Riscos Sexuais e Ressaca

Os dramas após carnaval

O carnaval é a maior festa cultural do mundo e a principal festa popular brasileira. A festa acontece de diversas formas e se adaptam de acordo com a cultura local. Durante este período boa parte da população interrompe seus compromissos e atividades e vão festejar, se divertir. Neste período, surge a oportunidade e coragem de se soltar sem julgamentos, liberar as emoções e praticar desejos repreendidos. Para muitas pessoas o carnaval é “válvula de escape”.

Em meio as diversas mudanças comportamentais que ocorrem no carnaval, destaco duas: o abuso das bebidas alcoólicas e mudança do comportamento sexual.

Durante o carnaval, em cada dia, um drama: a ressaca. A ressaca ocorre devido ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas e resulta em desidratação, aumento da atividade do fígado para eliminar o excesso de álcool do sangue e alterações do sistema nervoso devido à hipoglicemia induzida pelos altos níveis de álcool circulantes. Os principais sintomas da ressaca são:  dor de cabeça forte, dor nos olhos, enjoo e vômito, mal-estar geral, dor no corpo, boca seca, falta de apetite e dor no estômago.  O excesso de álcool no cérebro leva a efeitos psíquicos como redução da concentração, da atenção, da memória recente e da capacidade de julgamento. Isso favorece aos riscos na vida sexual e no cotidiano. A pessoa pode ficar menos seletiva com relação aos parceiros ou parceiras sexuais, perde a percepção de risco o que aumenta a probabilidade de relação sexual sem preservativo.

O que fazer na ressaca?

Algumas pessoas, antes de beber, tomam medicamentos que “previnem a ressaca”. Tais medicamentos não funcionam. A ingestão de água é importante pois o álcool desidrata. Repouso é fundamental. Ter uma alimentação mais leve, com frutas, legumes e verduras. Evitar o uso de anti-inflamatórios que irritam a mucosa do estômago. Não tomar paracetamol, pois ele pode dar toxicidade ao fígado. Lembre-se de que beber novamente para curar a ressaca é um mito. Vai aumentar a intoxicação pelo álcool.

E se ocorreram riscos na vida sexual, o que fazer?

Em primeiro lugar, como já disse anteriormente, o álcool tira a concentração, reduz a percepção do risco, favorecendo ao não uso do preservativo naquela relação sexual. Existem as pessoas que, não só no carnaval, não percebem o risco que estão correndo, numa relação sexual desprotegida. Outras não usam preservativo porque na hora H, não estavam munidos do importante insumo de prevenção. Existem também aquelas que não tiveram muito cuidado na colocação do preservativo ( olhe o efeito do álcool atrapalhando o uso correto da camisinha!), podendo ter rompimento ou saída da camisinha do pênis ou da vagina. Ainda existem os casos de pessoas que, em consenso, ambas as partes “correm”, por livre escolha, o risco de pegar uma infecção sexualmente transmissível, ou mesmo o vírus do HIV.

Diante dessas situações de risco sexual relatadas acima, o que fazer?

Se a preocupação com a possibilidade de infecção pelo HIV foi antes das 72 horas da última relação sexual sem preservativo, ainda há tempo de procurar um serviço de urgência que disponibilize a PEP – Profilaxia Pós-Exposição. O ideal seria que procurasse o serviço nas primeiras 2 horas após a situação de risco. Será submetida ao teste de HIV, e, caso o resultado dê não reagente, iniciará o uso do medicamento antirretroviral por 28 dias e, ao completar 30 dias, repetirá o teste (30-60-90 dias). Se a ocorrência da situação de risco foi depois das últimas 72 horas, a PEP não é indicada e a pessoa deverá aguardar o período da janela imunológica (30 dias) para realizar o teste de HIV. Enquanto isso, as relações sexuais deverão ser realizadas somente com preservativo e se for uma mulher que está amamentando, deve suspender o aleitamento materno e o recém-nascido deve ser alimentado com fórmula infantil, enquanto não esclarece sobre o teste de HIV materno.

O risco sexual não envolve só o HIV. Existem as outras IST – Infecções Sexualmente Transmissíveis. É comum, no período após o carnaval, diante da ocorrência de relações sexuais sem preservativo, o aparecimento de sinais e sintomas que podem indicar a presença de uma IST: ferida nos órgãos genitais, ardor ao urinar, corrimento vaginal, secreção uretral, dor no baixo ventre, dor na relação sexual, surgimento de “bolhas” com coceira nos órgãos sexuais, aparecimento de verrugas genitais. A pessoa deve evitar as relações sexuais, procurar o tratamento imediato e realizar os exames para HIV, Sífilis e Hepatites B e C. É importante informar ao parceiro sexual ou a parceira sexual para também procurar um serviço de saúde.

Cuidar da saúde sexual é importante para que possa brincar “outros carnavais”!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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