“Por que se muda tanto de partido?”, por José Souza Bancário*

A publicidade produz coisas belas. Uma peça que ficou na memória de todos nós foi a dos biscoitos. “Tostines vendem mais porque são fresquinhos ou são fresquinhos por que vendem mais?”. Recuperei a propaganda para abordar o troca-troca de partidos pelos políticos em nossa cidade. E, parafraseando a peça, pergunto: os políticos trocam de partidos por que os partidos são fracos ou os partidos são fracos por que os políticos trocam de partidos?

A lógica da política, evidentemente, é diferente da lógica Aristotélica. Os políticos trabalham com outras premissas. E o que é a política? De origem grega, a palavra política refere-se a pólis que significa cidade. Do grego, aliás, são quase todos os termos de nosso vocabulário político, como monarquia, aristocracia, democracia, oligarquia e demagogia.

A palavra política passou a significar ainda tudo o que se refere a poder; a luta pela conquista, manutenção, consolidação e expansão do poder, as instituições por meio das quais o poder é exercido; e ainda a reflexão sobre a origem, a estrutura e a razão de ser do poder.

Mas, vamos ao que interessa. A pretensão do artigo é especular sobre os motivos do troca-troca de partidos pelos políticos, já que acabamos de sair de uma eleição. Isto não é uma tarefa fácil. Podem questionar: a mudança não é salutar? Na democracia é assim, a gente fica onde está satisfeita. Outros dizem: o importante é o homem. Alguns radialistas afirmam de boca cheia: “o partido é só um detalhe”.

O debate levantado não se reduz à mudança em si, no sentido do movimento, de que nada fica parado. Questionamos o por quê do vai-e-vem dos políticos. De uma maneira geral, há nas fichas de filiações partidárias a cláusula: “declaro estar de acordo com o estatuto e o programa do partido”. O ato de filiação é espontâneo. Ninguém é obrigado a fazê-lo. Depois de matutar sobre isto, procurei investigar esse fenômeno na política partidária em Aracaju de 1996 a 2004, portanto, num período de 10 anos. O levantamento abarca somente os cargos de prefeito e vereador de Aracaju.

Dos seis candidatos à prefeitura somente um não mudou de partido. Quanto aos postulantes à Câmara Municipal, selecionei 32 nomes, dos quais somente cinco não mudaram de sigla partidária. Há casos de político que mudou de partido em todas as eleições. Algo parecido com o que acontece com o futebol. Fulano agora é do Vasco ou do Flamengo? A impressão que fica é que os políticos não estão preocupados com os partidos, com a democracia ou coisa que o valha. Fica evidente que eles buscam apenas e tão somente um espaço que lhes ofereça as maiores vantagens.

Esse troca-troca atinge todos partidos indistintamente. Desde s considerados grandes, que têm a maior taxa de rotatividade, às agremiações pequenas, de pouca consistência ideológica, apelidadas de legendas de aluguel. Quem não lembra do PRN criado às vésperas da eleição de 89? O partido chegou a ter 46 parlamentares no Congresso Nacional. Hoje não possui nenhum.

Já os partidos de esquerda, de maior nitidez programática e ideológica têm baixo o índice de mudança. Estes têm crescido sua representação em todos os espaços. E por que isto ocorre? A democracia é um valor histórico, se constrói no tempo e no espaço. No Brasil, ela é muito jovem, ainda está em formação. Estamos vivendo provavelmente o período de maior duração democrática.

Nos períodos autoritários, os partidos foram extintos e a liberdade de expressão e manifestação foram duramente cerceadas. A ditadura militar impôs a regra de dois partidos na vã tentativa de controlar o processo político brasileiro. Isso talvez, explique a fragilidade do nosso sistema partidário. O problema político brasileiro não diz respeito ao número de partidos. O processo
democrático se encarrega de separar o joio do trigo, excluindo por exemplo os ditos “de aluguel”, como o PRN.

Por fim, fica a constatação de que a postura de políticos que mudam de partido como quem troca de camisa, não contribui para o fortalecimento da democracia e dos partidos. Cabe aos eleitores à tarefa de distinguir quem é quem na hora de votar, para que a peça publicitária da política se inverta e seja dita: os políticos são fortes porque os partidos são fortes.

*José Souza Bancário é presidente do PCdoB de Aracaju

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