O povo sempre apanha na cara

O leitor certamente já ouviu falar que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Nestes últimos dias, o cidadão aracajuano pode sentir isso na carne: sofreu com o terror das brigas entre marginais e com a omissão daqueles que são pagos para dar essa proteção. O pior é que quando eles aparecem, o terror duplica. Durante os desfiles do dia 7 de setembro, a Praça da Bandeira se transformou em uma praça de guerra. Enquanto soldados e estudantes marchavam para deleite dos políticos, galeras organizadas atiravam cocos, pedras e barras de ferro umas contra as outras, para o terror de famílias, crianças e vendedores ambulantes que tiveram seus instrumentos de trabalho completamente destruídos. Alguns tiros chegaram a ser disparados. Onde estavam os heróis de fardas verdes? Não estavam ali. Naturalmente estavam preocupados com outras pessoas, que não estavam ali com a intenção de trocar socos, mas sim para reivindicar uma pátria justa e verdadeiramente independente. Dias depois, os taxistas de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, em uma atitude impensada, fecharam os acessos à Aracaju. A tropa de choque foi chamada para “controlar a situação”. O que foi visto por centenas de estudantes que foram obrigados a andar a pé até o Campus da UFS – e deixou-os muito indignados – foi o momento em que um dos soldados puxou o cassetete e brandiu-o, aos berros e palavrões, contra um dos motoristas, que simplesmente tentava acalmar os ânimos dos dois lados. É certo que os taxistas erraram ao prejudicar centenas de pessoas que estavam a caminho do trabalho, mas não se justifica a cena que foi descrita por um dos taxistas em entrevista a TV Sergipe: “Um soldado da Choque engatilhou a escopeta, foi para frente do meu carro e gritou: ‘Quem é o vagabundo (sic) que tá aí nesse carro?’ Nem quis saber se eu era pai de família”. Não se trata de defender um dos lados, mas mostrar o retrato de uma situação confusa que foi criada pela incompetência e oportunismo dos “chefões de gravata”. Por sinal, não eram os estudantes universitários, muito menos os sem-terra e os taxistas que trocaram cocos e disparos de revólver no enjoativo desfile da Independência. Mas a polícia não raciocinou dessa forma. Ao ver que fracassou ao dar segurança ao público que ainda vê alguma graça em seus desfiles, e que não prendeu sequer um dos arruaceiros que levaram o pânico a Praça da Bandeira, ela resolveu descontar a sua truculência e poder de fogo contra cidadãos comuns. Os mesmos cidadãos que no dia-a-dia, são tratados pelas autoridades públicas como seres inferiores que prestam apenas para pagar impostos e financiar tropas de choques. Ao contrário dos anúncios oficiosos que somos obrigados a assistir ou ler entre os noticiários de uma imprensa cada dia mais submissa, o povo não tem acesso aos frutos da “competência e do trabalho” que os poderes públicos insistem em dizer que tem. Quando os problemas acontecem, a corda sempre arrebenta do lado do cidadão comum, que mesmo estando longe de uma “cidade para todos”, ainda é obrigado a apanhar, literalmente, tanto dos bandidos quanto daqueles que são pagos para nos proteger deles. E ainda querem que nos orgulhemos de um país desses… Por Gabriel Damásio

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