Ensaio sobre as boas palavras

“Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti”. A palavra tem o dom de ferir, matar e trazer prazer aos ouvidos. Jogamos ao vento sílabas doentes que certamente espalhará dor e caos ao terreno dos fracos, e só existe uma forma universal que breca esse efeito: a verdade. Nada melhor que uma conversa. Um culto ao saber se expressar para resolver as pendengas causadas por quem se destina a machucar através do que é falado.

 

Julgamos essencial falar do outro sem base nenhuma para tal e a fofoca poderia muito bem ser apenas fofoca, mas existem os de caráter duvidoso que peca pelo extremo. Falar demais é danoso sempre. Os orientais ouvem mais e são vistos como sábios justamente por cultivar o silêncio quando é preciso fazê-lo e também quando não é. A ética na vida requer que sejamos especiais quando o que está em voga é a palavra. Socialmente, para quem não é ou nunca será um sábio, falar do outro com intuito de prejudicar, é algo natural, coisa de educação mesmo. Bobagem mínima e sem suporte técnico que traga efeito duradouro.

 

Fui questionado recentemente sobre algo que supostamente teria feito. Algo que sutilmente me colocaria num patamar de algo vulgar, pelos olhos alheios. E mesmo sabendo a intenção precária da palavra má jogada sobre mim, o que mais me chocou foi perceber que acima de tudo que embasou o maldito som, existia a simples maldade de me prejudicar socialmente. O chato disso tudo é ter que justificar-me para defender o meu eu. Coisa que abomino mais que milhares de desastres naturais [defesa de qualquer coisa ou principalmente a justificativa].

 

A palavra suja, o comentário besta, não serve de nada a não ser no minuto em que foi falada. São faíscas que sempre surgem de um nada mentiroso, porque foram construídas para alcançar os ouvidos do atingido. Às vezes demora muito até que o intento seja conseguido, mas certamente o que sangra saberá o motivo de tudo. Palavra é coisa leve, gente, sempre circula e chega ao seu templo.

 

Até acho engraçada a fofoca infantil, que não irá passar de besteira dita. Fomos acostumados a isso em nossa criação porque nossa vida é por demais pesada e quando falamos do outro acabamos subsidiando um momento de descanso para nosso processo mental. Mas quando o exagero enfeia este momento é que percebemos o quanto podemos até matar as esperanças de alguém a partir de um comentário nosso. Por isso devemos nos calar, sem se curvar ao destino, aos idiotas e principalmente aos impuros. [Quase todos são impuros nessa vivência].

 

Não ser santo é ser humano. E viver cercado de bocas, línguas e pensamentos sujos faz parte do processo de existir perante um mundo que pode ser muito ruim e muito, mas muito bom quando decidimos que nada poderá nos matar em vida. “Pena que os ouvidos não têm pálpebras”, porque bastávamos fechar e pronto, resolvido o problema, sarada a situação desagradável.

 

Ser mais simples em nossos atos e mais cautelosos com nossas palavras é um mantra poderosíssimo que não se aprende na escola. O muito dito em momentos de descontrações não possui validade porque os ânimos estão sempre exaltados. É até entendido que se façam comentários, teçam elogios, porém tudo peca pela futilidade excessiva. Tenho medo das palavras que são ditas na calada do momento, planejadas  para servir de faca quente na jugular do alvo. E não perdôo quem em atinge gratuitamente..

 

Quando somos agredidos que alguma forma é natural agirmos rápido para nos proteger. E engana-se imaginar que a recompensa está em esbravejar palavras ruins aos nossos desafetos. Nada disso tem importância. Deveríamos cultivar a essência da palavra boa, jogando-a na contramão da situação desagradável.

 

Palavra é como semente. Cresce, germina e dá frutos. Não deveria servir apenas como fato em si, nem significar o último suspiro. A palavra é mutável [não me refiro aqui ao senso ético que deve ser fixo, empregando]. Por isso é que devemos pensar muito antes de falar, pois tudo traz consequencias que funcionam fatidicamente como lança afiada fincada nos ouvidos e vista elos olho.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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