Musiqualidade

R E S E N H A     1

Cantora: LUIZA POSSI
CD: “SOBRE AMOR E O TEMPO”
Gravadora: RADAR RECORDS

A cantora Luiza Possi foi, desde o começo de sua trajetória, inevitavelmente comparada à sua mãe, a grande Zizi Possi. Qualquer confronto de talentos, por si só, tende a ser pouco justa, ainda mais nesse caso concreto porque, lá atrás, Luiza optou por gravar cançõezinhas bobas, quase comprometendo uma carreira que tinha muito para dar certo.
Mas a vida só anda pra frente e, depois de alguns passos desacertados, Luiza vem tentando, já há alguns anos, redirecionar seu caminho musical, tanto que, após um bom registro ao vivo (“Seguir Cantando”, lançado em 2011), ela pôs nas lojas através da gravadora Radar Records, no finalzinho do ano passado, o CD “Sobre Amor e o Tempo”, o quinto gravado em estúdio e o que vem a ser decerto o seu melhor título.
Se é fato que o timbre de Zizi encanta qualquer um à primeira audição, também é verdade que Luiza não faz feio. Ela interpreta bonito e de forma segura, ainda que esteja em nítido processo de aprendizado. E isso se constata através de uma análise serena do repertório apresentado no novo álbum, o qual traz a assinatura do competente Dadi Carvalho na produção em uma clara tentativa da artista de trazer uma sonoridade mais pop e atual para o seu trabalho.
Também compositora, Luíza assina quatro das quatorze faixas, duas delas solitariamente (a ótima “Tao da Lua” e a insossa “D.C.”) e as outras ao lado de parceiros (a equilibrada “Venha” com Bárbara Rodrix e a desconectada “Velho do Restelo” com Nelsinho Botega, tema que cairia melhor se alocado como faixa bônus).
De fato à vontade em quase todos os momentos, Luíza apresenta uma boa canção inédita que lhe foi confiada por Lulu Santos (“Tempo em Movimento”) e resgata música pouco conhecida de Erasmo Carlos (“Dois em Um”) – ambos se fazem presentes em participações especais. E se escorrega numa versão mais acelerada da originalmente bela “Dois Perdidos” (de Arnaldo Antunes e Dadi), termina se saindo muito bem tanto em mais uma canção de amor derramado escrita por Ana Carolina (“O Mundo Era Nós Dois”, parceria com Antonio Villeroy e Chiara Civello) quanto em uma criação mediana de Marisa Monte feita com Adriana Calcanhotto (“Devo lhe Dizer”). O ponto alto do CD, no entanto, é incontestavelmente a oportuna releitura bluesy de “Solidão”, pérola de Dolores Duran que, aliás, já havia sido “desconstruída” formidavelmente em 1979 no primeiro disco de Marina Lima. Aí, Luiza solta a voz com vontade e se mostra uma intérprete realmente interessante.
Em constante evolução, deve-se dar merecido crédito a Luiza Possi e também uma atenção para o seu recém-lançado disco, o que se faz por demais justo. Vale a pena conhecê-lo!

R E S E N H A     2

Cantor: RODRIGO SANTOS
CD: “MOTEL MARAVILHA”
Gravadora: INDEPENDENTE

Baixista da banda Barão Vermelho, a qual se encontra atualmente em período de recesso, o ótimo cantor e bom compositor Rodrigo Santos também vem desenvolvendo, desde 2007, uma promissora carreira solo. Tanto que lançou recentemente, de forma independente, o seu quinto trabalho. Intitulado “Motel Maravilha” e produzido por Nilo Romero, o álbum mostra o quanto o artista vem crescendo artisticamente.
Suas canções, frise-se por oportuno, têm se tornado muito mais “palatáveis”. Bem resolvidas, elas contêm aquele vigor próprio do pop rock bem feito e não se confundem com tantos outros temas banais. As letras apresentam tiradas interessantes e a maioria das melodias possui apelo radiofônico, o que, diga-se de passagem, nos dias de hoje onde permeiam experimentações insossas entre os chamados moderninhos da hora, já é uma qualidade e tanto.
Composto por onze faixas inéditas e autorais, algumas delas criadas ao lado de parceiros como Zé Roberto Camargo, George Israel e Andy Summers (compositor e guitarrista do desativado grupo inglês The Police), o disco desce redondinho e, ao final, dá até um certo gosto de “quero mais”. Já na faixa de abertura, a gostosa “Essa Canção É Nossa”, através de versos que relatam as diferenças essenciais a dois que integram um relacionamento amoroso, se constata que Rodrigo sabe o que quer dizer e o faz com desenvoltura.
Instrumentistas de primeira linha, tais como Fernando Magalhães (guitarra), Sacha Amback (órgão) e Marcos Suzano (percussão), surgem em meio a canções que tanto podem remeter o ouvinte aos primórdios mais roqueiros dos Titãs (“Remédios” e “Não Basta Envelhecer”) como a influências orientais (“O Processo”). E enquanto “Tela de Cinema” se constrói sobre títulos de filmes famosos, a faixa-título cai surpreendentemente no samba. Já “Me Dê um Dia a Mais” poderia muito bem ser incluída no repertório de Moska sem incidir em qualquer rota de colisão.
Trata-se, portanto, de um CD bem legal que se transforma, de fato, em um passo importante na trajetória de Rodrigo Santos.

N O V I D A D E S

* O próximo homenageado do projeto Sambabook será Zeca Pagodinho, o qual contará com as participações de Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Djavan, Diogo Nogueira, Gilberto Gil, Jorge Aragão, Lenine, Martinho da Vila, Maria Rita e Roberta Sá, entre vários outros. Os registros foram feitos ao vivo em dezembro do ano passado no Rio de Janeiro e é provável que o produto chegue às lojas no próximo mês de abril nos formatos CD, DVD e blu-ray, além de um livro de partituras e da discobiografia.

* Com patrocínio já garantido pela Natura, o próximo trabalho de Elba Ramalho será registrado ao vivo e vai homenagear Luiz Gonzaga, trazendo no repertório canções de artistas que tiveram suas obras influenciadas pelo Rei do Baião. Intitulado “Cordas, Gonzaga e Afins”, gerará também um espetáculo de tom teatral que percorrerá sete cidades. Completando este ano trinta e cinco anos de carreira, Elba se fará acompanhada pelo grupo pernambucano SaGrama e pelo Quarteto Encore.

* A cantora e compositora Dani Gurgel uniu-se à irmã pianista Debora Gurgel e formaram o Dani & Debora Gurgel Quarteto que se completa com Sidiel Vieira no baixo e Thiago Rabello na bateria. Com esta formação lançaram recentemente o CD intitulado “Um”, o qual se faz composto por dez faixas, sete delas autorais. O som é jazzístico e por isso cabe muito bem a releitura de “Bala com Bala” (de João Bosco e Aldir Blanc). Ainda no repertório temas de Rod Temperton (“Rock with You”) e Hermeto Pascoal (“Forró Brasil”).

* A telenovela “Em Família” que estreará no horário nobre no comecinho de fevereiro, terá como tema de abertura a canção “Eu Sei que Vou te Amar” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) em gravação feita por Ana Carolina. A nova produção global vai contar também, na sua trilha sonora, com um fonograma gravado especialmente por Roberto Carlos. Trata-se de novo registro de “Cartas de Amor”, versão em português da norte-americana “Love Letters” (de Victor Young e Edward Heyman) que, aliás, já havia sido gravada pelo Rei em seu álbum de 1984. E por falar nele, o tão anunciado álbum de inéditas terminou não saindo em 2013 (como já era de se esperar). Roberto preferiu lançar um EP contendo cinco remixes de alguns de seus grandes sucessos (“Fera Ferida”, “Se Você Pensa”, “O Portão”, “É Proibido Fumar” e “É Preciso Saber Viver”, todas parcerias com Erasmo Carlos). Quem sabe um dia sai, não é?

* De lá do Rio Grande do Sul, surge a cantora e compositora Gisele De Santi com o seu segundo e interessante CD. Produzido a quatro mãos por Gilberto Ribeiro Jr e Fabricio Gambogi e intitulado “Vermelho e Demais Matizes”, o álbum se faz composto por uma dúzia de canções, dez delas criadas pela própria artista, as quais têm como essência, em suas letras, os percalços do coração e as dores de amor. Gisele canta suave e bonito, da forma como chamou a atenção dos jornalistas Nelson Motta e Juarez Fonseca para o seu disco de estreia, lançado em 2010, fazendo-a, inclusive, ser premiada nas categorias “intérprete” e “revelação” na edição daquele ano do Prêmio Açorianos. Autora de temas gravados pela banda Chimarruts e pela cantora paulistana Negra Li, Gisele tem refletida, no novo trabalho, a diversidade de influências que a formaram, daí a presença de sambas, bossas, r&b's e chamamés. O recém-lançado CD conta com a participação especial do conterrâneo Vitor Ramil na bela faixa “Quem É Ninguém” (dele e Roger Scarton).

* O terceiro CD da cantora e compositora Lia Sabugosa se intitula “Chuvarada” e já se encontra disponível. O repertório composto por onze faixas conta com músicas criadas por Arnaldo Antunes, Lula Queiroga, Lupicínio Rodrigues, Monique Kessous e Rodrigo Bittencourt, entre outros. Moska surge como convidado especial na faixa “Toneladas”.

* Para marcar os vinte anos de carreira, o cantor e compositor carioca Luis Carlinhos, que também integra o grupo 4 Cabeça, está lançando o CD “Gentes”, o qual foi gravado ao vivo durante apresentação realizada em dezembro de 2012. Composto por quinze faixas autorais (a maioria criada ao lado de parceiros como Maurício Baia, Rogê, Alvinho Lancellotti, Carlinhos Vergueiro e André Gardel) e mais “Lado B” (de Tonho Gebara, que ganha a participação especial da cantora Taís Alvarenga), o disco parece ter sido feito para servir como trilha sonora de encontros casuais à beira-mar. Revestido por sonoridade despojada, alcança os seus melhores momentos com “Solto pelo Ar”, “Pousando”, “Toró” e “Óh! Chuva”.

* Através de uma parceria entre o selo Zeca Pagodiscos e a gravadora Universal chegou às lojas recentemente o novo CD do paraibano Chico Salles. Intitulado “Sérgio Samba Sampaio”, trata-se de uma homenagem ao cantor e compositor capixaba que saiu precocemente de cena, após conhecer o sucesso nacional com o estouro da marchinha “Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua”. Sob a produção de Henrique Cazes e José Milton, Salles reuniu uma dúzia de boas canções de Sampaio e as resgatou apropriadamente, contando com o auxílio luxuoso de uma banda formada por feras, a exemplo de Beto Cazes (percussão), Adelson Viana (acordeão), Rui Alvim (clarinete) e Luís Filipe de Lima (violão 7 cordas). O álbum conta com as participações especiais de Zeca Pagodinho (em “O que Pintar, Pintou”), Zeca Baleiro (em “História do Boêmio”), Fagner e Léo Gandelman (em “Cada Ligar na sua Coisa”). Uma ótima pedida para quem deseja conhecer uma fatia da inspirada obra de Sampaio!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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