A Ponte Invisível

É o assunto do momento. Ganha até da disputa(?) morna e sonolenta entre Geraldo Bom Mocinho Alckmin e Luís Inácio Boa Gente Lula. E aqui não comporta análise de quem é o menos pior para o Brasil; tudo continuará como antes, para delírio dos banqueiros.

 

A ponte. Sim, o assunto do momento é a ponte Aracaju/Barra dos Coqueiros. Abro jornais e lá estão as matérias, todas falando que a Barra não está preparada para a dita cuja.

 

É hilário. Um comerciante declarou solenemente que foi pego de surpresa. Como, pego de surpresa, meu amigo? Três anos de construção e o senhor não viu a ponte? É, pode ser. Via a ponte, quem queria vê-la. Mas, como tudo é possível, a dita – que é muito pequena – pode ter ficado invisível durante a construção. Mas o essencial é invisível para os olhos; só se ver bem com o coração –  mestre Exupéry sabia das coisas.

 

Uma senhora, dona de bar na Praia da Costa, foi entrevistada por um repórter.

 

—- O que a senhora está achando da   ponte?

 

—- Ponte ? Que ponte?

 

O repórter, evidentemente, ficou surpreso.

 

—- A ponte sobre o Rio Sergipe.

 

Agora a surpresa foi da bem informada dona de bar.

 

—- Quer dizer que aquilo ali é uma ponte? Incrível, eu nunca reparei direito.

 

O Poder Público faz coro com alguns comerciantes ( principalmente bares e restaurantes) das praias e também diz que a Barra não está preparada. O que ocorreu realmente é que muitos não acreditavam no início da construção da ponte. Diziam – por politicaria ou bobagem – que era uma obra eleitoreira, que nunca sairia do papel. Depois, passaram a não acreditar em sua conclusão. E quem acreditava – como é o meu caso – era alvo de zombarias. Tem até os que falam que, se ela for concluída, irá cair. E o escárnio era tão grande que muitos prometeram atravessar o rio nadando se a ponte fosse construída. Pena que não cumpriram a promessa e estão desfrutando, com imponentes carrões, do magnífico espetáculo visual da travessia.

 

Pois bom. A ponte está praticamente concluída e só agora os céticos começam a ver a besteirada que falavam. Pra se ter uma idéia, a Praia da Costa, onde atualmente se concentra a maior parte dos turistas, internos e externos, não foi em nada beneficiada. A rua( que poderia ser hoje uma avenida) é estreita e, aos domingos, vira um epicentro do inferno, com carros estacionados dos dois lados, restando apenas um estreito beco, que gera engarrafamento e já provocou várias confusões entre motoristas. A Atalaia Nova tem algumas ruas praticamente intransitáveis. Como, minha amiga, iluminação e segurança? Você deve estar brincando!

 

Vulfânia, a minha assistente free-lancer, que, entre outras qualificações, diz que é especialista em marcas, genéricos e tópicos gerais( nunca entendi o que é isso), e que tem uma barraca na praia, onde vende licores e batidas( ela bebe quase a metade do estoque), disse que também foi pega de surpresa.

 

Fiquei irritado com tamanha baboseira.Achei que ela falou tal asneira num momento de embriaguez. E eu só admito os seus horríveis hábitos etílicos/pinguçosos porque ela é muito competente. Ela provou, com seus costumeiros gráficos e cálculos, a Antônio Carlos Magalhães, que não havia a menor possibilidade de Jaques Wagner ganhar a eleição na Bahia.

 

Ela não me contou( é muito modesta), mas eu soube que ela garantiu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que se ele atacasse Lula e o chamasse de fanfarrão, Alckmin iria crescer e ganhar facilmente a eleição, porque o povão não gosta de fanfarronices. E tem mais; depois de conversar demoradamente com ela, Adelson Alves decidiu formar uma chapa com Toeta e disputar  a eleição para presidente da República, em 2010.

 

Voltando à ponte, tem um lado da situação que merece atenção. Alguns comerciantes estão receosos de investir na melhoria de instalações, pessoal e estoque por causa da indefinição do pedágio. Vai ou não ter a infeliz criação de algum desnaturado? E se tiver, quem ficará isento ? Os moradores da Barra e os de Aracaju? Os de cidades próximas à ponte ? Todos os sergipanos?

 

Quem atravessará a ponte, para, por exemplo, desfrutar de uma praia, um almoço à beira mar ou passar um dia numa pousada pagando pedágio, quando Aracaju tem a melhor orla do Brasil, gratuitamente, sem falar nas praias do litoral sul?

 

É, certamente, hora de o governador eleito, Marcelo Déda, se pronunciar a respeito. A ponte já não é mais invisível.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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