MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: GAL COSTA

CD: “LIVE AT THE BLUE NOTE”

Gravadora: LKG MUSIC / EMI

 

Quando Elis Regina se foi precocemente, a maioria dos críticos de música popular insistiu em Gal Costa como a sucessora no posto de maior cantora brasileira. Gal, inegavelmente dona de um timbre belíssimo, com emissão clara e pronúncia irretocável, parecia possuir de fato as credenciais exigidas, mas o prenúncio não veio a se confirmar, talvez causado pela discografia irregular que a baiana viria a construir dali para a frente.

Alterando bons e maus lançamentos, a verdade é que Gal flertou por um tempo com uma fatia mais popular, arranhando o ar cult que lhe caracterizou o começo da carreira, e preferiu não se atualizar com o que de novo vinha surgindo, optando por regravar canções já conhecidas, chegando a dedicar álbuns inteiros às obras de Tom Jobim, Ary Barroso, Chico Buarque e Caetano Veloso.

Somente em 2005, pressionada por cobranças várias, resolveu gravar um disco com canções inéditas de compositores ainda pouco conhecidas (o anêmico “Hoje”), o qual terminou por obter pouca repercussão. Convidada, em maio do ano seguinte, a se apresentar no Blue Note, famosa casa norte-americana, resolveu apresentar um show eminentemente acústico, recheado, no entanto, de músicas bastante conhecidas.

A decisão não deixou de ser acertada menos por ser inequívoco que a cantora se mostra muito mais à vontade nesse terreno conhecido do que pelo fato de aquele público estar esperando exatamente pelo repertório apresentado. Assim, apoiada por um quarteto de feras (Adriano Giffoni no baixo, Zé Canuto no sax e na flauta, Jurim Moreira na bateria e Marcus Teixeira no violão), Gal realizou um show memorável que, devidamente registrado, acaba de chegar às lojas através da gravadora EMI.

As canções escolhidas passeiam pelos compositores mais clássicos e, assim, enfileiram-se canções de Tom (“Fotografia”, “Samba do Avião”, “Wave”, “Triste” e “Corcovado”), Ary Barroso (“Pra Machucar Meu Coração”, “Camisa Amarela” e “Aquarela do Brasil”), Dorival Caymmi (“Sábado em Copacabana”), Herivelto Martins (“Ave Maria no Morro”), Mário Lago e Custódio Mesquita (“Nada Além”).

Brincalhona, a artista dialoga em inglês durante todo o tempo com a platéia, mostrando-se à vontade ao reler “I Fall In Love Too Easily” (Cahn e Styne) e “As Time Goes By” (Herman Hupfeld).

Um CD bom pra caramba que confirma o talento de Gal Costa, mas que deveria servir para fechar um ciclo, já que a cantora precisa mesmo se abrir mais às novidades objetivando garantir seu espaço junto à geração atual.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: LUIZ MELODIA

CD: “ESTAÇÃO MELODIA”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Luiz Melodia é realmente um artista diferente! Como compositor, não pode ser enquadrado em nenhuma das vertentes delimitativas da música brasileira. Como cantor, talvez seja um dos únicos que nunca viu surgir uma voz parecida com a sua, imitando-o.

Criador inspirado, possui canções gravadas por grandes nomes, como Gal Costa (“Juventude Transviada”), Maria Bethânia (“Estácio, Holly Estácio”), Caetano Veloso (“Magrelinha”), Zezé Motta (“Dores de Amores”), Cássia Eller (“Sensações”) e Elza Soares (“Fadas”). Dono de uma voz poderosa e de um suingue característico, sabe domar as canções como poucos, conferindo-lhes cores únicas quando por ele interpretadas.

Há cinco anos sem lançar disco, acabou de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o novo CD do artista. Intitulado “Estação Melodia”, é praticamente um álbum de intérprete, posto que do repertório consta somente uma canção por ele assinada (a interessante “Nós Dois”, parceria com Renato Piau). Nas demais faixas, o cantor faz um passeio pelo samba, ritmo atualmente em alta no mercado fonográfico brasileiro.

E o faz com apropriação, pois Melodia é carioca, do Morro do Estácio e conhece muito bem a ginga e o tempero que o ritmo exige. Se é verdade que o peso dos anos começa a se mostrar através da voz (que já não soa tão límpida como outrora), também se faz incontestável que o prazer de cantar lhe segue intacto. Basta ouvir, por exemplo, “Dama Ideal” (de Alcebíades Nogueira e Arnaldo Passos), “Papelão” (de Geraldo das Neves) e “Eu Agora Sou Feliz” (de Jamelão e Mestre Galo), três dos melhores momentos do álbum.

Produzido por Humberto Araújo, o disco traz ainda duas boas canções do pai de Melodia, o saudoso Oswaldo Melodia (“Não Me Quebro à Toa” e “Linda Tereza”, esta contando com As Gatas no coro), além da participação especial da cantora e esposa Jane Reis na faixa “Choro de Passarinho” (de Renato Piau, Euclides Amaral e Rubens Cardoso).

Um das coisas mais legais é que Melodia não se prestou a regravar clássicos manjadíssimos e soube garimpar canções pouco conhecidas mas nem por isso menos inspiradas (caso de “Contrastes, de Ismael Silva, “Recado Que Maria Mandou”, de Wilson Batista e Haroldo Lobo, e “O Rei do Samba”, de Miguel Lima e Arino Nunes), todas elas encravadas em sua memória afetiva.

Um CD que merece ser conhecido!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Terá início hoje à noite, às 21 horas, no Teatro Atheneu a nova edição do Projeto “Prata da Casa”. Até novembro estarão por lá se apresentando grandes nomes da música sergipana, além de bandas que vêm se destacando no mercado musical do nosso Estado. Como primeiras atrações foram selecionados o cantor Ivan Reis, natural de Estância e dono de uma bela voz, e a banda Reação, oriunda do bairro Santos Dumont e que vem se especializando no reggae. Imperdível!

 

·               A gravadora Dubas pôs nas lojas o CD “Fake Standards”, obra-prima solo que o excelente músico e cantor Rodrigo Rodrigues, que integrou o grupo paulistano Música Ligeira, nos deixou como legado de sua breve passagem por este planeta. Trata-se de um passeio pela canção americana pré-rock, reunindo criações de autores que ajudaram a escrever o grande cancioneiro da primeira metade do século XX. Gente como Irving Berlin, Hoagy Carmichael, Richards Rodgers, Lorenz Hart, David Raksin, Johnny Mercer e Walter Donaldson estão presentes no repertório irretocável. O instrumental minimalista (os violões do cantor ou de Mario Manga, e eventuais sopros, como saxofone, clarinete e gaita, executados pelo próprio Rodrigues) realça o intérprete preciso, à la João Gilberto, Joe Mooney e Chat Baker. Com voz límpida, dicção perfeita e sem apelar para vibratos, Rodrigo Rodrigues saboreia cada sílaba das saborosas letras e apresenta um trabalho realmente aconselhável para quem tem gosto refinado.

 

·               As canções de Rita Rameh receberam os arranjos simples e eficientes do talentoso violonista Luiz Waack e resultaram no belo CD “Por quê?”, composto por quinze inspiradas faixas voltadas para a criançada em geral. De maneira inteligente, são apresentados diversos temas presentes no cotidiano infantil através de canções como “Bichos do Brasil”, “Família”, “Feira”, “Poluição”, “Praia, Campo ou Cidade?” e “Sons da Floresta”, os quais receberam as vozes de Cris Aflalo, Sérgio Espíndola, Alzira Espíndola, Jerry Espíndola, Maurício Pereira, André Abujamra e Gigante Brasil. Uma delícia de álbum!

 

·               O CD “Samba do Baú”, que acaba de chegar às lojas, tem por objetivo registrar doze sambas de grandes compositores do gênero nunca antes gravados. De alto valor documental, é o álbum de estréia no mercado fonográfico do grupo carioca “É com Esse que Eu Vou”, formado por Pedro Moraes (voz), Tiago Machado (cavaquinho), Rodrigo La Rosa (percussão) e Júlio Braga (percussão). Dentre as preciosidades pinçadas e constantes do repertório estão: “Hoje Sem Querer” (de Cartola e Babaú da Mangueira), “O Mundo É Mesmo Assim” (de Paulinho da Viola, Mauro Duarte e Elton Medeiros), “Se Eu Bebo” (de Nelson Cavaquinho), “Seis da Noite” (de Wilson Moreira), “Arrepio no Braço” (de João Nogueira e Carlinhos Vergueiro) e “Noite” (de Luiz Moura e Délcio Carvalho).

 

·               Irmã do talentoso Mário Adnet, a cantora Muíza Adnet lança, com distribuição da Tratore, o seu primeiro CD que vem a ser uma bela homenagem ao cultuado maestro e compositor Moacir Santos, o qual nos deixou há pouco tempo. Trata-se de uma lembrança mias que merecida a um grande artista que até hoje tem o seu talento mais reconhecido no exterior do que no Brasil. Muíza canta bonito: com voz bem colocada, ela sabe impregnar as canções de uma emoção particular. Das doze faixas, seis foram compostas em inglês. O próprio Moacir também se faz presente, dividindo os vocais em “Ciranda” e “Nanã”, dois dos melhores momentos do álbum. Há também as participações especiais de Milton Nascimento (“A Santinha Lá da Serra”) e Ivan Lins (“Tomorrow is Mine”).

 

·               Um novo cantor surge no mercado: trata-se de Maurício Pessoa, o qual acaba de lançar o seu homônimo CD de estréia através da gravadora MP,B. Produzido por Rodrigo Campello, o álbum traz onze faixas de autoria do próprio Maurício que se mostra um compositor razoável e um cantor mediano. A faixa “Lá Vai Maria” conta com a participação especial de Roberta Sá.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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