INSUBORDINAÇÃO DA PM

INSUBORDINAÇÃO DA PM O episódio que envolve a Polícia Militar de Sergipe e o tenente-coronel Eliezer da Silva Santana serve-nos de reflexão. O que a polícia em seu estatuto chama de insubordinação é herança da ditadura militar. Um estatuto ultrapassado que precisa ser revisto. O que a sociedade viu foi um espetáculo deprimente. O espetáculo da crueldade contra Eliezer da Silva. O tenente coronel deixou que as câmeras de tv mostrassem como é o dia-a-dia no cadeião militar, o Presmil. Centenas de objetos de metal: alicates, talhadeiras, martelos fazem parte daquele cotidiano. Frente às câmeras o assessor de comunicação da PM discutiu com Eliezer, garantindo aos repórteres que eles não podiam estar ali. Voltou o assessor ao quartel e depois de comunicado ao comandante geral o ocorrido, Eliezer foi exonerado e logo depois preso por insubordinação. Ficou mal para a PM. Tudo poderia ter sido resolvido no diálogo. Expôs uma forma ditatorial que a PM ainda tem, em plena globalização e civilização de trabalhar com os seus pares. Recentemente um delegado de polícia deu uma entrevista dizendo que os presos fugiam porque não é papel dos policiais civis custodearem presos. E falou mentira? Não. E por isso ele foi preso por insubordinação? Não. Já imaginou se o governo do estado mandasse prender todas as pessoas, sindicatos, secretários e funcionários que dão entrevistas e pagam até propaganda em busdoors, em tv em horário nobre, criticando e cobrando melhores salários e condições de trabalho? Por mais que queiramos tapar o sol com a peneira, o que o tenente-coronel Eliezer da Silva fez foi muito mais que o seu papel de funcionário público: ele agiu como cidadão de primeira, mostrando inclusive as mazelas vividas ali no presídio militar, que expõe inclusive a integridade física dos detentos e dos que lá trabalham. Num momento em que a polícia militar é insultada ao aquartelamento e se organiza para cobrar melhores salários, faltou ao governo estadual a coerência em mostrar que o governo não tem condição de dar aumento algum neste momento de crise e que se nem a própria polícia no âmbito das odisséias domésticas se harmoniza, como pode mandar prender um tenente-coronel por insubordinação? Quem pagará pelas lágrimas de Eliezer? Que tipo de sociedade queremos para nossos filhos? Como pode haver dentro do próprio quartel uma guerra de egos tão grande, que não se respeita nem patente, nem direito de ir e vir? Como pode um estatuto vigorar sob a desculpa de disciplinar, expondo a corporação à coação, a ausência de liberdade e acintando a democracia? As lágrimas do tenente-coronel Eliezer da Silva Santana talvez não façam tanta diferença num mundo de deformações e poderes passageiros, mas para a sociedade que assistiu ao espetáculo da crueldade, fica a pergunta: pelo fato do seu filho faltar à aula no colégio é necessário colocá-lo de castigo preso num quarto, quando vivemos numa sociedade pluralista, onde não cabem mais os código de hamurabi, as leis de talião, nem os estatutos feitos à luz do Ai5, herança maldita da ditadura militar? Este tenente-coronel Eliezer merece o título de homem do ano. Talvez a corporação a que pertence não o mereça e o governo feche os olhos para um problema que não é somente dele: é de todos nós. Empurrar a poeira para baixo do tapete – não é assim que se resolve a segurança pública.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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