Teste vocacional funciona? Quem responde é a psicóloga Nairete Correia

Nairete Correia
Direito ou veterinária? Jornalismo ou odontologia? Os vestibulandos estão, cada vez mais cedo, tendo que fazer a escolha da carreira que irão seguir. Porém, essas escolhas estão muitas vezes equivocadas, baseadas na pressão familiar ou dos amigos. A melhor saída para esta situação é a orientação vocacional, apontam os psicólogos. Para entender um pouco sobre o assunto e para tirar dúvidas sobre o que é e como funciona o teste vocacional o Portal Infonet conversou com a profissional Nairete Correia.

 

Portal Infonet – Como é feito o teste vocacional?

Nairete Correia – O teste vocacional não é um diagnóstico, é um processo que serve para orientar o adolescente ou o adulto que está em conflito com a sua escolha. A vocação já está dentro do indivíduo; o que nós psicólogos fazemos é, com a orientação, fazer com que a pessoa encontre a sua direção. Normalmente eles têm já uma idéia, uma vontade, e o que muda esse conceito é o ambiente, as influências, as opiniões, as satisfações que se tem que dar à sociedade ou à família. Isso fica muito conflitante com as necessidades do próprio indivíduo, ele acaba perdendo a orientação que tinha. Para reencontrar essa orientação fazemos todo um processo de entrevistas, de aplicação de instrumentos próprios dos psicólogos que irão avaliar os níveis de interesse vocacional do indivíduo e descobrir realmente qual é o interesse do indivíduo por cada profissão e área de uma maneira geral.

 

Infonet – O teste é 100% confiável?

NC – Eu acho que nada é 100% confiável. O teste é um instrumento de ajuda. Tem adolescentes que vem para cá para fazer orientação vocacional porque eles realmente estão muito perdidos diante da grande oferta de possibilidades que existem. O mercado hoje tem muitas áreas de atuação profissional, e aí eles ficam confusos quanto a salário, qual o retorno que se quer ter em termos de realização pessoal, realização financeira, reconhecimento público, social, tudo isso. São muitos os fatores que irão influenciar nesse processo, e na orientação vocacional nós estaremos abordando todos esses assuntos. Tem entrevistas, tem momentos em que eles irão pesquisar os mercados com a nossa orientação e vão estar buscando profissionais que já atuam nas áreas de seus interesses para poder ir definindo se realmente ele quer fazer aquilo como profissão para o seu dia-a-dia.

 

Infonet – O que tem que ser levado em conta no momento de um teste como esse?

NC – A idade do adolescente. Existem instrumentos que irão medir a maturidade para a escolha profissional, que é o primeiro instrumento que é utilizado depois da entrevista inicial. Daí a gente considera o nível sócio-econômico do indivíduo, porque a gente vai considerar o meio onde ele se desenvolveu, onde ele viveu, as relações sociais que ele tem, a escola onde ele estuda, e todas as informações que ele já tem a respeito de mercado, de profissões e atuações profissionais.

 

Infonet – Qual o perfil das pessoas que procuram fazer o teste?

NC – O perfil é normalmente adolescente. A gente lida mais com adolescentes que estão obrigados a definir a sua área por conta da exigência da escola, pois as escolas estão exigindo que os meninos se decidam a partir do 1º ano por conta do vestibular seriado, por conta do acúmulo de pontos, por conta das faixas que eles têm que pôr nas ruas. Enfim, eles querem saber quais as áreas de interesse dos alunos para direcionar esses alunos de acordo com o potencial cognitivo que eles têm, com o desempenho escolar que eles tem. Então se o menino é muito bom em matemática, na área de exatas, eles querem direcionar para medicina. Existem outros cursos tão maravilhosos quanto a medicina, tão necessários quanto a medicina, que dá tanto retorno quanto a medicina, e que não necessariamente tem que ser medicina. Os professores não estão considerando isso. Acho que os educadores, os donos de escolas, eles estão muito preocupados em constar o que sua escola tem no mercado, aí eles procuram investir naqueles alunos que tem o melhor desempenho. E aqueles que não tem o desempenho tão bom, que às vezes precisam só de estímulo, de reconhecimento, que precisam ser “puxados” um pouquinho para frente, esses eles não puxam, eles deixam ficar para trás.

 

Infonet – A senhora já atendeu um caso de algum adulto que decidiu parar tudo e recomeçar outro curso?

NC – Já atendi muitos casos de pessoas que já tem uma profissão, que não estão felizes fazendo aquilo e que querem mudar de profissão. Nesses casos, a gente tem que ter todo um cuidado porque é uma mudança muito mais significativa. A pessoa já tem uma profissão, sobrevive daquilo, mas não é feliz fazendo aquilo. Atualmente, a pessoa parar tudo que está fazendo para recomeçar exige que ela tenha um patamar, uma segurança financeira econômica que permita largar tudo que está fazendo, recomeçando a fazer um outro curso que só vai um retorno daqui a um tempo. Então existem muitos alunos que entram na universidade, que estão cursando e que estão procurando fazer um outro vestibular porque não era aquela a escolha que queriam, que foi uma escolha direcionada por família, por amigos, pela escola.

 

Infonet – Todo jovem deveria fazer o teste vocacional?

NC – Todo jovem eu acho muito amplo. Acredito que todo jovem que tenha dificuldade no seu processo de escolha deve procurar uma ajuda profissional. Existe um serviço de orientação na escola, mas não é um serviço específico, não é direcionado. É um serviço abrangente, que atende vários casos, situações diversas dentro da escola. O ideal é que ele busque realmente um profissional adequado e capacitado para que ele possa receber essa ajuda e se sentir realmente orientado.

 

Infonet – Qual a diferença de atitude de quem faz o teste para quem não faz o teste?

NC – Quem não faz o teste e que tem dúvidas, conflitos, provavelmente vai ser uma pessoa que vai ficar boiando na universidade, perdendo matérias, tentando mudar de curso, passando muito mais tempo consumindo dinheiro. Aquele que faz o teste já vai orientado, sabendo o que quer. Um outro fator é que a pessoa que sabe o que quer direciona seu estudo para aquelas disciplinas que tem maior peso em sua área de interesse, então ele tem muito mais possibilidade de se sair vencedor do que uma pessoa que vai sem direção nenhuma, que vai escolher a área de atuação na hora da inscrição. Se ele sabe isso, ele teve um, dois ou três anos para se preparar e direcionar seu estudo para aquela área específica, que é a área que tem maior peso no vestibular. Lamento muito aquele que não tem essa possibilidade, fico com muita pena de ver um menino muito inteligente, que sabe muito de muita coisa, mas não direcionou – às vezes a área que ele mais precisava é a área que ele tinha um pouco de dificuldade. Ele não conseguiu vencer porque não sabia disso.

 

Infonet – Fazer o teste evita escolhas erradas de profissão?

NC – Evita. O teste é exatamente para isso, para evitar que se escolha algo que não seja adequado. Existem pessoas que fazem a escolha correta naquele momento e que mais tarde passam a ter outros interesses. O ser humano é dinâmico, então o nosso psiquismo vai fluindo, nós vamos tendo necessidades diferentes ao longo da nossa vida. Por exemplo, eu conheço pessoas que tornaram-se advogados há muito tempo e vivem sonhando em largar a profissão para plantar legumes ou plantar flores. Então eu acho que chega um momento na vida da gente que a gente cansa de exercer aquela profissão, tem hora que você quer largar e quer fazer uma outra coisa que vai te dar mais satisfação naquele novo momento da sua vida.

 

Infonet – Quais as dicas que a senhora dá para um vestibulando escolher bem o seu curso?

NC – Ele tem que respeitar o seu desempenho cognitivo, ele tem que saber no que ele é bom no colégio, quais as matérias que ele gosta mais, quais ele tem melhores notas, quais ele tem mais facilidade de aprender. Respeitar também a sua aptidão: ele tem interesse por quê? Por música? Por informática? Por matemática? Por mecânica? Qual o melhor raciocínio que ele tem, o espacial? Aí sim, ele vai para a área de artes, de arquitetura. Ele é uma pessoa mais fechada, mais introspectiva, ele vai se sentir melhor numa profissão onde ele não tenha que lidar com pessoas, com o público? Ele tem que respeitar sua personalidade, seus interesses e o seu desempenho escolar, são três pilares que irão direcionar ou sedimentar a escolha profissional.

 

Infonet – Esses testes que vem em revistas ou na internet têm algum resultado?

NC – É diferente pegar um teste da internet e responder sozinho, sem ter ninguém para orientar do que responder um teste onde vai ter profissional tirando dúvidas, explicando o que está se fazendo, procurando clarificar aquilo que não é tão explícito. Os testes que aparecem nas revistas existem na psicologia mas foram modificados, eles não são colocados na íntegra porque existe uma jurisdição em cima disso, uma legislação que proíbe essa divulgação. Eles fazem recortes e vão colocando as coisas soltas. Um teste de psicologia é feito com pesquisas, o resultado das mostras são validadas, tem toda uma estatística que vai comprovar, cruzamentos de resultados, então é uma coisa fidedigna. Um teste que você pega num jornal ou numa revista tem suas falhas, e promove no indivíduo um certo engano. Mas claro, todo adolescente adora abrir o jornal ou revista e descobrir “você tem propensão para esta área”. Às vezes até realmente tem, é uma coincidência, mas às vezes não e ele fica mais perdido ainda.

 

Infonet – Qual psicólogo procurar nesse momento?

NC – A psicologia já avançou muito, nós temos muitos profissionais aqui em Aracaju. Então veja se esse psicólogo está habilitado, se ele tem conhecimento da área de orientação vocacional, e vá procurar ajuda.  Eu acredito que toda pessoa, num momento ou outro, precise de ajuda, seja em psicoterapia, numa orientação profissional. Mas nós estamos aqui para isso, nós somos profissionais de ajuda.


Por Herbert Aragão e Carla Sousa

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