Memória e Verdade em Sergipe: questões pendentes

Não foram poucas as atividades realizadas (e outras que ainda acontecerão) em Sergipe durante essa e as próximas semanas com o objetivo de discutir a Ditadura Militar, 50 anos após o Golpe de 1 de abril de 1964. Seminários, debates, audiências públicas, exibição de filmes e atos públicos estão levando à população sergipana a necessidade da permanente reflexão sobre um período que jamais deve ser esquecido para que jamais volte a acontecer.

Da parte do Governo de Sergipe, merece ser destacado o lançamento, durante esta semana, do hotsite Memórias da Ditadura que, por meio de entrevistas e depoimentos de pessoas que enfrentaram o regime militar, buscará contar fatos da repressão e da resistência à Ditadura no estado.

Porém, se a criação do portal representa um importante instrumento de resgate da memória do período militar em Sergipe, outras iniciativas continuam pendentes e fazem com que a população não tenha respostas para uma série de questões. Por exemplo: Quais foram as pessoas e órgãos públicos que colaboraram com as ações da Ditadura em Sergipe? Que setores do empresariado apoiaram as ações de tortura? Quais políticos, realmente, apoiaram e quais, realmente, combateram o regime? Qual foi a postura do conjunto da imprensa? Houve resistência dentro dos jornais? E a mídia alternativa? Qual o papel desempenhado pela Igreja Católica nos anos de chumbo em Sergipe? Como os órgãos da Ditadura atuaram nas escolas públicas sergipanas e nos cursos universitários? E a nossa cultura, como foi tratada pelo regime? Artistas foram perseguidos? Quais?

Acredito que o principal fator que contribui para o total desconhecimento sobre as ações da Ditadura Militar no estado é, sem dúvida, a falta de iniciativa do Governo de Sergipe em instalar a Comissão da Verdade. Órgãos semelhantes já existem em 17 estados, além da Comissão Nacional. Não me alongarei aqui sobre isso, já que tratei sobre esse tema em recente artigo nesta mesma coluna.

Outra iniciativa já efetivada em diversos estados, mas que ainda não avançou em Sergipe, é a retirada de nomes de presidentes do período militar de escolas e órgãos públicos. Em vários lugares do país, escolas, repartições públicas e até mesmo ruas e avenidas estão deixando de ser “Castelo Branco”, “Costa e Silva”, “Médici”, “Geisel”, “Figueiredo” e estão virando “jornalista Vladimir Herzog”, “estudante Edson Luís”, “Rubens Paiva”, “Frei Tito”, “Carlos Lamarca” e tantos outros que defenderam a liberdade e a democracia no Brasil.

Em Salvador, por exemplo, no final do ano passado, uma eleição que contou com o voto dos professores, estudantes, funcionários e pais de estudantes aprovou a mudança do nome Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Colégio Estadual Carlos Marighella. Por que não copiar a iniciativa por essas bandas?

Além dessas medidas que continuam pendentes, Sergipe tem ainda uma dívida histórica com o ex-governador Seixas Dória e os deputados estaduais que tiveram os seus mandatos cassados arbitrariamente pelo regime militar. Devolver simbolicamente esses mandatos é um gesto necessário de reconhecimento à ação de políticos sergipanos que não se subordinaram ao regime militar e, por isso, foram depostos. Gesto que também já foi feito em outros estados.

Em sua biografia, Jackson Barreto tem uma reconhecida trajetória de resistência à Ditadura Militar e de luta em favor da democracia e da liberdade. Então, por que, como Governador de Sergipe, não implantar essas medidas e ajudar o povo de Sergipe a conhecer a verdade e resgatar a sua memória?

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