“Perspectivas da economia sergipana”, por Nilton Pedro da Silva*

A economia sergipana, a partir de 2005, de acordo com a ação dos seus governantes e do curso dos movimentos sociais poderá apresentar inflexão positivamente importante na sua trajetória evolutiva. Os poderes quase imperiais que os recentes arranjos político-institucionais têm sido concedidos aos seus dirigentes políticos permitem associar grande parte do seu desempenho econômico aos humores, sonhos e caprichos, muitas vezes incontroláveis, do governante de plantão. Os movimentos sociais, organizados dentro da lei, por outro lado, podem coibir possíveis práticas deletérias dos dirigentes e de setores da própria sociedade, indicando caminhos para o equacionamento e solução de problemas emergentes, como no caso da mobilização que se tem realizado para a revitalização do Rio Sergipe.

Os acontecimentos deste início de milênio têm sinalizado a necessidade, cada vez maior, das áreas atrasadas do planeta dedicarem-se à tarefa de capacitar suas populações para enfrentar a marcha da Terceira Revolução Científico-Tecnológica, que impôs novos e desafiadores paradigmas às formações econômicas, mormente àquelas marcadas pelo signo da condição periférica.

O Nordeste, periferia da periferia mundial, onde se encontra o nosso estado de Sergipe, não escapa da situação antes assinalada, não podendo prescindir, portanto, de cuidados especiais dedicados à educação, a ciência, a tecnologia e a inovação, para poder romper sua condição de atraso e inaugurar um ciclo virtuoso de evolução socioeconômica. Somente a educação de boa qualidade, em todos os níveis, poderá candidatar-nos a participar do desenvolvimento da sociedade do conhecimento, da qual as nações mais ricas já se vêm beneficiando enormemente.

No caso de Sergipe, pequena economia, justaposta à Bahia – que registra algo próximo de dois quintos do PIB nordestino -, da qual recebe influências importantes para o seu desenvolvimento, as perspectivas para 2005 e dos anos proximamente seguintes dependem tanto do comportamento de seus dirigentes e sociedade como também do desempenho da economia nordestina, que por sua vez estará parcialmente condicionada à evolução econômica do país e do mundo.

Nas circunstâncias antes apontadas, afiguram-se como cruciais para o desenvolvimento do estado de Sergipe, as ações que possam vir a ser desencadeadas localmente e aquelas a serem realizadas no Nordeste e no país como um todo. Assim, até obras como a da construção da ponte ligando Aracaju à Barra dos Coqueiros, de discutível prioridade, face às miríades de outras carências da sociedade sergipana, devem, pela sua dimensão econômica, apresentar repercussões positivas no nível de emprego e na própria dinâmica da economia estadual.

Outras medidas, entretanto, caso venham a ser adotadas pelos governantes, além de repercutirem positivamente na economia, poderão propiciar melhor qualidade de vida aos sergipanos, como a melhoria e ampliação do sistema de esgotamento sanitário de Aracaju e a implantação de sistemas semelhantes nos principais municípios sergipanos, bem como a coleta, deposição e tratamento do lixo de todos os municípios do estado.

Mas, existem outras obras que estão aí para serem realizadas e que poderão propiciar maior dimensão à economia sergipana. Referimo-nos à recuperação da rodovia para Canindé de São Francisco, onde está localizado o maior pólo turístico do interior do estado, com o Lago e a Hidrelétrica, e o Museu Arqueológico de Xingo, que tem atraído visitantes de todo o país e do exterior, bem como à despoluição e revitalização do Rio Sergipe, que poderá servir de fator de agregação dos poderes públicos municipais e estaduais e de mobilização efetiva da sociedade civil sergipana.

Por outro lado, para que Sergipe apresente desempenho satisfatório da sua economia, a partir de 2005, torna-se necessário, ademais do dispêndio racional de suas próprias energias – através da sociedade, dos empresários e dos governos estadual e municipais -, da conjugação de esforços na realização de ações do governo da União. Assim, a urge que se realizem obras de infra-estrutura indispensáveis ao crescimento econômico, como o reinício da obra de duplicação da BR 101 em Sergipe e renovação e modernização da malha ferroviária do estado, integrando-a à malha rodoviária do Nordeste e do país.

No plano institucional, a aprovação da Lei de Falências, da Lei de Inovação e da Lei das Parcerias Público-Privadas poderá oferecer algumas das condições para o estabelecimento dos marcos regulatórios adequados ao crescimento da economia nacional e, por conseqüência, da economia do estado de Sergipe.

Entretanto, a sustentabilidade da economia e o fortalecimento da democracia política somente poderão ser alcançados através de investimentos na educação e na ampliação da infra-estrutura de ciência, tecnologia e inovação. Neste sentido, o governo municipal de Aracaju e o governo estadual de Sergipe deram passos em direções contrárias. O primeiro ao iniciar a implantação da Casa da Ciência e Tecnologia – CCTECA, no Parque Augusto Franco sinaliza para a sociedade sergipana, em Aracaju, a importância que a ciência e a tecnologia representam para o desenvolvimento sustentável. Já o governo do estado, ao extinguir a Fundação de Amparo à Pesquisa de Sergipe – FAP-SE, parece caminhar na contramão dos movimentos científicos nacionais, pois retira a autonomia de uma entidade que se consolidava celeremente, comprometendo a efetividade da função ciência e tecnologia em nosso estado. A alvissareira criação do Parque Tecnológico de Sergipe – SergipeTec e a virtual extinção da FAP-SE parecem indicar, pela contradição explícita das ações, a carência de racionalidade sistêmica dos responsáveis pelas contraditórias decisões.

Mas, a Universidade Federal de Sergipe que, como já se disse, representa o mais importante projeto coletivo jamais implantado em terras sergipanas, faz ressurgir as esperanças de todos que em Sergipe acreditam na proeminência do conhecimento sobre a ignorância, do saber sobre a estupidez, do sonho sobre a descrença. Pois é, existe um movimento interno, iniciado a pouco menos de uma década, que se está irradiando por toda a sociedade sergipana, no sentido de mobilizar meios e vontades para a expansão do nosso maior centro de produção e disseminação de conhecimento. A ampliação dos grupos de pesquisa, que têm crescido extraordinariamente nos últimos anos, a criação de novos cursos de graduação e de pós-graduação, bem como a expansão da extensão universitária e do Pólo de Novas Tecnologias deverão conferir à UFS, juntamente com outras instituições locais de ensino, as condições de contribuir de maneira mais efetiva para o desenvolvimento socioeconômico de Sergipe, do Nordeste e quiçá do próprio país, através do intercâmbio científico e tecnológico com centros de conhecimento mais avançados nacionais e internacionais, pois somente com o domínio do conhecimento científico-tecnológico e da inovação poderemos aspirar a sustentabilidade do evolução do povo sergipano.

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* Nilton Pedro da Silva, doutor em economia e advogado, é diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e conselheiro titular do Conselho Federal de Economia (COFECON).

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