Um país que fede; até no noticiário!

Há uma dúvida na nossa formação cultural.

Seríamos um país diferente se vingasse e crescesse a colonização holandesa de Maurício de Nassau em Pernambuco?

Há quem acredite assim, outros nem tanto.

Para alguns o nosso defeito seria resultante de um vício original: o caldeamento das “três raças tristes”: a branca do português inculto, preguiçoso e safado da primeira geração aqui chegada a partir de 1500, a indígena, culturalmente atrasada que os recebeu como deuses, e a negra, vocacionada para a servil docilidade.

Dos primeiros portugueses, degredados em maioria, constituía plantel indesejado de pequenos ou grandes criminosos em terra pátria convenientemente exportados para ressocialização em nossas plagas.

Os índios, por sua vez, eram indivíduos contemplativos e indolentes em vida nômade e caçadora sobremodo.

Pelo que se sabe, não possuíam atividade agrícola ou pastoril destacada.

Fabricavam alguns objetos toscos de cerâmica, potes, tigelas, urnas funerárias, e não eram tão pacíficos como Rousseau dissera do bom selvagem, nascido puro e ainda não corrompido pela sociedade.

Porque na sociedade dos índios era comum as brigas tribais, com vitórias  festejadas em carnificina antropofágica, Índio churrasqueava índio, quando se matava a fome ao mesmo tempo que acreditava estar adquirindo por “sustança” a força e o mérito das suas vítimas.

Quanto ao elemento negro, este já vinha escravo desde o nascituro.

As tribos africanas, em suas lutas ancestrais, longe da predação por antropofagia, preferiam escravizar os vencidos, quando não simplesmente os dizimar, em extermínio genocida.

Ainda hoje são repetidos morticínios no noticiário vindo das terras afras, por motivações étnica, racial ou religiosa; tudo aquilo que ofende qualquer traço de humanização imaginada.

De forma que a importação cruel de mão de obra tumbeira fora uma conjugação de indolência, relutância e docilidade;  preguiça do lusitano no cultivo da lavoura, resistência à dominação e pouca docilidade do nativo caçador, e melhor submissão dos negros, por essência  nascitura, à exploração do homem branco.

Poder-se-á dizer que não foi bem assim. O português era ousado, uma raça notável que esmagada entre a montanha e o mar-oceano e fez-se ao mar para aprender a rezar e conquistar. 

Dir-se-á como suprema ousadia que nenhum povo conquistara tanto, semeando a fé e o império, mundo afora.

Se depois a raça não conseguiu um sucesso maior nas suas colônias, foi porque se exauriu em suas conquistas.

Era terrível manter a própria independência na semiárida península ibérica, sobretudo com tanta gente exportada via mar profundo.

Quanto à mancebia, outra característica aqui chegada com o conquistador, fora-lhe arraigada enquanto hábito herdado de uma ibéria ocupada por centenária ocupação mourisca.

Ficara desta ocupação islamita uma tradição poligâmica, sempre condenada por frades e pregadores cristãos.

Uma praxe que não ofendeu nem aos costumes do conquistador, de inspiração e desejos poligâmicos, nem a dos silvícolas que bem partilhavam suas mulheres com muitas índias dando sopa, num verdadeiro paraíso para refestelo da lusitana marujada em quarentena plena de abstenção sexual.

Desde a ancoragem no Porto Seguro de Santa Cruz de Cabrália, no ilhéu da coroa vermelha, acontecida em pleno momento de Páscoa, os nautas subindo pelo convés requerendo desafogo dos desejos reprimidos numa quaresma recente, mais que tudo estavam convidados à luxúria, ao desafogo dos desejos lúbricos.

Poder-se-ia bem dizer que na chegada da marujada lusa juntava-se a fome com a festa. E com a melhor refeição, o mais divino banquete; a descoberta mais notável do Criador, afinal não houvera nem desencontro, nem discordância, muito mesmo uma incompatibilidade qualquer que fosse, para listar por exceção, conteúdo e continente, entre chave e fechadura.

E neste “banqueteio” aparatoso,  a mulher brasileira, com seus enleios e meneios, contribuía com beleza tamanha, jamais vista, que encantou até o escrivão primeiro, Pero Vaz de Caminha, um homem maduro e ponderado, a ponto de traçar paixão e desejo só ao ver “três ou quatro moças bem novinhas e gentis, com cabelo mui pretos e compridos pelas costas e suas vergonhas tão altas e tão saradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha” .

Uma vergonha, diga-se por destaque que não existia então, pois não havia ciúme, e o aborígine gostava de compartilhar sua grei. Sentia-se enriquecido com tanta preferencia, sobretudo vendo a raça se branqueando.

Preferências à parte, fala-se até que o português se fez adorado nos devaneios eróticos, ensejando paixão no mulherio autóctone, sem que o macho nativo sentisse qualquer incômodo.

Assim, a terra restou dadivosa permitindo muito compartilhamento de raças.

Nossa história, é bom que se destaque, não narra relatos parecidos como o rapto das sabinas pelos nascentes romanos.

Há quem diga mediante um comentário permeando chiste e malícia, que as índias se apaixonaram perdidamente pelo tacape português.

Pesquise-se algo parecido em “Origem da Imoralidade do Brasil (1967)”, do sergipano Abelardo Romero.

E que se fale também da lendária Moema, do poema de Santa Rita Durão, que se perdeu no mar, seguindo a nado o barco, oceano a dentro, tentando alcançar o seu amado Caramuru que voltava a Europa.

Safadeza ou não, neste relacionamento colonizador-aborígene, só houve luta e inimizade quando quiseram botar o índio para trabalhar. Isso não era a sua praça, como se diz hoje em dia. Foi preciso inserir o elemento negro, bom no eito.

Dito isso, em desfeita ou desajeito, acredita-se que se o Brasil fosse colonizado pelos Holandeses, o resultado seria melhor, dado ao comportamento mais eficiente do povo batavo.

Na verdade este raciocínio não é tão preciso.

Há quem afirme que excluindo os Estados Unidos e o Canadá, não houve nas Américas melhor sucesso na colonização europeia que a portuguesa. 

O Brasil permaneceu unido, não se fragmentou. Não virou um feudo despedaçado de republiquetas inexpressíveis comandado por tiranetes e caudilhos.

Quanto à passagem holandesa, banida de Recife e Olinda, esta foi parar na ilha de Manhattan, onde consolidou a cidade de Nova Amsterdam que depois virou Nova York, destino primeiro de visitação mundial.

Já os Holandeses, donos de uma terra excessivamente úmida, construíram nos Países Baixos uma civilização notável com seus diques impedindo a salinização do solo por invasão do mar.

Enquanto isso, o nosso Rio São Francisco vê o mar avançando rio a dentro e a culpa é do rio que está a morrer por incúria dos homens, que teimam em empesteá-lo com esgotos.

Temário de ecologistas, o Velho Chico como todos os nossos rios permanece como escoadouro de discursos políticos e crimes ambientais insanáveis.

Quanto mais se fala e discute sobre o tema por especialistas ditos renomados e nunca à procura de remunerações públicas, mais os nossos rios viram memória, enquanto cagaçal hereditário.

E haja CAGAÇÃO, em lodaçal de cheirume a céu aberto.

Fedentina como a do canal do Tramandaí, escoadouro de esgoto mal tratado a preço alto bem cobrado (40% de todo consumo de água), espalhando-se pela orla da Praia Formosa, margeando a própria Aracaju.

Dir-se-á daqui a algum tempo, ou já por agora, que Aracaju cheira a … A que?

E aí bem vale viajar, visitar outros povos como a Holanda. Saber sua realidade, sua luta de sobrevivência frente aos desafios geográficos, até para conhecer a maneira como trata os seus dejetos, sem contaminação de efluentes nos canais.

Que diferença da Holanda! Um país conquistado em luta ferrenha do homem contra a degradação do solo, onde toda água doce é bem utilizada, quase na mesma cota do mar, sempre mantido isolado por diques e comportas.

Ver como seria a solução de nossos problemas de esgoto se existisse em nós um misto de seriedade e determinação holandesa.

Infelizmente isso é muito difícil. Mais fácil é discutir Lava-jatos e outros escândalos comuns e recorrentes.

Melhor é ser o paraíso ideal que teima em apodrecer sem conseguir amadurecer: um país que fede; até no noticiário!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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