Ainda temos muito que avançar

A Fundação Getulio Vargas desenvolveu um novo instrumento de avaliação mais abrangente e eficiente da realidade socioeconômica brasileira. É o Indicador de Desenvolvimento Socioeconômico dos Estados Brasileiros (IDSE), que analisa estatisticamente séries históricas de mais de 30 variáveis para compreender melhor o estágio e a lógica de desenvolvimento de cada Estado.

O primeiro ranking do IDSE foi divulgado agora, no mês de abril, e por aqui passou meio despercebido, embora tenha confirmado dois dados importantes sobre Sergipe: 1 – somos mesmo o Estado mais desenvolvido da região Nordeste; 2 – ainda precisamos avançar muito até alcançar o nível de desenvolvimento das unidades mais ricas da Federação.

O IDSE é composto de dados de pesquisas oficiais – como Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE e Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego – que são cruzados e avaliados por meio do uso de técnicas estatísticas e econométricas. Ao final, é possível mensurar fatores como: saneamento básico, qualidade da moradia, educação, segurança pública, renda, emprego, desigualdade e pobreza.

O indicador tradicionalmente mais utilizado para mensurar a qualidade de vida em regiões ou países, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), adotado desde 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é formado por três componentes de mesmo peso: renda (PIB per capita corrigido pelo poder de compra da moeda de cada região), longevidade (expectativa de vida dos indivíduos ao nascer) e educação (índices de analfabetismo e da taxa de matrícula em todos os níveis de ensino).

Os resultados derivados das duas metodologias podem ser úteis na definição de políticas públicas, mas o IDSE desenvolvido pela FGV Projetos, por ser mais abrangente e aprofundar-se mais do que o IDH, deve contribuir para a alocação mais eficiente de recursos, de modo a permitir uma aceleração mais sustentada das economias em questão, respeitando as características e necessidades de cada Estado. O IDSE parte da notação mais alta (100) possível para o atual estágio de desenvolvimento socioeconômico brasileiro.

AS CINCO UNIDADES COM MAIOR DESTAQUE foram São Paulo (99,1), Distrito Federal (98,9), Rio de Janeiro (98,6), Santa Catarina (95,8) e Rio Grande do Sul (91,4). Esses Estados considerados mais desenvolvidos, com IDSE superior a 90, têm experimentado uma trajetória gradualmente ascendente, entre os anos de 2001 e 2007, com destaque para os dois representantes da região Sul.

Sergipe está no grupo de 12 Estados que apresentaram desenvolvimento mediano em 2007 – menor do que 90 e superior a 40. Neste estágio encontram-se, em ordem decrescente: Minas Gerais (89,4), Paraná (89,3), Espírito Santo (87,2), Goiás (77,6), Mato Grosso do Sul (70,9), Amapá (60,4), Mato Grosso (56,1), Roraima (52,1), Rondônia (50,7), Amazonas (48,7), Sergipe (48,5) e Rio Grande do Norte (46,8). Como se vê, do Nordeste, somente esses dois entram no grupo dos medianos.

As unidades com piores resultados são da região: Piauí (11,4), Maranhão (15,8), Alagoas (21,5) e Ceará (31,6). Logo acima vem Tocantins (34,2), Acre (35,7), Bahia (36,8), Paraíba (37), Pará (37,8) e Pernambuco (38,7). Com a exceção de Rio Grande do Norte e Mato Grosso, que em 2007 deixaram de fazer parte do grupo de baixo desenvolvimento, todos os outros Estados estão no segmento desde o início do período do levantamento (2001-2007).

O coordenador do estudo, Fernando Blumenschein, destaca que Pernambuco, Paraíba, Bahia, Tocantins e Ceará deixaram o grupo de baixíssimo desenvolvimento, avaliação inferior a 25 em uma trajetória mais ou menos paralela. Alagoas, Maranhão e Piauí registraram uma considerável melhora, mas permaneceram no patamar de IDSE baixíssimo. Os Estados que conseguiram maior evolução no período foram Tocantins, Bahia e Maranhão, que melhoraram no saneamento básico, qualidade da moradia, educação, segurança pública, renda, emprego, desigualdade e pobreza, embora o progresso conquistado não tenha sido suficiente ainda para que saíssem do grupo de baixo.

O INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO da FGV Projetos, unidade de negócios da Fundação Getúlio Vargas, confirma que houve progresso em todos os Estados nos últimos anos, beneficiando-se da retomada no crescimento e do aprimoramento das políticas sociais. Confirma também o que outros estudos, como o IDH, já mostravam sobre Sergipe, que é o Estado nordestino que melhor tem tirado proveito das medidas lançadas na era FHC e aprimoradas no governo Lula.

O Boletim regional do Banco Central do Brasil, edição de janeiro de 2009, registrou para Sergipe o IDH de 0,770 em 2007, o mais alto da região Nordeste, seguido pela Bahia, com 0,767, e Rio Grande do Norte, com 0,753. O pior resultado foi registrado pelo estado de Alagoas, 0,722.

O IDH do Brasil atingiu 0,816 em 2007, o que o torna um país de médio desenvolvimento. Segundo Ricardo Lacerda, professor de economia da UFS e assessor do governo do Estado, Sergipe vem se aproximando do IDH brasileiro, mesmo com a melhoria relativamente rápida do indicador nacional. Em 1991, o IDH de Sergipe correspondia a 85,8% do IDH do Brasil. Em 2007, o IDH de Sergipe já equivalia a 94,4% do IDH brasileiro.

E o IDH-Educação de Sergipe atingiu o surpreendente índice de 0,876, o melhor do Nordeste – em 1991 era de modesto 0,630, um crescimento de 39% frente ao crescimento de 23,8% da média brasileira nesse quesito. O IDH-Renda ainda é baixo, 0,664, mas ainda assim é o segundo melhor da região, atrás do Rio Grande do Norte, o mesmo acontecendo com o IDH-Longevidade, de 0,766, que é menor apenas que o da Bahia.

“Entre 2006 e 2007, o IDH de Sergipe passou de 0,756 para 0,770, se aproximando do patamar de 0,800, quando então será classificado como Estado de médio desenvolvimento”, festeja Ricardo Lacerda. Como se vê, Sergipe não está parado. Mas ainda tem muito que avançar.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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