NÃO VALE PARA O BRASIL

Admito que sempre achei, além de jocosa, muito inteligente a frase utilizada por Millôr Fernandes, estabelecendo diferença entre ditadura e democracia. Para ele, “Democracia é quando eu mando em você. E ditadura é quando você manda em mim”. Ou seja, Millôr conseguiu captar a essência do real sentimento dos políticos diante de situações cotidianas consideradas democráticas por uns e ditatoriais por outros, a depender do lado em que se encontrem. E exemplos não faltam.

 

Na verdade, quase sempre, políticos que se dizem democratas agem como verdadeiros tiranos quando estão no poder. Alegam que foram eleitos pelo povo e, em seu nome, fazem o que bem querem, independente das conseqüências que suas ações possam ter no seio da sociedade. Esses pseudo-democratas são, a meu ver, os da pior espécie. E deles, pode-se esperar qualquer coisa em nome do povo… Do pobre povo brasileiro, acostumado às migalhas distribuídas pelos sucessivos governos que, ao longo dos anos, dão um simples e providencial cala boca (Bolsa Família, Bolsa Escola, Vale Leite, Vale Gás) às reais necessidades da população: educação, emprego, segurança, saúde.

 

E o que é pior: o discurso desse tipo de gentalha muda a todo instante, de acordo com as suas conveniências. Num determinado momento, o enfadado mote das “mudanças” é aplicado para a platéia como sendo a solução de todos os problemas; logo depois, vêm com o discurso de que não se deve mudar o que está dando certo. Afinal, time que está ganhando não se mexe, não é mesmo? Tudo ao sabor da conveniência da retórica a ser aplicada aos pobres e incautos cidadãos, em um dado momento.

 

Nos últimos meses, acompanhamos bem de perto essas incongruências, durante o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV. Em Sergipe, por exemplo, o PT lançou o vitorioso discurso do “novo” na política. E, graças a esse discurso, deu Marcelo Déda na cabeça, em primeiro turno, para o Governo do Estado. Mas em nível nacional, contrariando a lógica de Sergipe, assistimos, perplexos, ao slogan do candidato derrotado por aqui, em plena campanha petista: “Para que mudar, se Lula está dando certo?”.

 

Conclusão: o discurso que serve agora para o Brasil de Lula não servia para Sergipe, há cerca de apenas 15 dias, confirmando, assim, sob a lógica de Millôr Fernandes, que ditadores são sempre os outros.  Ou seria: “O que é bom para Sergipe – o novo – não é bom para o Brasil”.

 

 


 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais