As mutações são alterações que podem ocorrer com qualquer organismo. Elas são aleatórias.
As mutações fazem parte do processo natural de evolução viral. São alterações do material genético que acontecem continuamente, enquanto ele está se replicando. Uma diversidade de erros dá origem a “vírus-filhos” com as mutações. Quando essas mutações persistem por várias gerações de vírus, elas definem uma nova variante. Algumas dessas variantes que apresentam características diferentes da cepa original constituem novas linhagens.
O novo coronavírus (Sars-CoV-2) é um vírus que apresenta uma possibilidade muito maior de sofrer mutações por ter o genoma feito de RNA.
Como as mutações ocorrem durante a replicação do agente infeccioso, quanto mais ele se espalha, maiores são as chances delas acontecerem. Tais mutações podem ser tanto vantajosas quanto desvantajosas para o vírus.
Quando ocorrem mutações em genes que codificam proteínas, como a da espícula viral [o Spike do coronavírus], algumas podem alterar a estrutura dessa glicoproteína [a espícula]. Como essa glicoproteína interage com o receptor celular, a mutação pode favorecer a ligação do vírus na célula e, assim, favorecer a transmissibilidade. Seria portanto, uma mutação vantajosa para o coronavírus. Afinal, neste caso, o vírus poderá infectar células humanas saudáveis com maior eficácia.
Para entender os termos técnicos
Entender o surgimento de mutações e variações do coronavírus só é possível através de pesquisas genéticas, feitas a partir de amostras coletadas de pacientes diagnosticados com a COVID-19.
A mutação é uma mudança que ocorre, de forma aleatória, no material genético de um vírus. Já uma variante surge quando essa mutação se fixa neste agente infeccioso, ou seja, começa a se espalhar e se torna, literalmente, uma variante do original. Cada variante do Sars-CoV-2 é um arranjo diferente do Sars-CoV-2 original. A nova linhagem recebe um nome composto de uma letra e até três números — uma das linhagens detectadas no Brasil é, por exemplo, a B.1.1.33, P.1. Agora, a linhagem é um conjunto de variantes que descendem do vírus original (em biologia, o ancestral comum), em que as mutações podem se acumular. Além disso, a cepa é uma variante ou um grupo de variantes de uma linhagem diferente da identificada originalmente. No entanto, o termo cepa vale tanto para vírus mutados de linhagens diferentes quanto da mesma. A questão que o define é a variabilidade genética.
O que chama a atenção na pandemia da COVID-19 é a quantidade de genomas virais que foram sequenciados. Isso é sem precedentes. Nunca se sequenciou tanto um vírus, como está acontecendo atualmente.
Até agora, sabemos que algumas dessas linhagens causam preocupação maior, por apresentarem maior avidez pelo receptor celular humano e, consequentemente, podem promover um aumento na transmissão e até uma possível redução da eficácia das vacinas a depender do imunizante, agravando a infecção. Além disso, essas linhagens podem aumentar a possibilidade de reinfecção de quem já teve a Covid-19. Algumas linhagens também podem escapar ao tratamento com anticorpos monoclonais.
A responsabilidade não é só do vírus
A responsabilidade pela Pandemia da Covid-19 não é só do vírus. Apesar de ainda não conhecermos muito sobre o comportamento do vírus, a responsabilidade pela manutenção da infecção na população deve ser compartilhada com as pessoas que participam de aglomerações, não usam máscaras e ignoram o distanciamento social.
Quando as medidas de contenção da Covid-19 são relaxadas, aumentam as chances de replicação e disseminação do vírus. Mais variantes vão surgir podendo ser mais contagiosas. Além disso, outro grande medo é que essas novas variantes consigam driblar a ação das vacinas em prevenir a covid-19. Como a vacinação não ocorre com a cobertura e a eficácia necessárias, poderemos ter uma avalanche de linhagens capazes de escapar das vacinas e dominar o cenário, agravando dramaticamente a pandemia, ampliando prejuízos humanos e financeiros.