Jackson e o exemplo do sindicalismo sergipano

A Assembleia Legislativa de Sergipe viveu, na noite dessa segunda-feira (22), momentos que já entraram para a história da política estadual. Com as galerias da Casa ocupadas por servidores das mais diversas categorias profissionais, que reivindicavam ali a manutenção dos seus direitos, os deputados concluíram, por volta das 2h da madrugada, a votação de todos os projetos da “reforma administrativa” enviados pelo Governador Jackson Barreto, que cortam direitos conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público e extinguem empresas estatais.

O que esteve em jogo na votação dos projetos foi além da disputa entre base governista e oposição e escancarou que, mesmo nos partidos mais progressistas com mandato na Alese, há parlamentares que estão mais preocupados com os seus cargos e dos seus correligionários do que com os direitos dos trabalhadores. Trabalhadores que, nunca é demais lembrar, fizeram campanha para garantir a vitória de Jackson Barreto em 5 de outubro, como forma de impedir o retrocesso na política local caso Eduardo Amorim fosse eleito.

A resposta de Jackson foi, jogando no lixo a sua história pública em defesa da democracia e dos direitos, dar um golpe e retirar conquistas daqueles que há poucos meses estavam nas ruas pedindo votos para a sua candidatura.

Mas se Jackson, por conseguir seduzir e convencer até mesmo os deputados que criticavam mais acidamente o seu governo (a exemplo de Venâncio Fonseca), achou que a aprovação dos projetos seria sem qualquer reação, se enganou. Desde o dia em que foram anunciadas as propostas da reforma administrativa, o movimento sindical de Sergipe atuou de forma exemplar no sentido de resistir às medidas e buscar garantir os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Foram atos públicos na porta do Palácio do Governo e do Legislativo, reuniões com parlamentares, notas públicas, ocupações das galerias e da Sala das Comissões da Assembleia para acompanhar os debates, inserções e entrevistas nos meios de comunicação, ato durante a solenidade de diplomação dos eleitos em outubro passado e, na segunda, reunião com secretários de estado e vigília na Assembleia até o final das votações.

Em síntese, as últimas semanas demonstraram (para quem tinha alguma dúvida) que Sergipe tem um movimento sindical vigoroso e atuante, que no momento necessário teve maturidade política para superar o corporativismo e, com respeito às diferenças de matizes ideológicas, construir a unidade fundamental à resistência. Por isso, se o resultado final das votações é uma derrota para a classe trabalhadora sergipana, o processo – tão importante quanto ou até mais importante que o resultado – foi vitorioso para a organização coletiva.

Jackson termina o seu governo de forma lamentável e se assemelha a João Alves, ao não dialogar com o movimento sindical e dar um verdadeiro presente de grego para os trabalhadores. O sindicalismo de Sergipe, por sua vez, encerra 2014 comprovando que continua vivo e forte. 2015, caso Jackson insista num governo de retirada de direitos trabalhistas e minimização do Estado, promete ser um ano de intensas e interessantes disputas políticas.

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