Embora o primeiro caso confirmado pelo Ministério da Saúde de reinfecção pelo novo coronavírus no Brasil seja de outubro do ano passado, um estudo publicado na revista científica Journal of Infection por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e outras oito instituições apontou que variantes do novo vírus respiratório já circulavam, pelo menos, há sete meses no estado.
Entre maio e julho do ano passado, uma profissional de saúde de 40 anos, que mora em Aracaju, contraiu duas vezes o SARS-CoV-2 no intervalo de 54 dias. Após a análise das coletas das amostras genéticas da paciente, foi identificada, no segundo exame, uma mutação do vírus que ainda requer estudos para verificar o potencial de transmissão e gravidade. A publicação também documentou a primeira morte por recorrência da doença (reativação viral) no Brasil.
Mais de 60 linhagens do novo coronavírus já foram identificadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em solo brasileiro, com predomínio de duas com circulação nacional desde março de 2020: B.1.1.33 e a B.1.1.28. Detectada pela primeira vez em Manaus-AM, a variante brasileira, batizada de P.1, é apontada como uma das possíveis causas para a situação dramática da epidemia na capital amazonense no início do ano. Em Sergipe, sete linhagens já foram localizadas, segundo o Lacen-SE (Laboratório Central de Saúde Pública).
Com experiência em pesquisas de ensaios pré-clínicos de testes e desenvolvimento de vacinas no país, o professor do Departamento de Educação em Saúde da UFS, Diego Moura Tanajura, alerta que a ampla circulação do vírus é o cenário ideal para a ocorrência de mutações. Por isso, a vacinação em massa é apontada como a saída para o controle da transmissão.
“Vacinando a população, você acaba diminuindo a chance do vírus circular. Se ele circula menos, você acaba tendo menos mutações e, consequentemente, é menor o surgimento de novas variantes, de novas linhagens,” ressalta Diego Tanajura.
As variantes inglesa (B.1.1.7), brasileira (P.1) e sul-africana (B.1351), aponta o professor, são bastantes preocupantes por apresentarem alta taxa de transmissibilidade, com possibilidade de aumentar o número de casos e mortes pela infecção. “Isso não quer dizer que essas três variantes sejam mais letais. Acaba morrendo mais gente porque mais pessoas estão se infectando. Então, é algo assim proporcional”, ressalva.
Tanajura também chama a atenção para o grau de resistência da variante da África do Sul aos anticorpos neutralizantes (induzidos pela vacinação ou contato com o vírus). “No Brasil, a linhagem do Amazonas também apresenta essa mutação, o que pode ser um indício de que a nossa variante acabe sendo mais resistente aos anticorpos neutralizantes. A gente precisa de mais estudos para confirmar isso, mas a gente tem esse indício”, comenta.
Com o ritmo lento de vacinação, o professor explica que há um risco do vírus se adaptar a novas condições e atacar gravemente outros grupos populacionais. “Então, por isso, é urgente a necessidade de uma vacinação rápida para que não dê tempo do vírus sofrer mutações e se adaptar para infectar outras faixas etárias que não receberam a vacina, já que a gente está falando de vírus, que é um micro-organismo que sofre mutação muito fácil e muito rápido”, pontua.
Suspeita-se ainda de um comportamento similar do novo coronavírus ao vírus da gripe, que aparece anualmente. “Futuramente, a gente vai ter que adaptar as vacinas atuais para algo semelhante à vacina da gripe, que é uma vacina trivalente e utiliza três cepas do vírus da gripe para que você fique protegido contra essas três cepas mais predominantes”, pondera Tanajura.
Por que é preciso manter as medidas de biossegurança, mesmo vacinado contra a covid-19?
No vídeo abaixo, o professor Diego Moura Tanajura explica por que as medidas sanitárias devem continuar a ser adotadas, mesmo com a imunização. Confira:
Fonte: Universidade Federal de Sergipe
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