BOLOS, BOLOS À MANCHEIA

Lisboa, 5 de março de 2005

Caros amigos de Sergipe:

Soube que uma grande preocupação ronda os setores intelectuais da Barbosópolis nesta semana que antecede as comemorações dos seus 150 anos. Trata-se de um monumental bolo de aniversário que está sendo construído para ser devorado pela plebe ignara em pleno centro da cidade sob os auspícios da prefeitura da cidade.

A tal guloseima tem tirado o sono do staff da cultura oficial da terra de Tô Te Ajeitando e Pipiri. Também pudera, o quindim terá nada mais nada menos que 150 metros.

A preocupação é tamanha que na Fundação Cultural têm sido feitas reuniões que varam a madrugada, só para discutir a estratégia da sua confecção. Dizem que é uma verdadeira operação de guerra. 

Isso porque, tal qual a ‘Senhora do Destino’, a portentosa gostosura será feita em capítulos, afinal não há forno no mundo que comporte um bicho daquela envergadura. As doceiras e os homens da cultura estão em polvorosa.  

O Edvaldo Nogueira mesmo já anda bastante nervoso. O Oliveira Júnior não dorme há dias. A Karlene Sampaio, esta já foi até pra urgência do São Lucas. É uma verdadeira loucura! 

O cuidado é tanto que até uma provadora oficial está sendo convocada para degustar a fatia número zero, por assim dizer. Trata-se da Ana Medina, grande apreciadora de doces de banana, bolos d’ovos, ‘casadinhos’ e outros quitutes.

Será dela a responsabilidade de evitar a adição de ingredientes estranhos à receita (dizem que a oposição está louca para sabotar o tal bolo) dando-lhe um sabor desagradável, ou até – muito pior – provocando na gentalha uma espécie de diarréia coletiva. Que Deus livre o povo dessa cidade de tão histórico vexame.

O armazenamento é outra grande preocupação. Onde guardar o bicho antes de ser transportado em carro aberto para o local onde será atacado pelo gentio? Ainda não se sabe. E se as baratas forem atraídas pelo cheiro da guloseima na calada da noite? E se os moleques quiserem lhe tirar algumas lascas antes do corte oficial? São questões que desafiam as mais prodigiosas mentes da terra de Tobias Barreto e Hermes Fontes.  

Dizem até que a Guarda Municipal ficará de prontidão madrugada adentro, zelando pela integridade física do bolo até o momento em que o povaréu cairá de boca sobre o seu patriótico glacê. A operação batizada provisoriamente de ‘Olhar Não Tira Pedaço’ envolverá cerca de 50 homens, todos com radiocomunicadores e circuito interno de TV. Será uma tortura para os bravos soldados da briosa corporação, mas vale tudo para não empanar o brilho da efeméride.  

A distribuição ao publico faminto também é outra grande preocupação dos homens e mulheres que são pagos para pensar a cultura barbosopolitana.  

Será em fila indiana ou através da distribuição de senhas numeradas? Em caso de fila será possível entrar duas vezes na bicha, como se diz cá em Portugal? No caso de senha, será permitida a venda no câmbio negro? É meus amigos, tudo isso tem que ser pensado no Planejamento Estratégico do Bolo Oficial.

Para prestigiar a gigantesca fornada, diversas personalidades já confirmaram presença. Ancelmo Góes, Joel Silveira, Nenen Prancha e tantos outros intelectuais. Só o Maguila confessou que está em dúvida sobre a sua ida. “Gosto muito desse negócio de sesquicentenários, Apolônio, mas tô muito ocupado. Acho que só vou poder ir no do ano que vem”. Foi como um soco no estômago. 

Ate semana que vem

Um abraço do

Apolônio Lisboa

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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