O celular cavernoso

 

Cartas do Apolônio

 

O celular cavernoso.

 

 

Cascais, 11 de novembro de 2005

 

Caros amigos de Sergipe:

 

Acabo de conhecer a ‘Ana Baruana, a periodista’, uma jornalista tresloucada que veio fazer uma reportagem sobre este pobre escriba.   

A afamada discípula de Gutemberg alegou que quando quero, escrevo muito bem e declarou-se minha fã. Mas na verdade sei que sua aproximação deve-se à conclusão da minha tese sobre “Os efeitos do desemprego na vascularização clitoriana da mulher moderna”, tema sobre o qual tenho me debruçado com afinco nos últimos meses com o auxílio luxuoso de algumas das minhas melhores alunas da Universidade. Na falta de coisa melhor para fazer, voltei a dar aulas no curso noturno. Facilita muito.

Pois bem, estive com a cachopa umas três vezes e tenho me surpreendido sempre com as suas idiossincrasias telefônicas. A periodista tem hábitos estranhos. 

Ela não guarda, por exemplo, o celular na bolsa, como o faz a maioria das mulheres. Não. Ana Baruana esconde o danado, pasmem os senhores, por baixo da calcinha, poucos centímetros acima da sua pequena reserva de Mata Atlântica particular. Pode uma coisa dessas?

Interroguei-a sobre as vantagens desse hábito tão pouco usual e ela me deu inúmeras. Saí convencido.

Primeiro me explicou que hoje, a exemplo do que acontecia com o sutiã no passado, quando uma mulher não quer perder um objeto, guarda-o na calcinha. Notas graúdas, telefone de amante, cigarrinhos suspeitos, coisas desse jaez são ideais para se malocar com alguma tranqüilidade na referida, já que normalmente não se anda escarafunchando as partes pudentas das moças assim sem que estas autorizem o portador da mão bobinha. Baile funk é exceção, evidentemente.   

Me garantiu também que por estar colado no corpo, é praticamente impossível deixar de perceber qualquer ligação, o que, de fato, não deixa de ser uma verdade. Só uma geladeira como a Rose Marie Muraro não perceberia.

Só então me dei conta de que à primeira vista, o que mais me atraiu na Baruana fui justamente… o celular. Feromônios? Talvez.

A doidivanas contou-me que, a depender do momento, deixa de atender a uma ligação só para prolongar os efeitos gozosos do ‘vibrocall’ e que isso por vezes provoca algumas situações inusitadas como ‘cosquinhas’ incontroláveis na reunião de pauta da “Gazeta de Cascais” ou orgasmos múltiplos na hora do Evangelho. Um vexame!

Nosso último contato foi há três dias atrás, quando não suportando o clima sensual das nossas conversas, tomei-a nos braços e parti para uma sessão de sexo selvagem. Tão selvagem que acabei possuindo-a de roupa íntima e tudo, tal era o clima de luxúria que dominava o ambiente.

Tudo ia às mil maravilhas quando de repente sentimos uma vibração diferente alvoroçar nossas entranhas. Era o telefone que, enxerido, havia adentrado antes de mim e, justo naquele momento, recebia uma chamada inoportuna.

Cuidadosamente retirei o telefone do gancho, digamos, e atendi a ligação.

Era um corretor de seguros. Ô raça miserável!

 

Até semana que vem.

 

Um abraço do

 

Apolônio Lisboa

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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