A cidade e seus projetos

O artigo semanal da arquiteta e fotógrafa Ana Libório, postado na semana passada no seu blog da Infonet, abre um debate sobre intervenções na paisagem de Aracaju, como anuncia a Prefeitura, com a idéia de implantar uma rua de pedestres, um Calçadão, na rua Santa Rosa e na Travessa José da Silva Ribeiro, conhecida pelo povo como Beco dos Cocos, na zona dos Mercados da cidade. Sendo, como é reconhecida, uma militante da causa justa da preservação da memória citadina, Ana Libório tem a autoridade de ter sido tecnicamente responsável pelo Projeto de Restauração do Mercado Municipal de Aracaju, na gestão do prefeito João Augusto Gama, com o apoio do Governo Albano Franco.

O trabalho realizado, tanto na defesa, com uso redefinido, dos Mercados Modelo, ou Mercado Velho, ou, ainda, Mercado Antonio Franco, e Mercado Auxiliar, também conhecido como Mercado Novo, cuja denominação formal é Marcado Thales Ferraz, como na construção do Mercado Albano Franco, revitalizando o centro comercial popular, mereceu os elogios e aplausos efusivos, que serviram para reafirmar e reconhecer a grande contribuição que a arquiteta, como pensadora, tem dado a Aracaju, nos vários projetos que levam sua assinatura de qualidade.


A preocupação de Ana Libório com o anúncio da construção de um Calçadão nas cercanias dos Mercados faz todo o sentido, e deveria merecer reflexão por parte da Câmara Municipal, dos organismos do comércio, de outras entidades interessadas na defesa do patrimônio arquitetônico e histórico da cidade. Será o mínimo, a discussão prévia, antes que a força da decisão monocrática decida. Formado na escola dos debates públicos e da vida social organizada, o prefeito Edvaldo Nogueira pode promover, sem apriorismo, uma ausculta crítica, sobre seu já polêmico projeto de fazer dois Calçadões.


Abafar o trânsito, estabelecer comércio informal, fechar mais duas ruas, uma de tráfego de veículos de passageiros e de cargas, a rua Santa Rosa, que liga a avenida Otoniel Dória a avenida Carlos Firpo, a outra, o Beco dos Cocos, que tem sido, ao longo do tempo, trecho de acesso ao abastecimento das casas comerciais, sendo, ela própria, uma rua de depósitos, parece ser uma temeridade.


A Prefeitura tem outras e urgentes prioridades como definir o que fazer com o antigo prédio da Alfândega, que o Governo Federal colocou à disposição do então prefeito Marcelo Deda. Trata-se de um dos mais antigos prédios públicos, onde nos últimos dias de funcionamento abrigou duas repartições federais: a Receita Federal e o SPU – Serviço de Patrimônio da União. Não se sabe, depois de alguns anos, qual a destinação e quando serão iniciados os serviços de restauração dos bens. Casas, prédios, ruas e praças dependem das ações restauradoras da Prefeitura, que não perece ter um programa contínuo, permanente, de intervenções na paisagem da cidade, agindo por motivações isoladas, para atender a interesses difusos.


A reforma da praça Fausto Cardoso, por exemplo, não das mais felizes. A velha praça, que cresceu com a cidade, perdeu parte do seu charme, passou a ser parecida com um simples jardim, desses que têm em todas as sedes municipais. Como não houve discussão anterior, a obra foi feita, inaugurada, sem agradar e sem corresponder a expectativa dos aracajuanos. Há um temor, portanto, sobre o futuro da área dos Mercados, onde a Prefeitura anuncia que vai implantar Calçadões. O artigo de Ana Libório serve, então, de alerta, para que não se possa dizer, mais tarde, que ninguém disse nada.


O tema da mobilidade social anima debates em todo o mundo. Aracaju precisa, urgentemente, discutir seu trânsito, tomar medidas que garantam à população conforto e segurança, sendo motorizada ou não. O número de motos em circulação tem concorrido, nos últimos tempos, para agravar o problema do trânsito na capital. Os esforços do Superintendente da SMTT, Antonio Samarone, são claros e muito visíveis, mas esbarram em vários fatores impeditivos do sucesso total da política de trânsito e de transporte de passageiros. Samarone tem, além da competência, da seriedade de estudar e dominar o assunto, a disposição de enfrentar os problemas diários, assumindo pessoalmente ações disciplinares e reguladoras, que merecem todos os aplausos públicos, e comparecendo aos veículos da mídia para prestar esclarecimentos, debater questões e deixar informações que ajudam a entender o complicado mosaico do fluxo de veículos e de pessoas numa cidade que é capital e por isto mesmo é uma caixa de ressonância do Estado..


A anunciada construção de Calçadões está inserida no contexto dos problemas da cidade e não pode prevalecer, açodadamente, sobre as múltiplas responsabilidades que pesam sobre os ombros dos responsáveis pela administração municipal.

Os argumentos de Ana Libório formam uma pauta oportuna, para que a Prefeitura lidere o processo dos debates e reveja sua decisão afoita, de intervir numa área que tem um projeto técnico implantado. Que o prefeito Edvaldo Nogueira considere as opiniões de Ana Libório e reconsidere a urgência do seu projeto.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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