O Estado de Sergipe teve esse fim de semana uma das melhores notícias do ano no meio esportivo. Durante o Campeonato Brasileiro de Ginástica, a presidente da Confederação Brasileira, Vicélia Angela Florenzano, anunciou que Larissa Barata vai voltar a treinar e competir. Fotos: Divulgação
A atleta de 19 anos, hexacampeã brasileira, parou sua carreira abruptamente no ano passado por motivos que ela explica na entrevista abaixo. Nesse tempo, Larissa freqüentou a faculdade, trabalhou e começou a treinar as atletas mirins do colégio onde começou a carreira, o Arquidiocesano. A equipe da Infonet entrevistou com exclusividade a atleta, no intervalo do treinamento com as crianças.
O que se viu foi uma menina amadurecida e decidida do que quer fazer a partir de agora. E de muito pulso firme com suas pequenas atletas. Confira entrevista na íntegra:
Portal Infonet – Por que voltar a treinar?
Larissa Barata – No início é difícil. Não dá vontade de voltar de jeito nenhum. Eu falava pra mim mesma que não ia voltar e estava decidida. Mas em junho desse ano eu fui assistir à Copa TV Sergipe e quando vi as atletas na quadra bateu aquela saudadezinha lá no fundo. Eu desci da arquibancada e fui falar com Cristina (Vidal, técnica de Larissa). Aí ela me falou que havia a possibilidade de voltar a treinar. Só que eu tinha que esperar as férias escolares, por causa do meu trabalho. Em julho, fui treinar no Arqui, de leve, só alongamento, corrida… Só que eu também tinha que conversar com a presidente da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). E essa oportunidade apareceu com a realização do campeonato brasileiro aqui, na semana passada. Eu só me senti realmente segura para voltar quando ela perguntou pra mim: “vai voltar mesmo?”. Então eu falei que voltaria, e conversamos durante muito tempo.
Infonet – Mas você tinha que falar com a presidente da CBG visando a sua volta a seleção brasileira?
LB – Com certeza. Pra mim só vale a pena voltar se for pra competir pela seleção. E aí sim, quem sabe, não vou dar certeza, mas quero muito ir pro Pan-Americano do Rio ano que vem. Eu não posso dar certeza por conta da quantidade de meninas que vêm treinando, elas estão em forma… Eu ainda tenho um ano, que eu considero tempo suficiente pra emagrecer e treinar. Eu tenho chances e condições de ir pro Pan.
Infonet – O seu objetivo agora é esse?
LB – Com certeza. Mas se eu não for pro Pan eu vou pra outro! (risos) Quero muito ir pra essa competição por que é aqui no Brasil, no Rio. Tudo favorece.
Infonet –Então você vai voltar a treinar com a seleção brasileira?
LB – Vou voltar a treinar com as meninas da seleção aqui.
Infonet – Você vai ter que enfrentar alguma seletiva pra voltar pra equipe?
LB – Não. Eu estou voltando a treinar com as meninas, mas por enquanto não sou da seleção brasileira. Eu só volto a ser da equipe quando eu estiver em forma pra competir. Estou treinando com elas por que durante muito tempo eu fui da seleção e a confederação liberou. Durante a minha conversa com a presidente da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) ela me disse “Larissa, o seu lugar é seu. Você só tem que voltar ao que era antes”.
Infonet – As meninas da equipe já sabem da sua volta?
LB – Elas estavam presentes quando a presidente anunciou no campeonato que eu estava voltando. E demonstraram muita alegria pelo meu retorno.
Infonet – E o seu relacionamento com a comissão técnica da seleção?
LB – Todo mundo ficou feliz com o retorno. Estão me ajudando muito e torcendo por mim. Meu relacionamento com Cristina é perfeito.
Infonet – Como vai ser sua preparação? O que tem que ser feito?
LB – Eu estou há um ano parada, então os treinamentos têm que começar leves, por que a minha musculatura ainda está “frouxa”. Vou ter que fazer um fortalecimento muscular, principalmente na coluna, que ainda tenho problemas. Além de dieta pra perder peso e exercícios físicos.
Infonet – E como vai ser sua rotina daqui pra frente?
LB – Eu vou começar a treinar pela manhã, continuar dando aula à tarde, e treinar à noite também.
Infonet – Quais foram as principais razões para você ter parado com a ginástica? Foi mesmo a vontade de ter uma vida normal?
LB – Eu passei nove anos treinando, e sete anos desses nove intensivamente, por causa da seleção brasileira. Acho que foram muitos anos de treinamento duro e eu não tinha muito tempo pro resto das coisas. Sair com os amigos, aproveitar um pouco a minha vida, isso pesou um pouco sim. Acho que o ano passado eu comecei a entrar numa leve depressão, e o ponto que explodiu tudo foi a última dor na coluna que eu tive. Foi quando eu falei pra mim mesma, “chega de dor! Eu preciso cuidar mais de mim, viver outras coisas”.
Infonet – Foi o ponto crítico para o seu organismo?
LB – Foi sim. E eu acho que essa pausa foi favorável para mim. Muita gente pode dizer que eu estou fora do peso, e questionar como eu vou voltar a treinar. Mas eu penso que as minhas chances são muito maiores agora, porque me sinto mais motivada, com vontade de voltar a treinar. A dieta pra mim vai ser só mais uma etapa rumo ao meu objetivo final. Eu estou com a cabeça descansada. Passei um ano lendo, estudando, saindo, me divertindo.
Infonet – Você chegou a cursar Educação Física nesse ano, e até trabalhou em uma academia. Você vai continuar o curso?
LB – Eu comecei a trabalhar na Mais Vida, e foi com a ajuda do pessoal de lá que eu superei um momento difícil. Os amigos que eu fiz me ajudaram muito. Eu sei que vou ter que me afastar um pouco agora, por conta da rotina corrida, mas sempre guardo meus amigos. Já a faculdade é um dilema pra mim. Eu não sei se quero mais cursar Educação Física. Realmente estou indecisa entre duas coisas, que ninguém vai acreditar e é até engraçado. Estou em dúvida entre Nutrição e Jornalismo. (Risos) Duas áreas completamente distintas. Então eu quero voltar a estudar, fazer cursinho, pra tentar vestibular no fim do ano
Infonet – E se a vontade de parar de novo voltar?
LB – Sabe o que aconteceu? Quando eu parei, eu comecei a sair muito pra balada com os meus amigos, adorei essa fase. Mas de um três meses pra cá eu parei de sair, e não estou sentindo tanta falta. É uma coisa que eu tenho que pensar. No esporte eu vou chegar com 25 anos e vou ter que parar necessariamente por causa da idade. E aí dos 25 pros 30 eu posso aproveitar as festas (risos). Eu percebi que no esporte eu tenho pouco tempo, e pra curtir a vida eu vou ter mais. Agora eu quero aproveitar tudo que ainda tenho pra tirar do esporte.
Infonet – Como você encarou os comentários nacionais sobra a sua saída, como “o Brasil não tem mais a sua melhor atleta de ginástica”?
LB – O nível do esporte no Brasil vem subindo muito. Quando as pessoas falam, “não existiu atleta igual a Larissa Barata”, é claro, até por que nenhuma ginasta é igual a outra. Mas tem muitos talentos por aí. A prova é a seleção brasileira que está aqui em Aracaju. São meninas lindas na quadra. Mas é claro que fico feliz por ter aberto esse caminho pra Ginástica no Brasil. Fui eu e a Taiane Mantovanele que praticamente abrimos o caminho pra ginástica individual. É realmente muito gratificante.
Infonet – O que te atrai tanto nessa vida de atleta? Larissa na tarde de treinamento com crianças
LB – Que pergunta difícil! Eu realmente não sei. É uma coisa que eu tenho desde pequena. Não é qualquer esporte que me faz ter essa vontade. São esportes relacionados à música, ritmo… Desde pequena eu sempre gostei muito de dançar. Quando eu vim pra Aracaju que vi uma apresentação no Arquidiocesano me encantei com a ginástica. Foi a partir daí que eu comecei a carreira. Fui sem pretensão, sem objetivo nenhum. Eu não sabia que podia chegar até o ponto que cheguei. E tudo aconteceu muito rápido, até mesmo sem eu me dar conta. Acho que até por isso eu não dei tanto valor em alguns momentos as coisas que aconteceram comigo na ginástica. Eu não tinha consciência. Quando eu estava decidida a voltar a treinar fui observar o treino de pódio. Passei o dia assistindo às meninas treinarem e fiquei me imaginando no lugar. Acho que a partir do momento que a gente ainda se imagina em determinada situação é porque tem vontade de fazer.
Infonet – Será que um dos motivadores da sua parada foi a sua hegemonia no esporte, pelo menos no Brasil?
LB – Eu parei também por que eu estava sem objetivo. Cheguei no ponto máximo para qualquer atleta que é as Olimpíadas, em 2004, mas não me via nas próximas, em 2008. Estava realmente sem objetivo. Comecei a me perguntar o que é que eu estava fazendo ali. Machucando minha coluna, ficando deprimida… Acho que todo atleta passa por essa fase de “encheção de saco” da rotina mesmo. Pra mim era treino de manhã, colégio a tarde, treino à noite… Isso cansa. Foram muitos anos fazendo isso. Eu nunca tinha tempo de descansar, viajar fora da ginástica, visitar minha família. Até mesmo de ficar parada, não dar entrevistas… (risos). Então eu parei achando que ia levar uma vida normal a partir daquele momento. Achando que ninguém mais ia me parar na rua, nem me perguntar sobre a ginástica. Mas nada disso aconteceu. Todo mundo me parava e perguntava “por que parou?”. Aí eu percebi que nunca iam esquecer o que aconteceu no passado. Não ia adiantar eu tentar ter uma vida normal. As pessoas nunca vão olhar pra mim como Larissa Maia Barata, uma menina que entrou na Ginástica e conseguiu alguns resultados, mas que é uma menina. Todo mundo me olha como Larissa Barata, a atleta.
Infonet – Como você vê as homenagens que fizeram em todo o Estado, a exemplo da pista de patinação com seu nome na Orla de Aracaju?
LB – Eu fiquei muito feliz quando o governador me ligou e me chamou pra conversar com ele sobre isso. Foi uma honra muito grande, extremamente gratificante. Principalmente por que as pessoas não sabem o que a gente passa todo dia, às vezes pensam que é fácil. Sempre falam, “nossa, você viajou o mundo! queria estar no seu lugar”. Só que a gente viaja e não acaba não conhecendo nada. É o mesmo trajeto sempre: aeroporto-hotel-ginásio, daí volta pro aeroporto e vai embora. E não vêem o lado de não conviver com a família direito, de ter a vida regrada, de não freqüentar a escola como todo mundo faz. Até mesmo o lado de sair com os amigos… tudo é muito difícil.
Infonet – Como é treinar outras atletas mirins?
LB – É diferente. É um exercício de paciência pra mim, que sou extremamente ansiosa e impaciente. Eu sempre quero as coisas pra ontem. Estou aprendendo a ser mais tolerante e paciente. Meu relacionamento com elas é muito bom, mas estou passando pras meninas a parte básica da ginástica. Na verdade é a parte mais chata, a inicial (risos).
Infonet – Você se imagina algum dia como técnica?
LB – Eu nem sei. Não me vejo como técnica. Pode até ser um medo de não corresponder como técnica a tudo que eu fiz como atleta. Não imagino muito isso.
Infonet – Como é que você avalia o crescimento do esporte em Sergipe com a vinda da seleção brasileira?
LB – Não sei se posso fazer essa avaliação por causa do meu afastamento. O nível do Estado subiu muito de uns anos pra cá, se comparando à época que eu comecei. Mas eu acho que alguns colégios daqui têm que participar mais de competições. Há alguns anos, nos campeonatos brasileiros, participavam daqui de Aracaju a equipe do Arqui, do Salesiano, do Coesi, do antigo Colégio São Paulo (COC). E hoje só o Arqui participa. Lógico que falta incentivo, patrocínio, pra que as meninas tenham um objetivo. Muitas meninas têm condições de ir pro brasileiro e competir bem.
Infonet – E seus pais? Continuam te apoiando na sua volta?
LB – Eu só tenho que agradecer aos meus pais, porque sempre estiveram do meu lado. Quando eu resolvi sair eles me apoiaram e, agora, quando eu disse que ia voltar, eles estão comigo. Então eu não tenho nada a reclamar.
Infonet – Você já tem novos patrocinadores?
LB – Não. Essa é um área que vou ter que correr atrás, porque preciso muito mesmo. No início eu tinha o apoio do Arqui, depois o colégio ficou sem condições de bancar tudo, por causa das viagens internacionais. Então eu tive o Banese como patrocinador, e por último foi a Petrobras. Mas agora eu estou correndo atrás de novo.
Por Ben Hur Correia e Andreza Azevedo
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