Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: LUIZ MELODIA
CD: “ZERIMA”
Gravadora: SOM LIVRE

Embora filho de sambista e criado no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, a primeira incursão do cantor e compositor Luiz Melodia no mundo da música foi como integrante do grupo de rock Os Instantâneos. A vida seguiu, ele serviu o Exército e, logo depois, viu sua música "Pérola Negra" ser gravada por Gal Costa em disco de 1972. O sucesso foi tanto que, no ano seguinte, Melodia
lançou seu próprio disco, logo depois de Maria Bethânia registrar outra de suas mais famosas canções, "Estácio Holly Estácio".
A carreira caminhou de vento em popa e o artista se consolidou pelo estilo eclético que mistura rock, bossa nova, samba, pop, funk, baião e jazz. Foi gravado também por gente do porte de Elza Soares, Zezé Motta, Caetano Veloso e Emílio Santiago, entre outros, e não há quem não saiba cantarolar vários de seus sucessos, tais como "Magrelinha", "Dores de Amores" e "Juventude Transviada".
Acaba de chegar ao mercado, através da gravadora Som Livre, o mais novo CD de Melodia (o décimo quinto de sua discografia) que, desde 2001, não lançava um disco de inéditas. Trata-se de “Zerima”, produzido por Líber Gadelha e Humberto Araújo, o qual se faz composto por treze faixas cantadas e mais a instrumental “Amusicadonicholas”.
Mesmo não possuindo mais o brilho vocal dos áureos tempos, o sexagenário artista continua com gás para apresentar suas mais recentes criações, as quais, criadas ao lado dos parceiros Ricardo Augusto (a sincopada “Cheia de Graça”), Rubia Matos (“Caindo de Bêbado”) e Renato Piau (“Sonho Real” e o ótimo samba-canção “Cura”, cujo registro ressalta os bonitos graves do cantor), perfazem nove faixas e mantêm a digital já tão conhecida por seus inúmeros admiradores. As demais regaem sobre regravações de temas de Dona Ivone Lara em parceria com Délcio Carvalho (a pouco conhecida “Nova Era”, em arranjo adornado com cordas e harmônica, esta a cargo de Milton Guedes), Sérgio Sampaio (a inspirada “Leros e Leros e Boleros”) e Dorival Caymmi (“Maracangallha”, em registro no qual surge o filho de Melodia, Mahal Reis, inserindo a autoral “Viva Caymmi”), bem como sobre músicas que o artista ganhou do já citado Ricardo Augusto (a camerística valsa “Do Coração de um Homem Bom”) e de Jane Reis, sua esposa (a dançante e nordestina “Moça Bonita”).
Um dos melhores momentos do repertório apresentado fica por conta da bossa “Dor de Carnaval”, modulada para permitir a entrada em campo de sua convidada especial, a cultuada cantora Céu, cada vez mais segura em suas participações. Outros destaques ficam por conta do malemolente sambinha “Vou com Você”, do delicioso pseudo-reggae “Papai do Céu” e da canção-título que termina por beber em célula rítmica baiana.
Cercado de exímios instrumentistas, a exemplo de Luiz Meira (guitarra), Marcos Suzano e Jovi Joviniano (percussão), Marlon Sette (trombone), Jurim Moreira (bateria), Cláudio Jorge (violão) e Julinho Teixeira (teclados), Luiz Melodia apresenta um CD bem legal que, se lançado em tempos pretéritos (em que as nossas rádios não se bastavam somente com músicas banais), teria várias petardos prontos no gatilho para estourar por aí. Um trabalho, portanto, que vale a pena ser conhecido!

N O V I D A D E S

* Nascida em Porto Alegre (RS) em uma família de músicos, a cantora Vanessa Longoni está trabalhando na divulgação de “Canção para Voar”, seu segundo CD, o qual chegou ao mercado de maneira independente após cinco anos do lançamento de “A Mulher de Oslo” (o álbum inaugural que tinha o repertório baseado no cancioneiro popular de diversas partes do mundo). Com a produção dividida entre os irmãos e conterrâneos Gastão e Antonio Villeroy, o novo projeto é composto por uma dúzia de faixas que resultam em um produto plural no qual, longe da obviedade, cabe desde a deliciosa (e nordestina) “Painho Cuspiu” (de Eduardo Pitta e Alexandre Mello) até a uruguaia “Hojas de Tilo” (de Ana Prada). Com formação lírica e já contando com quinze anos de carreira, Vanessa surpreende pela familiaridade com o canto popular. Residindo desde 2010 no Rio de Janeiro, ela soube construir um disco solar em que suas possibilidades de intérprete se agigantaram. Dona de afinada voz de timbre belo e claro, ela reuniu canções assinadas por compositores que vêm despontando nos últimos tempos. Entre eles estão Délia Fisher (“Mercado” e “Nascimento da Vênus”), Lula Queiroga (“Sobreviventes”) e Magno Mello (a delicada faixa-título). Entre os momentos que merecem destaque especial estão “Bora” (de Eugenio Dale, em que reverberam ecos lusitanos), “Canto d’Alma” (de Vinicius Castro e sua aura flamenca) e “Onda do Mar” (de Pedro Mangia, construída sobre um refrão contagiante). Como cereja do bolo, há as participações especiais de Serginho Moah (vocalista da banda gaúcha Papas na Língua) na interessante “Fast Folhinha” (de autoria do já citado Antonio Villeroy) e de Danilo Caymmi em “Folia do Divino” (de Marcelo Delacroix e Rubem Penz). Na ficha técnica podem ser constatadas as presenças de grandes instrumentistas como Fernado Caneca (violão e guitarra), Marco Lobo (percussão), Bebê Kramer (acordeão), Carlos Malta (clarinete e flauta), Nicolas Krassik (violino e rabeca), Maycon Ananias (piano), Arthur Veroccai (arranjo de cordas) e Letieres Leite (arranjo de metais). Um ótimo CD de uma cantora que certamente vai dar muito que falar. Corra e ouça!

* A cantora Marya Bravo vai entrar brevemente em estúdio para gravar o terceiro CD da carreira, o qual deverá chegar às lojas ainda este ano através da gravadora Joia Moderna. O repertório será calcado no do espetáculo “Apesar de Você”, realizado recentemente pela artista no Rio de Janeiro com grande aceitação de público e crítica dentro do ciclo multimídia “Arte e Autoritarismo em Cena”, realizado para marcar os cinquenta anos do golpe militar de 1964. Com pegada roqueira, ela eternizará canções de cunho político criadas por compositores que se rebelaram contra a ditadura, dentre elas “Canção do Medo” (de Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri), “Pesadelo” (de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro) e “Cartomante” (de Ivan Lins e Vítor Martins).

* E o projeto Samba Social Clube chega ao seu volume 5. Subintitulado “A Maior Roda de Samba de Todos os Tempos”, foi gravado ao vivo, em março deste ano, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, e chega às lojas através de uma parceria entre as gravadoras EMI e Universal. Nada de novo no ar tanto na escolha do time de artistas convidados (que reúne, em quatorze faixas, os experientes Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Leci Brandão, Jorge Aragão e o grupo Fundo de Quintal com os mais recentes Péricles, Roberta Sá, Mariene de Castro, Xande de Pilares, Mumuzinho, Mart’nália e Teresa Cristina) quanto na seleção das músicas apresentadas (a maioria recolhida entre temas conhecidíssimos, a exemplo de “Vai Vadiar”, “Água de Chuva no Mar”, “Madalena do Jucu”, “Zé do Caroço”, “Minha Rainha”, “Roda, Ciranda” e “Tendências”). Deve vender muito, mas poderia ser bem mais audacioso em todos os sentidos!

* Em agosto, completaram-se vinte e cinco anos que o cantor e compositor Raul Seixas partiu e isso serviu de mote para mais uma homenagem ao roqueiro baiano, a qual se concretizou com uma nova edição do projeto intitulado “O Baú do Raul”. Um show foi realizado na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ), com as participações de Ana Cañas, Baia, Jerry Adriani, Gabriel Moura, Marcelo Jeneci, Maria Gadú, Plebe Rude e Zeca Baleiro, entre outros, e devidamente registrado, dará origem a CD e a DVD ao vivo que, através da gravadora Som Livre, chegarão ao mercado ainda este ano.

* Bem melhor do que a telenovela em si, a trilha sonora da global “Geração Brasil” já se encontra disponível nas melhores lojas do ramo. O CD traz, em dezoito faixas, interessantes fonogramas, tais como “Tudo Tão Quieto” (com Elza Soares), “Me Dê Motivo” (com Adriana Calcanhotto),  “Vê se me Esquece” (com Zélia Duncan) e “Para um Amor no Recife” (com Julia Konrad, em gravação feita com o sergipano DJ Dolores).

* Marta Ozzetti está lançando o instrumental “Duos”, belo CD em que une a sua delicada flauta a pianos executados com competência por Ana Fridman, Heloisa Fernandes, Karin Fernandes e Tadeu Borges. Produzido pela própria instrumentista, o álbum conta com nove temas, alguns deles inéditos. Entre os melhores momentos estão “Abre a Cortina” (de Dante Ozzetti e Luiz Tatit), “Choro e Divertimento” (de Nailor Proveta) e “Insônia” (de Cyro Pereira). Marta, para quem não sabe, é irmã da grande Ná Ozzetti.

* Já se encontra disponível, através da gravadora Universal Music, a coletânea “Você Vai Estar na Minha – Duetos” que reúne quatorze encontros musicais da cantora Negra Li com vários colegas, a exemplo do grupo Charlie Brown Jr. (“Não É Sério”), Caetano Veloso (“Meus Telefonemas”), Skank (“Ainda Gosto Dela”), Nando Reis (“Negra Livre”) e Gabriel O Pensador (“Deixa Rolar”). Há ainda uma gravação inédita em disco: “Chain of Fools”, feita por Li com a roqueira baiana Pitty.

* A cantora, compositora e atriz Silvia Nicolatto é mineira e está lançando o seu segundo CD, o sucessor de “Além dos Gestos”. Trata-se do independente “Cantiga”, trabalho produzido por ela ao lado de Rodrigo de Castro Lopes e composto por dez faixas. Silvia vem batalhando sua carreira há algum tempo, já tendo, inclusive, se apresentado fora do Brasil com êxito (ela possui outro álbum lançado na Inglaterra). Por aqui, participou do coro de discos de artistas como Francis Hime, Olívia Hime e o grupo Casuarina. O repertório do recém-lançado projeto é basicamente autoral e, além de músicas compostos solitariamente, ela mostra criações feitas ao lado de Rodrigo Lessa (“Almoço na Casa do Dino”), Raphael Gemal (“Ainda”) e João Cavalcanti (“Criança”). Com voz doce e bastante agradável, Silvia revisita “Canoa Canoa” (de Nelson Ângelo e Fernando Brant, tema que se tornou conhecido por conta do vigoroso registro de Milton Nascimento).

* O selo carioca Discobertas, capitaneado pelo incansável Marcelo Froes, está lançando o box “Rainha do Rádio”, o qual contempla, em quatro CDs, quarenta e quatro canções interpretadas ao vivo por Ângela Maria durante programas apresentados pela Rádio Nacional na década de cinquenta do século passado, época em que ela se encontrava no apogeu do seu reconhecimento. Com acompanhamento de orquestra e presença de plateia, a grande Sapoti soltou sua bela e potente voz em criações de diversos compositores da nossa MPB, a exemplo de Lupicínio Rodrigues (“Vingança”), Ivon Cury (“Recusa”), Ary Barroso (“Terra Seca”), Tom Jobim (“Não Devo Sonhar”), Othon Russo (“Sabes Mentir”) e Herivelto Martins (“Ave Maria no Morro”). Memorável registro histórico!

* A gravadora Universal Music pôs recentemente nas lojas um box que acondiciona sete CDs lançados pelo grupo paulista Os Mutantes (formado por Rita Lee com os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias) em sua fase áurea. Seis são álbuns de carreira do grupo e o derradeiro, uma compilação intitulada “Mande um Abraço para a Velha”, contendo gravações avulsas.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais