FRAGMENTOS DA HISTÓRIA (V)

Série especial do Sesquicentenário de Aracaju

 

Pedro II passou poucos dias em Sergipe, de 11 a 21 de janeiro de 1860, mas teve oportunidade de observar o conjunto de obras em construção em Aracaju, parte delas iniciadas pelo presidente Inácio Barbosa, visitando-as, uma a uma, e deixando sua opinião interessada, quando não a crítica e a ironia. Desde que desembarcou, na Ponte que ainda hoje tem o nome de Ponte do Imperador – uma das obras novas da nova cidade – que Pedro II viu de perto a ação do próprio Império, pelos seus recursos e engenheiros, em parceria com a Província, que em quase tudo dependia.

Funcionavam em Aracaju: O Paço Provincial, transformado em Paço Imperial para a visita, a Capitania do Porto (hoje dos Portos), o Quartel da Polícia, a Mesa de Rendas, que abrigava a Alfândega, as Repartições do Exército, dentre elas o Quartel da Companhia Fixa ( que apesar de ser um Barracão coberto de palha era asseado), os Correios, a Repartição das Terras Públicas, a Tipografia Provincial, o Cemitério, a Câmara Municipal (a pouca regularidade do Arquivo Municipal e as más acomodações da Casa não agradavam o Imperador, que fez algumas observações aos vereadores), a Diretoria de Estudos e as Aulas Públicas e a Casa de Oração São Salvador.


Estavam em construção: O Palácio Novo, sob a responsabilidade do Capitão Engenheiro Pereira da Silva (o atual Palácio Olímpio Campos), o Quartel da Tropa de Linha, o Hospital para os pobres, a Cadeia (onde está hoje o Palácio Serigy/Secretaria de Estado da Saúde), a Alfândega (sobre as ruínas do velho prédio), a Companhia de Refinação, para melhorar o açúcar a ser exportado, obra que estava a cargo do engenheiro Pedro Pereira de Andrade, dentre outros edifícios importantes para a capital sergipana.

 

Aracaju enchia os olhos do monarca e de sua comitiva. Além de visitar as obras mais importantes e de tomar informações sobre o funcionamento das repartições públicas, Pedro II reservou tempo para uma visita especial, ao túmulo do presidente Inácio Joaquim Barbosa, todo ele em mármore, encomendado em Pernambuco, no fundo (pela rua do Barão, atual João Pessoa) da Casa de Oração São Salvador, que então fazia as vezes de Matriz, (Igreja do São Salvador).  Segundo o redator da visita imperial “é o túmulo uma obra que demonstra um sentimento nobre e singelo do coração do povo, para aquele homem de fé robusta em si e em seus atos, que foi vítima de sua dedicação em sua fundação.

 

Ainda, segundo o redator, “o túmulo foi construído segundo o gosto romano, com mármore fino e polido, sendo uma pirâmide, com 17 palmos e meio de altura, tendo no vértice uma cruz, de 2 palmos de altura, também de mármore. A pirâmide consta de três partes, que são: pedestal, caixa ou depósito, e tampa. O pedestal é um hexaedro, retângulo, em que as quatro faces vistas são iguais e tem cada uma sete palmos e meio de comprimento e quatro de largura. A caixa, ou depósito, um hexaedro retângulo, em que as faces vistas são iguais, e tem cada uma dois palmos e três polegadas de altura, e cinco e meio palmos de comprimento, guarnecido na parte superior com uma moldura composta e dois filetes e uma meia cana. A caixa é um hexaedro retângulo em que as faces vistas são iguais, tendo cada uma quatro palmos de comprimento, e dois palmos e três polegadas de altura, guarnecida na parte inferior com uma moldura de meio palmo de altura, e na parte superior com uma cornija de florões em relevo com um palmo e duas polegadas de altura”.

 

E prossegue: “Na face paralela ao plano que passa pelo eixo da rua fronteira ao Cemitério tem a caixa o seguinte letreiro, gravado em letras douradas: ‘Restos venerandos do Exmo. Sr. Dr. Ignácio Joaquim Barbosa, Presidente desta Província’. Na face contígua, a primeira do lado direito, tem o seguinte letreiro: ‘Nasceu no Rio de Janeiro em 10 de outubro de 1821 – Morreu na cidade de Estância, em Sergipe, aos 6 de outubro de 1855’. Na face contígua a esta tem o seguinte letreiro: ‘Viveu e terminou com glória a carreira que Deus lhe assinalou na terra’. Finalmente na última face tem o seguinte letreiro: ‘Homenagem, saudade e gratidão – Resolução 453 de 3 de setembro de 1856 ( a que autorizou que fossem trasladados, da Matriz de Estância para o Aracaju, os restos mortais do presidente Barbosa)’”.

Por fim ele descreve: “A tampa é uma pirâmide regular que tem quatro palmos de altura, sendo a base um quadrado perfeito que tem de lado três palmos e cinco polegadas, tendo na face que corresponde com a face das cruzadas, e sobre as quais está colocada uma grinalda, tudo em relevo. O túmulo é guarnecido junto ao pedestal por uma grade de ferro fundido, de onze palmos de comprimento cada lado, e quatro palmos de altura, havendo entre esta grade e o mesmo pedestal um intervalo de palmo e meio de largura com terra vegetal, onde estão plantadas flores naturais que indicam saudade”.

A sepultura de Inácio Barbosa foi aberta no dia 29 de janeiro de 1858, na Matriz de Estância e os restos mortais preparados para o novo jazigo, em Aracaju, foram enterrados no dia 18 de fevereiro de 1858, sendo as solenidades realizadas no dia 19, por iniciativa do presidente da Província, João Dbney d´Avelar Brotero, que cumpria a Resolução do presidente Salvador Correia de Sá e Benevides. Discursos, poemas, marcaram as homenagens prestadas por Sergipe ao presidente que mudou a capital e empreendeu esforços pelo desenvolvimento da Província.

Aracaju deu o nome de Inácio Barbosa a uma praça entre o Mercado Modelo (Antonio Franco) e a Estação da Rede Ferroviária Leste Brasileiro. Um Obelisco foi colocado na Travessa José de Faro, no jardim dos fundos do prédio da Assembléia, atendendo a Lei 695, de 9 de janeiro de 1915, sendo contratado o escultor Lourenço Petrucci. O Monumento foi depois mudado para a praça Inácio Barbosa, no final da avenida Ivo do Prado, obedecendo a Lei 33/1951. Inácio Barbosa dá nome, também, ao Palácio da Prefeitura Municipal de Aracaju (Lei 54/1951), a um Conjunto Residencial, á margem da Avenida Tancredo Neves (Lei 324/1973), a uma avenida, no bairro de Atalaia (Lei 1485/1989) e ao Porto de Sergipe.

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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