Agamenon Sobral e a educação pública

Sempre neguei o uso da expressão popular “fulano calado já está errado”, por entender que ela carrega o simbolismo do cerceamento prévio à liberdade de expressão individual. Resolvi abrir uma exceção em minha repulsa, pois percebi que o ditado cabe como uma luva para o vereador Agamenon Sobral (PP), responsável pelas mais estapafúrdias afirmações proferidas na Câmara de Aracaju este ano. Para ficar com apenas um exemplo, basta a absurda declaração de Agamenon, durante uma sessão ordinária da Câmara, invocando o retorno da Ditadura Militar como forma de moralização da sociedade.

Outra qualidade do vereador do PP é, como uma metralhadora, sair disparando ofensas a quem lhe faz qualquer crítica. Jornalistas, sindicalistas, estudantes e até colegas de parlamento já foram alvos de grosseiras, desrespeitosas e infundadas palavras de Agamenon Sobral.

Quando o assunto é educação pública, aí é que o vereador revela o seu abissal desconhecimento sobre a realidade e o seu total despreparo para atuar como representante do povo. Sem qualquer proposta real de melhoria da educação pública, Agamenon opta em única e exclusivamente atacar os trabalhadores e trabalhadoras da educação. Vejamos.

Na semana passada (dia 25 de junho), Agamenon usou a tribuna da Câmara para dizer que “desde que o SINTESE foi criado, o ensino público acabou”. A afirmação de Agamenon é, no mínimo, irresponsável com a organização que mais tem contribuído com propostas para o fortalecimento da educação pública em Sergipe. O melhor exemplo do que o SINTESE pensa e propõe para a educação pública foi sintetizado no  projeto “A Escola Democrática e Popular – a educação que queremos”, elaborado coletivamente por professores e professoras da capital e do interior do estado. Professores e professoras que estão no chão da sala de aula, que vivenciam cotidianamente os problemas e as potencialidades da educação pública.

Em entrevistas à imprensa, o colega de parlamento de Agamenon Sobral, vereador Iran Barbosa (PT), afirmou ter distribuído no início dos trabalhos legislativos municipais exemplares do projeto formulado pelo SINTESE a todos os vereadores de Aracaju. Cabem, então, algumas perguntas: será que Agamenon Sobral fez uma leitura do projeto? Se leu, será que Agamenon Sobral entendeu o que ali está proposto? Se leu e entendeu, o que motiva Agamenon a afirmar que o Sintese acabou com o ensino público? Será que Agamenon discorda de algo que está descrito no projeto? Se discorda, por quê não debater publicamente com argumentos?

Mas esse não foi o primeiro (faria bem se fosse o último) ataque desesperado e destemperado de Agamenon Sobral ao SINTESE. Antes, no dia 13 de junho, também da tribuna da Câmara, o vereador atribuiu aos professores e professoras a responsabilidade pela morte de uma jovem na cidade de São Cristóvão. Palavras do próprio Agamenon: “esse é o resultado da greve. Se tivesse tido aula essa menina estaria na escola. Como os professores estavam em greve, ficou em casa, invadiram a sua residência, a estupraram e esquartejaram”.

Declaração ainda mais grave e irresponsável, já que atribui a trabalhadores em seu direito legítimo e constitucional de greve a culpa por um crime bárbaro cometido contra uma jovem.

A postura de Agamenon Sobral é, até aqui, incombinável com o cargo público que ocupa. O artigo 98 da Lei Orgânica do Município de Aracaju, inclusive, define como incompatível com o decoro parlamentar (comportamento ético no exercício da função) o “uso de expressões consideradas impróprias contra outros vereadores ou acusações levianas, sem comprovação”; e “comportamento manifestadamente imoral ou contra os bons costumes da coletividade”.

Além disso, é importante observar que Agamenon é vereador municipal de Aracaju, mas suas críticas sempre são dirigidas ao SINTESE, um sindicato de âmbito estadual. Por que, então, Agamenon não faz qualquer análise sobre a qualidade da educação pública municipal? Em Aracaju, Agamenon entende que a educação pública vai bem? Ou será que há outros interesses na política estadual que estão por trás das insistentes e ríspidas palavras de Agamenon ao SINTESE?

Faria bem se a disposição de Agamenon Sobral em ir repetidas vezes à tribuna da Câmara disparar ofensas ao SINTESE fosse revertida em exposição de propostas concretas de melhoria da educação pública, uma das atribuições para as quais foi eleito representante público. Ganharia o próprio vereador, ganharia a educação pública e ganharia a população.

Esse período de recesso dos trabalhos legislativos municipais é um bom momento para Agamenon Sobral repensar a sua postura no parlamento. Caso contrário, no retorno das atividades na Câmara, Agamenon continuará demonstrando sua incapacidade de participar da política e da definição dos rumos de uma cidade como Aracaju.

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