Audiovisual

Débora Souza Cruz

Mestranda em História pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Sergipe, possui especialização em Ensino de História pela Faculdade São Luís de França, pesquisadora do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPQ/UFS) e editora da revista eletrônica Cadernos do Tempo Presente (http://www.getempo.org/)

O campo da História ficou durante muito tempo sendo construído com pilares baseados na fonte escrita. Era apenas por meio do documento escrito que o historiador atribuía o tão almejado caráter de cientificidade ao seu trabalho. Mesmo após o conhecido movimento dos Annales, inaugurado no ano de 1929  e abrangendo significativamente a noção de fonte para a pesquisa histórica, ao longo dos anos de 1960 o trabalho voltado para o audiovisual ainda encontrava sérios entraves na comunidade acadêmica.

Uma gama de produtos culturais fazem parte do universo audiovisual. Entre eles podemos citar exemplos como vídeos, cinema, games, clips, animação e novelas. É pelo simples fato destes serem utilizados muitas vezes como formas de entretenimento, que muitos pesquisadores os invalidam como fontes históricas. É aí que mora o equívoco.

Devemos compreender que a fonte audiovisual não é isenta de significado e muito menos produzida na inocência. Como qualquer outro tipo de documento histórico, ela é portadora de tensões, opiniões e representações de uma dada realidade. Expressa ainda a visão ideológica da sociedade segundo o “olhar” e a perspectiva dos seus autores. Além disso, ainda são capazes de produzirem efeitos políticos que marcam o imaginário social e histórico de uma sociedade. Logo, é digna de problematização e análise.

Mas as barreiras para lidar com as imagens em movimento não estão restritas apenas na atribuição “duvidosa” do seu caráter científico. É verdade que ainda são inúmeras as dificuldades para aqueles que desejam mergulhar no mundo das imagens em movimento, principalmente se o foco está voltado à programação brasileira em geral. A primeira delas é a volatilidade de alguns programas exibidos ao vivo e sem nenhuma preocupação com seu registro, ou seja, a ausência de uma política de preservação destinada para estes arquivos. Um outro problema que dificulta o acesso a esta fonte é que muitos destes arquivos se tornam propriedade exclusiva das empresas televisivas.

Entretanto, tais obstáculos elencados acima não se sustentam como explicações para ignorar a busca de informações históricas em documentos visuais e sonoros. Vivemos em um mundo rodeado e bombardeado cada dia mais pela presença dos efeitos audiovisuais. Desta forma, o uso do audiovisual não pode mais passar despercebido, mesmo para aqueles que não pretendem utilizá-lo como fonte para sua pesquisa.

Como afirmou Rafael Rosa Hagemeyer, “de nada adianta nos trancarmos em empoeirados arquivos para escrever páginas e páginas sobre um passado remoto, como monges copistas e alheio à realidade que nos cerca” (HAGEMEYER,2012, p.13) Os tempos mudam, a história muda. Negar tais novidades e demandas sociais seria negar a própria dinâmica que faz parte da história.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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