … quase todos, e trazer para o studio para elaborar todo um processo de fusão dos ritmos do folclore sergipano e nordestino, a partir daí, compus todas as músicas e em 97 fiz o primeiro disco, que é um disco experimental. Na época ainda não existia a banda, era muito complicado porque as pessoas não conseguiam entender o que eu tinha em mente e qual era a minha proposta, então, além das pesquisas, e das composições, fiz cada peça das roupas, os chapéus, o estandarte. A Formação da Banda Quando estava tudo pronto, parti para a montagem da banda. Fiz uma seleção entre vários músicos. A proposta era diferente, por exemplo, eu precisava de pelo menos dois bateristas tocando tambores grandes e da forma que deveriam ser tocados, teriam que ser por bateristas e não por percussionistas, no entanto esses bateristas também precisariam ser um pouco percussionistas, não foi fácil, experimentei pelo menos nove bateristas. Coloquei dois percussionistas nos tambores menores e Pedrinho, que é mais um percussionista, na caixa, para complementar, trouxe Borg para fazer a percussão. Foi formada assim, fui fazendo laboratório até chegar na formação atual. Além disso queria pessoas equilibradas, com objetivos definidos, com um pouco de formação cultural e que soubessem ler música. Prata da Casa Ainda em 97 foi formada a banda e fizemos o nosso primeiro show no Prata da Casa, que já foi visto como um trabalho que tinha conteúdo e elaboração. E aí começou … O Nome O primeiro nome da banda foi Trupe de Trapo, mas aí começaram a surgir diversas bandas de forró, melhor dizendo, carimbó, que tinham nomes como Mastruz com Leite, Mel com Terra, etc., então resolvemos mudar. Surgiu então o nome SULANCA, que é uma feira que vende de tudo o que acredito ter muito a ver com a nossa proposta de fazer uma mistura de ritmos. A Proposta da Sulanca É cantar a nossa aldeia, pegar os elementos do folclore sergipano e fazer fusões entre eles, misturar ritmos e trazer o pop via guitarra, só que a guitarra fraseia a viola. E o Rock Algumas pessoas por ouvirem a guitarra distorcida, acham que queremos fazer rock, o que é um equívoco, não tenho nada a ver com o rock, a minha formação é popular mesmo, apenas introduzi a guitarra no trabalho da Sulanca mas sem a mínima intenção de fazer rock. Na verdade a idéia é usar uma linguagem mais universal e consequentemente universalizar a proposta. Influência dos Movimentos Musicais de Pernambuco Teve muito a ver, eu passei quase seis anos andando por Recife e na verdade houve uma inspiração, não nos elementos introduzidos no trabalho do Mangue Beat, mas sim na formatação da idéia. O que eles fizeram com o Maracatu, nós estamos fazendo com o Reisado, Bacarmateiros, Lariô, Chegança, com as coisas da gente. O que há em comum é a formatação, a coisa de trabalhar o elemento folclórico só que com a cara da gente, com as cores da gente, desde a roupa ao estandarte; o som que a gente faz, a batida que a gente faz, não tem nada a ver com o Mangue Beat, o cruzamento de ritmos que a gente faz é puramente folclórico, eles já fazem cruzamento com hip hop, com dance, com funk, nós não introduzimos nenhum elemento rítmico que não seja do folclore sergipano dentro do trabalho da Sulanca. Origem na Música Popular Antes da Sulanca eu fazia muito trio elétrico e quando resolvi desenvolver esse trabalho, foi uma atitude muito solitária, e uma opção que me custou um sacrifício financeiro muito grande porque eu tive que largar toda essa minha carreira que vem da música popular, que trabalha a massa e tem um retorno econômico mais imediato. O Público Sulanca ainda tem um público muito restrito o que se deve muito ao fato das pessoas em Sergipe ainda não entenderem o que a gente quer imprimir, a linguagem; nós temos uma música muito centrada em temas sociais e infelizmente só uma minoria mais antenada é que está entendendo o que estamos querendo colocar. A maioria ainda se assusta com o som que a gente faz. Forró Caju Fizemos um show no Forró Caju e a platéia, de um lado, estava adorando mas, tinha um outro lado que não estava entendendo nada do que estávamos querendo colocar. A gente até falando por eles, questionando coisas que interferem na vida deles. É difícil. O Governo O governo está completamente alheio a tudo e infelizmente dentro do governo não existem cabeças pensantes. Obrigatoriamente eles teriam que abraçar a proposta porque Sergipe precisa mais que nunca de um artista na mídia nacional porque só assim a gente poderá falar das coisas da gente e eu acho que Sulanca seria uma representação legítima pelo fato de trabalharmos as coisas de Sergipe, e na hora que Sulanca botasse a cara na mídia nacional, estaria falando da cultura sergipana, do folclore sergipano, da arte sergipana, de tudo, das praias, do potencial turístico que a gente tem. É assim que faz a Bahia, Pernambuco, Maranhão, com Zeca Balero, Paraíba e outros. Projeto Para Cultura Sergipe precisa de um projeto para cultura, precisa traçar diretrizes e implementar uma política cultural séria, o problema é que os homens que cuidam da cultura aqui, não têm uma visam mais globalizada, são puramente políticos e pior, acham que cultura não dá voto. Eles não conseguem enxergar a cultura como uma saída viável para o Estado. Leis de Incentivo Nós temos a Lei de Incentivo Municipal, controlada pela FUNCAJU, que simplesmente não anda, temos ainda uma Lei de Incentivo Estadual que graças ao Sr. Albano Franco está esquecida. Tudo por questões políticas, porque eles acreditam que cultura quando dá voto, é para a oposição. De fato, quanto mais você se esclarece, a tendência é se posicionar de maneira contrária aos interesses das elites. Eles querem o povo burro e com fome porque fica mais fácil trocar o voto por um prato de comida. Agora no dia que Sulanca fizer sucesso e estourar, o que sem dúvida vai acontecer, eles vêm querer pegar uma carona e pedir “Falem da gente”. As Empresas No geral elas também não investem em cultura, nós conseguimos fazer o Pré-Caju graças ao patrocínio do Shopping Jardins, confesso que até me assustei, foi genial, eles compraram a idéia e através deles e de Jorge Carvalho, que é uma pessoa ligada a Luiz Antônio Barreto que era o único nesse governo que ainda tinha uma preocupação séria e apoiava cultura, que botamos o trio na avenida. Fabiano e ASBT Fabiano e o pessoal da ASBT não têm na verdade um compromisso com a cultura Sergipana, eu não tiro a razão deles porque o Pré-Caju é um evento empresarial. Agora, Fabiano hoje é um deputado, é uma pessoa que tem um mandato e é um representante do povo, não interessa a classe social desse povo, obrigatoriamente ele teria que abraçar o Estado e as causas sociais desse povo. Eu não vejo isso da parte dele. ASBT no Pré-Caju só entra com a licença, quando no projeto que foi enviado para a Lei do Ministério da Cultura, eles dizem que dão incentivo à cultura sergipana, o que não é verdade, quem foi, foi por conta própria, nós, Amorosa, Quilombo… Mudar a Cara da Festa Gradualmente nós podemos transformar essa festa numa coisa nossa, esse ano já foi legal, Sergipe já compareceu, tivemos Barco de Fogo, Bacamarteiros, Sulanca, Amorosa, Quilombo e se a cada ano, mais pessoas levarem o elemento cultural para a avenida, teremos uma festa com a nossa cara e não será mais necessário importar artistas a um preço tão alto. Assim começou o carnaval da Bahia e a festa de Parintins, que é grandiosa. Projetos Estamos indo fazer o Bem Brasil, em agosto ou setembro desse ano, depois faremos um show em São Paulo, dois no Rio e talvez Belo Horizonte e estamos gravando o CD que ainda não tem previsão de lançamento por falta de recursos. Estamos com um projeto na FUNCAJU, que não anda, e estamos aguardando. Estou planejando também uma exposição com todas as peças que estou fabricando, inclusive roupas e instrumentos.

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