“Não precisamos de linchamentos morais”, diz Déda em entrevista

“Todos os dirigentes envolvidos nas denúncias estão sendo investigados pela CPI, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Não me cabe condenar nem absolver ninguém aprioristicamente”. O comentário é do  prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT), que defende a investigação de todas as denúncias sobre pessoas envolvidas no caso de corrupção nos Correios e no pagamento e recebimento do mensalão. Ele garante que não paga mensalão aos vereadores da base aliada e avalia o desgaste do Partido dos trabalhadores e faze indagações sobre supostas pesquisas que estariam circulando nas mãos de políticos que atuam na oposição ao PT.

As investigações do mensalão e da corrupção nos Correios devem ir até as últimas conseqüências?
MARCELO DÉDA –
O país está testemunhando uma crise política que envolve denúncias gravíssimas. O nosso papel enquanto militantes políticos, lideranças partidárias e homens públicos é o de apoiar as investigações e manifestar nossa conviccção que nenhuma denúncia de corrupção – venha de onde vier – poderá deixar de ser investigada. Se existem acusados vinculados ao PT, é nosso dever exigir uma investigação profunda e isenta. O papel das instituições não pode ser tolhido. A crise, por mais grave que seja, não pode ser maior que o país e suas instituições democráticas. O presidente Lula tem dado o exemplo ao colocar todos os instrumentos de investigação do governo federal à disposição das CPIs. Estamos vendo a Polícia Federal e a Corregedoria agindo de forma firme e independente. No Congresso a CPI tem funcionado com total liberdade e o Ministério Público tem cumprido seu papel institucional sem qualquer problema. As investigações devem ir até o fim oferecendo provas consistentes que permitam condenar os culpados e inocentar os que estejam sendo injustamente acusados.

Há quem diga que tudo está pronto para terminar em pizza. O senhor acredita nisso?
MD –
Não acredito. Como eu disse antes, as instituições estão funcionando e as investigações estão ocorrendo sem intervenções indevidas. Além disso, a opinião pública tem acompanhado todo o processo. Agora, a sociedade também deve estar atenta às tentativas de transformar a CPI num espetáculo de promoção pessoal de alguns políticos. Não podemos confundir a investigação séria que a nação exige com o oportunismo de alguns que tentam transformar as CPIs em instrumentos de perseguição política e de destruição dos adversários. Quem errou vai ter que pagar, mas para isso não precisamos de linchamentos morais nem de uma onda de macarthismo, de caça às bruxas. A melhor garantia que a sociedade pode ter de que não vai haver pizzas é exigir responsabilidade e decoro dos investigadores.

O PT foi duramente atingido. O que será feito para a recuperação do partido?
MD –
Não tenho dúvida de que o PT está passando pelo momento mais difícil da sua história. Ao longo dos últimos 25 anos nós construímos uma referência ética que produziu um patrimônio político extraordinário. As acusações sem dúvida ameaçam esse patrimônio, mas nós,os petistas, não podemos permitir que possíveis equívocos e erros graves cometidos por dirigentes destruam uma obra coletiva que foi fundamental para a redemocratização do Brasil e para a civilização da disputa política em nosso país, oferecendo às classes trabalhadora e aos excluídos um instrumento inédito de inserção na vida pública e de incorporação das lutas sociais na agenda republicana. Destruir o PT é simplesmente retirar o interlocutor mais representativo e qualificado das classes populares e isso seria uma tragédia para o Brasil. Olhe em volta na América Latina e veja o saldo de crise social e política, de guerra civil, desgoverno e deslegitimação do sistema representativo produzido em países como o Equador e a Colômbia, por exemplo. Essa simples reflexão demonstra o papel que o PT tem cumprido na construção da democracia no Brasil e na luta para que dentro da legalidade democrática possamos ter o fim da exclusão, pressuposto para que tenhamos de fato uma democracia social em nosso país. Creio que a mudança da direção nacional, com a chegada de Tarso Genro e dos novos dirigentes, é um passo importante na recuperação da imagem do partido. Precisaremos dar um choque de transparência no PT, repactuar a nossa convivência, enfrentar e destruir esse sistema fratricida de luta de tendências, dar mais autonomia ao partido face ao governo e vice-versa, auditar nossa contabilidade e divulgar sem medo, inclusive os erros que foram cometidos. Se houve irregularidades, o PT deve ter a coragem de assumir, regularizar e pedir desculpas ao povo brasileiro e à nossa militância, afastando os responsáveis.


As denúncias envolvendo o PT colocam a agremiação na mesma condição que as outras que os petistas sempre falavam mal?
MD –
O maior erro que se pode cometer em política é achar que todos são iguais. As diferenças são fundamentais para que o eleitor possa qualificar sua escolha. É claro e até natural que os nossos adversários aproveitem essa crise para tentar nos desconstituir enquanto referência e desagregar nossa base social e nossos eleitores, mas chega a ser vergonhosa a alegria de alguns partidos da elite que comemoram o erro alheio pensando que isso justifica as suas trajetórias de erros. É como se quisessem socializar a lama, pensando que sujando os outros ficam mais limpos. Nós, infelizmente, cometemos equívocos que estão nos custando muito, mas temos energia, história e projeto para nos reerguer. Creio que nos reconstruiremos com mais humildade, com menos arrogância, com mais tolerância. Não repetiremos o erro de reivindicar o monopólio das boas intenções e da ética, vigiando os outros e esquecendo de cobrar atitudes dentro de casa. Como nos ensinava Agostinho Neto, poeta e primeiro presidente da República Popular de Angola, “não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça estejam em nós.”


O senhor acredita que Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoíno são inocentes e que, por conseguinte, as denúncias contra eles são infundadas?
MD –
Todos os dirigentes envolvidos nas denúncias estão sendo investigados pela CPI, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Não me cabe condenar nem absolver ninguém aprioristicamente.


Há reflexo das denúncias na popularidade do senhor? Fala-se em pesquisas em que o seu nome aparece com uma perda de 9%.
MD –
Não acredito nesses reflexos. As pessoas são bastante inteligentes para separar as coisas. O PT tem mais de 800 mil filiados, querer que todos respondam pelo erro de alguns é absurdo e totalitário. Quanto às pesquisas não ponho minha vida a reboque delas, mas gostaria de levantar uma questão que eu acho interessante para os leitores e para toda a opinião pública: se eu caí 9 pontos e o governador cresceu não sei quantos, porque não mostram as pesquisas? Afinal, quantos pontos eu tinha antes? E hoje estou com quanto? Quais eram os números do Dr. João, antes e agora? Enfim, porque não mostram toda a pesquisa para o povo julgar? É um verdadeiro mistério: eles divulgam uma pretensa queda mas escondem os números totais das pesquisas. Como se vê é um argumento com um certo déficit de credibilidade…

O deputado federal João Fontes (PDT) tem dito no rádio que soube que o nome do senhor está na agenda de Waldomiro Diniz, o ex-assessor da Casa Civil, acusado de tráfico de influência, entre outras coisas. O senhor tem conhecimento disso?
MD –
Não. Mas, não vejo problema nenhum. O Waldomiro trabalhou um ano na Casa Civil e coordenava a ação parlamentar do governo, deve ter o nome de dezenas de deputados, governadores, prefeitos e isso não significa nenhuma vinculação com tráfico de influência ou com as acusações que ele responde. O que eu acho é que as pessoas devem ser responsáveis e maduras quando lidam com a honra alheia. Forçar uma inclusão do meu nome nesta crise é uma tentativa de fraude política e revela uma total falta de ética e compromisso com a verdade. Defender a moral pública com calúnias é ético? Na verdade há uma tentativa de usar a crise para me isolar, me paralisar. Eu quero deixar claro que não me intimidarei. Continuarei governando a cidade, trabalhando, entregando obras e serviços, cumprindo, enfim, as metas da nossa administração. Pode ficar certo que não mudei em nada a minha disposição de, na hora adequada e no momento certo, discutir com a sociedade, com meus companheiros e aliados o meu papel na sucessão estadual. Em matéria de ética o PFL e seus aliados não tem currículo prá dar lição a ninguém.


A administração do senhor paga mensalão aos vereadores de Aracaju (bancada aliada)?
MD –
É claro que não! Considero essa pergunta ofensiva a minha pessoa e aos vereadores da bancada governista na Câmara. Todos foram eleitos no mesmo palanque que eu, na mesma coligação que me elegeu, com o mesmo programa e as mesmas propostas. Sempre estaremos dispostos a ter ao nosso lado qualquer parlamentar que queira apoiar o nosso trabalho pelo povo de Aracaju.Não somos maioria, logo receberemos com alegria qualquer apoio, desde que seja em bases éticas e republicanas. Mandato não tem preço e eu sei respeitar o povo!

 

Por Eugênio Nascimento

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