Musiqualidade

R E S E N H A

Cantores: VÁRIOS
CD: “A ARCA DE NOÉ”
Gravadora: SONY MUSIC

Em 1980 e no ano seguinte, foram lançados os dois volumes de “A Arca de Noé”, uma ideia voltada para o público infantil que foi arquitetada por Vinicius de Moraes e Toquinho. Muito bem recebidos tanto pelo público quanto pela crítica à época, traziam canções inéditas em gravações feitas por gente como Elis Regina, Fagner, MPB-4, Clara Nunes, Alceu Valença, Ney Matogrosso, Moraes Moreira, Elba Ramalho, Paulinho da Viola e outros.
Agora, buscando abiscoitar fatia de um mercado ávido pelas vendas relativas ao dia das crianças comemorado antes de ontem, a gravadora Sony Music põe nas lojas releituras de algumas dessas músicas nas vozes de outros intérpretes. Na verdade, o CD surge oficialmente como parte de um pacote de lançamentos que marcam o centenário de nascimento de Vinicius. Cognominado Poetinha, ele compôs com vários parceiros, dentre os quais Tom Jobim, Baden Powell, Edu Lobo, Carlos Lyra e Francis Hime, mas foi com Toquinho que compartilhou os últimos anos de sua carreira musical.
Idealizado por Susana Moraes (a filha mais velha de Vinicius), o novo projeto contou com a adesão imediata de Adriana Calcanhotto e Leonardo Netto e traz a maior parte das faixas produzida por Dé Palmeira. É sempre bom poder ter contato com uma obra realmente inspirada voltada para a gurizada e só por trazer à tona para as novas gerações essas canções tão simples quanto geniais, a iniciativa merece os mais entusiasmados aplausos.
E existem, de fato, interessantes releituras, as quais se consubstanciam como os melhores momentos da seleção apresentada. Estão entre elas: “As Abelhas” (com Marisa Monte), “O Pinguim” (com Chico Buarque), “O Pintinho” (com Erasmo Carlos) e “São Francisco” (com Miúcha e Paulo Jobim). Há os que cumprem direitinho a lição de casa, caso de Caetano Veloso (em “O Leão”, que traz também a presença de Moreno Veloso), Mart’nália (em “O Gato”) e Arnaldo Antunes (“O Peru”). E se o “O Pato” ganha reais contornos de samba para que dele possa se apropriar Zeca Pagodinho, “Galinha d’Angola” surge bem entusiasmada no registro da quase sempre elétrica Ivete Sangalo, o qual conta também com a participação do grupo português Buraka Som Sistema.
Neta de Vinicius e filha de Tom Jobim, Mariana de Moraes e Maria Luiza Jobim, respectivamente, surpreendem positivamente em “A Formiga” e “A Cachorrinha”. Já Maria Bethânia declama com a costumeira elegância o poema que inicia o disco, abrindo espaço para Seu Jorge (pouco à vontade) e Péricles. Em dia pouco inspirado (talvez por conta de algum resfriado), Gal Costa pôs sua voz em “As Borboletas” (podiam ter poupado a diva baiana!).
Completam o time a dupla Chitãozinho & Xororó (bem legais em “A Corujinha”), a Orquestra Imperial com voz solo de Rodrigo Amarante (em "A Foca”) e Calcanhotto travestida de Partimpim em “O Elefantinho”, o único tema inédito. Em gravação antiga, o próprio Vinicius acompanhado somente por Toquinho ao violão encerra os trabalhos com uma delicada versão de “A Casa” em formato de vinheta.
Trata-se, enfim, de um álbum super aconselhável para crianças de todas as idades!

N O V I D A D E S

* O sergipano Thiago Ribeiro, há anos residindo em Salvador (BA), se prepara para uma parada estratégica aqui em Aracaju. É que no próximo domingo, dia 20, a partir das 19 horas, no Espaço Reciclaria, localizado em frente ao nosso aeroporto, ele (que é vocalista, guitarrista e compositor), estará mostrando o trabalho que atualmente desenvolve com a banda Toco y Me Voy, formada ao lado do acordeonista Daniel Neto, do baixista Gustavo Marimbá e do baterista Ricardo Flocos. Na oportunidade, eles estarão lançando o primeiro CD que traz, na essência, o desejo de realizar uma fusão musical com liberdade para combinar ritmos e estilos diversos em busca de uma música sincera, genuinamente brasileira. A banda, que teve seu início em 2011, vem participando de diversos festivais e realizando vários shows, sempre recebendo comentários bastante elogiosos, especialmente no que tange aos ótimos arranjos concebidos para o repertório eminentemente autoral. Vale a pena conhecer o trabalho da galera e com certeza a gente se encontrará por lá!

* Viabilizado através do patrocínio da Natura, o novo CD do cantor e compositor Arnaldo Antunes acaba de chegar às lojas sob a chancela de seu próprio selo musical, o Rosa Celeste. Produzido a quatro mãos por Betão Aguiar e Gabriel Leite, intitula-se “Disco” e é composto por quinze faixas autorais, algumas delas feitas com parceiros. Não é o melhor título da discografia do artista que vem cada vez mais se soltando no quesito voz, mas apresenta momentos bem interessantes, tais como “Sou Volúvel” (tema composto ao lado de Marisa Monte e Dadi Carvalho – aliás, o trio também assina “Dizem” e “Querem Mandar”), “Muito Muito Pouco” e “Oxalá Chegar”, faixa que conta com a participação especial de Mônica Salmaso. Outros convidados são Céu e Hyldon em “Trato” e Marcia Xavier em “Azul Vazio”. Instrumentistas de primeira linha da atualidade aparecem nos créditos: Edgard Scandurra (guitarra), Daniel Jobim (piano), Cézar Mendes (violão), Marcelo Jeneci (sanfona), Curumin (bateria), Fábio Sá (baixo) e Guizado (trompete) estão entre eles. Arranjos de cordas, metais e madeiras são assinados por Ruriá Duprat e conferem um charme especial a várias passagens. Para quem curte a nova onda da música paraense, Arnaldo apresenta “Ela É Tarja Preta” (criada com Felipe Cordeiro, Luê e Manoel Cordeiro) e para os saudosistas da primeira formação dos Titãs, ele resgata “Sentido” (parceria com Nando Reis). Já os emepebistas mais tradicionais devem se identificar melhor com a delicada “Morro, Amor” (feita com Caetano Veloso) e a quase vinheta “O Fogo” (criada com João Donato). 

* Caberá a Jaime Alem e Jr Tostoi a produção do novo CD do cantor e compositor Fênix, o qual receberá o sugestivo título de “Minha Voz se Abre ao Mundo”, inspirado em ária da famosa ópera “Sansão e Dalila”. Entre as faixas, estão confirmadas as regravações de “Yaô” (de Pixinguinha e Gastão Viana), “Arrumação” (de Elomar) e “Vendedor de Caranguejo” (de Gordurinha).

* O cantor e compositor Carlos Careqa vivenciou o auge do movimento denominado Vanguarda Paulista que, surgido na década de setenta do século passado, adentrou com vontade na seguinte. Capitaneada por Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, a Vanguarda abrigou vários talentos então emergentes como as cantoras Tetê Espíndola e Vânia Bastos e o grupo Rumo do qual faziam parte Ná Ozzetti e Luiz Tatit. Como homenagem a essas tantas influências, Careqa idealizou o CD “Ladeira da Memória”, encampado pelo selo Sesc e já disponível. Nele, sob a direção musical de Paulo Braga, foram arregimentados vários artistas para dar voz a grandes canções que nasceram influenciadas pelo citado movimento. Estão lá desde Chico Buarque (na faixa-título, de autoria de Zé Carlos Ribeiro) e Nei Lisboa (em “Alma Não Tem Cor’, de André Abujamra, e “Laser”, de Zé Miguel Wisnik e Ricardo Breim) até Mariana Aydar (que, em companhia do pai Mário Manga, ressuscita “Padaria”, também ele o seu autor) e Tatiana Parra (em “A Companheira”, do já citado Tatit, e “Canção das Mulheres do Harém de Lampião”, de Nico Nicolaiewsky e Aderbal Freire Filho). O próprio Careqa apresenta uma nova versão para a sua bela “Acho” e rebobina “Londrina” (de Arrigo Barnabé). Já Marcelo Pretto confere novas luzes a “Negro Dito” (de Itamar Assumpção) e “Nós” (de Tião Carvalho). Completam a seleção as canções “Sonora Garoa” e “Pay Y Leche” que surgem nas vozes de Vânia Abreu e Celine Imbert, respectivamente. Um projeto muito interessante e realmente fundamental na cedeteca de todos os amantes da música de qualidade!

* A cantora mineira Kika Tristão, ex-integrante do quarteto vocal Be Happy, está lançando o seu primeiro CD solo. Intitulado “Naturalmente” (uma parceria de João Donato com Caetano Veloso), o álbum traz a produção assinada por Donatinho e Alex Moreira. O repertório traz temas de autoria de Gabriel Moura, Marcos Valle e Celso Fonseca, entre outros.

* Alternando temas instrumentais e canções com letras, o repertório de “Fotografia”, CD do compositor e violonista Luiz Flávio Alcofra, se faz formado. Trata-se de uma produção independente assinada por ele próprio ao lado do pianista Carlos Fuchs e recheada de participações especiais. Estão lá o terceto Terno Carioca e o grupo Água na Moringa, além do cantor Marcos Sacramento e das cantoras Valéria Lobão e Clara Sandroni. Os destaques do material inédito e autoral apresentado ficam por conta de “Das Dores”, “Mãe Guerreira”, “Estrela Solitária”, “Girolando” e “Velho Mestre”, esta uma homenagem ao sambista Wilson Moreira.

* O maestro pernambucano Spok (da Spok Frevo Orquestra) é o convidado de “Ventos do Norte”, o novo CD do saxofonista carioca Leo Gandelman, já nas melhores lojas do ramo. Neste trabalho, Gandelman homenageia saxofonistas nordestinos como os pernambucanos Moacir Santos e Severino Araújo e o paraibano Severino Rangel Carvalho.

* “Amizade” é o título do novo CD do grupo vocal Boca Livre que está chegando ainda este mês ao mercado através de uma parceria entre o selo MP,B e a gravadora Universal e vem para celebrar os trinta e cinco anos do quarteto formado pelas belas vozes de Zé Renato, David Tygel, Lourenço Baeta e Maurício Maestro. O repertório inclui temas inéditos (a exemplo da faixa-titulo, de autoria de Marcos Valle e Maurício Maestro, e “Terra do Nunca”, de Edu Lobo e Paulo César Pinheiro) e regravações (caso de “Mistério do Prazer, de Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho, “Paixão e Fé”, de Tavinho Moura e Fernando Brant, e “Baião de Acordar”, de Novelli). Esse realmente não vai dar para deixar de conhecer, né?

* E a aniversariante mais famosa e querida da semana é a cantora Leila Pinheiro. Paraense, estará completando mais uma primavera na próxima quarta-feira, dia 16, e é para ela que vão todas as luzes deste blog. Intérprete de técnica irretocável, Leila também é emoção à flor da pele. Dona de voz de um timbre belíssimo, ela igualmente se mostra privilegiada quando senta ao piano e se mostra uma talentosa instrumentista. Eclética, já mergulhou nos repertórios de Guinga & Aldir Blanc, Ivan Lins, Gonzaguinha e Renato Russo. Atualmente, enquanto prepara o seu próximo projeto musical, anda percorrendo vários teatros brasileiros com o ótimo show “Eu Canto Samba”. Saúde, paz e muita música!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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