A propósito de Zé Carlos Teixeira

Um importante político de Sergipe já fora de combate mas ainda bem vivo para contar a história é José Carlos Mesquita Teixeira, que no próximo dia 3 de maio completa 78 anos. A propósito, lembra-se dele também por conta dos 50 anos do golpe de 1964, já que foi opositor do malfadado regime e um dos fundadores do MDB em 1966. Mas o filho do "sujeito" Oviêdo Teixeira é de esquerda?

Certa feita, uma afirmação feita por esta coluna deixou indignado o eterno recalcitrante Nelson Araújo. Asseverou-se o seguinte: “a capital é dominada pelos esquerdistas desde a democratização do país, em 1985, quando assumiu José Carlos Teixeira.”
Nelson, que era deputado estadual pelo PMDB naquele ano, considerou despropositada a inclusão do peemedebista Zé Carlos dentre os simpatizantes do ideário esquerdista. O argumento dele era que, ao ser nomeado prefeito-tampão, para um mandato de sete meses, Zé Carlos estava servindo aos interesses da direita, pois havia sido indicado para dirigir Aracaju pelo então governador em primeiro mandato João Alves Filho, recém-saído do PDS e, à época, já no PFL. É discutível. Vamos aos fatos.

A nomeação de José Carlos Teixeira para prefeito biônico de Aracaju, a partir de 30 de maio de 1985, atendeu a um amplo acordo político que visava à concretização em Sergipe da Aliança Democrática (PMDB + PFL) e tendo em vista a eleição municipal de 15 de novembro daquele ano.
Sergipe foi um dos últimos estados onde se fechou a aliança que elegeria Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, derrotando Paulo Maluf e sepultando o ciclo militar de 21 anos. E a demora se deu porque João relutou até o fim em fazer a composição com os peemedebistas.
Na convenção do partido em maio, o governador ainda hesitou se não seria melhor o acordo com o PDS do ex-governador Augusto Franco do que com o PMDB. Ibarê Dantas (Eleições em Sergipe – 1985/2000) recorda que a intervenção do então vice-governador Antônio Carlos Valadares foi decisiva para que a opção pelo partido oposicionista saísse vitoriosa.
Note-se que José Carlos Teixeira, um histórico fundador do MDB, em 1965, não tinha só esquerdistas ao seu lado, nas fileiras do partido. Se ali estavam o deputado federal Jackson Barreto e os deputados estaduais Leopoldo Souza, Guido Azevedo, Laonte Gama e o próprio Nelson Araújo, também estava o senador Albano Franco, um egresso do PDS que namorou o PFL e acabou se filiando ao PMDB — se bem que a convite do próprio Teixeira. Mas é fato que Nelson e Albano abrigavam-se naquele momento sob o mesmo teto.

MUDANÇA SIGNIFICATIVA NA POLÍTICA — “Como efeito do pacto, o PMDB passaria a participar do governo João Alves com direito à prefeitura de Aracaju até a posse do novo eleito, quatro secretarias e mais cerca de treze outros cargos do segundo escalão”, recorda Ibarê Dantas, ressaltando que os egressos do PDS que estavam agora com João também não ficaram muito satisfeitos com o acordo.
“Da prefeitura, Heráclito Guimarães Rollemberg, que a ocupava há seis anos, saiu sem passar o cargo ao seu sucessor, deixando projetos de aumento do funcionalismo, enviados à Câmara de Vereadores no apagar das luzes de sua administração e, segundo se noticiou, uma lista de nomeação de cerca de 3.000 funcionários que o Diário Oficial não chegou a publicar”.
Ibarê prossegue lembrando que, no discurso de posse, utilizando uma figura de retórica própria do clima do momento, Zé Carlos prometeu “limpar as ruas do autoritarismo e dos entulhos para que o povo aracajuano” (pudesse) “escolher livremente, através das urnas, o seu prefeito no dia 15 de novembro”. Segundo o historiador, esquerdistas, comunistas, proscritos da política que estiveram militando na oposição passavam a integrar o seu secretariado.
E, mais importante, conclui assim: “Era uma mudança significativa na política sergipana como não se via desde o início do regime militar, mas de amplitude e profundidade limitadas. Basta observar como a grande maioria dos cargos da máquina estatal era ocupada pelos pefelistas procedentes do situacionismo do regime autoritário a quem respaldaram com desenvoltura. De qualquer forma era um avanço com perspectivas das mudanças ampliarem-se com a eleição da capital, cuja campanha se acelerava”.
Jackson Barreto se impôs como candidato e venceu a eleição para prefeito de Aracaju pela primeira vez — com Marcelo Déda (PT) ficando em segundo e Gilton Garcia (PDS), em terceiro — respaldado pela Aliança Democrática.
Depois desafeto de José Carlos Teixeira, o próprio Jackson admitiu que naquele momento foi necessário que o PMDB assumisse a prefeitura, mesmo que de forma biônica e indicado por um governador do PFL. “Não se pode negar o papel histórico dele e, especificamente, naquele momento de transição”, afirma o hoje governador, reconhecendo em Zé Carlos o meritório papel que desempenhou como político de centro-esquerda.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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