Por Javier Leira BERLIM (Reuters) – A seleção argentina chegou ao Mundial da Alemanha sem o rótulo de favorita, mas com um elenco talentoso, com a esperança de recuperar a honra perdida há mais de uma década e de ver em ação um dos grandes nomes do futebol argentino de hoje: Lionel Messi. Mas na sexta-feira, a equipe se despediu do torneio depois de perder por 4 x 2 nas decisões por pênaltis para a Alemanha, pelas quartas-de-final, e a aventura na Copa na Alemanha terminou mais cedo do que esperavam os jogadores, a torcida e a imprensa. Entre os sentimentos que ficaram após a eliminação está o pesadelo de não haver desfrutado mais do talento do atacante Messi, do Barcelona, que foi um grande assunto para a imprensa local e internacional nos 30 dias que os argentinos estiveram na Alemanha. Outro pesadelo foi não ter podido classificar-se entre os quatro melhores do mundo, o que não ocorre há 16 anos. Logo após a conquista do título de 1986, no México, e a final de 1990, na Itália, quando perdeu para os alemães, a equipe sul-americana nunca mais passou das quartas-de-final do torneio. Em 1994, a Argentina foi eliminada pela Romênia nas oitavas-de-final depois de sofrer com o exame antidoping positivo de Diego Maradona. Em 1998, foi eliminada nas quartas pela Holanda e em 2002 a Argentina jogou apenas três partidas e não passou da primeira rodada do Mundial. Depois de um início firme com vitórias sobre Costa do Marfim por 2 x 1 e os 6 x 0 sobre Sérvia e Montenegro, a Argentina passou a ser considerada uma das favoritas para o título. Mas desde que recebeu esse rótulo, as coisas não foram mais as mesmas. Na última partida do Grupo C, a equipe empatou em 0 x 0 com a Holanda e nas oitavas-de-final sofreu para vencer o México por 2 x 1, com o gol da vitória sendo marcado na prorrogação. PARTIDA ACIDENTADA Nas quartas, a equipe saiu na frente no marcador contra a Alemanha logo no começo do segundo tempo, mas uma lesão do goleiro Roberto Abbondanzieri e mudanças na equipe que não deram os frutos esperados complicaram a vida dos argentinos, que sofreu o empate e a partida arrastou-se para a decisão nos pênaltis. “A Argentina, ainda que tenha sido eliminada, foi uma das equipes que melhor futebol mostrou na Copa”, disse o técnico José Pekerman. Uma demonstração foi o segundo gol contra a Sérvia e Montenegro, em que Esteban Cambiasso finalizou depois de um toque de classe de Hernan Crespo e mais de 20 toques de seus companheiros. Quem não pôde jogar tudo o que queria foi Messi, considerado por muitos como o sucessor de Maradona e que não teve tempo em campo para demonstrar se essa comparação foi exagerada ou não. O jovem de 19 anos chegou ao Mundial se recuperando de uma lesão e não entrou em campo contra a Costa do Marfim. Depois, jogou alguns minutos contra Sérvia e Montenegro, partida em que marcou um gol, e foi parte da equipe no empate contra a Holanda, quando os atacantes titulares foram poupados. Nas oitavas, contra o México, jogou apenas alguns minutos e viu a partida contra os alemães do banco de reservas. Os poucos minutos de Messi em campo foram uma das reclamações que Pekerman teve que ouvir durante o torneio. A princípio, Pekerman disse que a ausência de Messi aconteceu porque a equipe estava lidando com o processo de recuperação do jogador com calma, e depois o técnico alegou questões táticas para explicar sua decisão. RESPEITO POR MESSI A pouca presença de Messi surpreendeu a todos, incluindo os rivais. O auxiliar técnico da Alemanha, Joachim Loew, disse na sexta-feira que a sua equipe respeitava muito o jogador do Barça e que “com Messi em campo, (a Argentina) teria mais opções de ataque porque é um jogador rápido e com boa técnica”. “Teríamos enfrentado um grande perigo. Ali percebemos que a Argentina estava retrocedendo e que tínhamos que aproveitar a chance”, disse ele. Na parte final do jogo, era possível ver Messi sentado fora do banco de reservas, pensativo e por momentos não entendendo o que se passava dentro de campo. Pekerman disse que no momento da saída de Hernan Crespo, optou pela entrada de Júlio Cruz e não de Messi pois “com Messi conseguíamos ter a bola, mas não teríamos tanta presença na área”. Outro destaque que não jogou o tempo que se esperava foi o atacante do Corinthians Carlos Tevez, que foi titular em duas partidas e demonstrou que está capacitado para integrar a dupla de ataque. Entre os pontos mais altos da Argentina, ficaram a solidez defensiva do experiente zagueiro Roberto Ayala, o mais regular da equipe e que tem 105 partidas com a camisa argentina, uma a menos que Diego Simeone. Depois do anúncio de Pekerman na sexta-feira de que não seguirá à frente da equipe, uma nova etapa começa para a Argentina. A tarefa do próximo técnico será explorar os pontos positivos e aprender com os negativos para encarar as eliminatórias para o Mundial da África do Sul em 2010.
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