O peso (contra) da família

O impeachment de Fernando Collor faz 20 anos agora, no dia 29 de setembro. O caçador de marajás meteu os pés pelas mãos nos quase três anos de governo e acabou inapelavelmente defenestrado do poder, de forma justa e legal, sobretudo, graças à exigência do povo brasileiro. As denúncias de corrupção contra ele ganharam corpo um ano antes, mas a sobrevivência no cargo só se tornou insustentável em maio de 1992, quando o irmão Pedro Collor concedeu uma entrevista bombástica à revista Veja revelando o esquema de corrupção que envolvia o ex-tesoureiro da campanha, Paulo César Farias.

Quem mais qualificado para falar dos podres de alguém senão um familiar tão próximo? Algo parecido está ocorrendo em Sergipe desde que o empresário Edvan Amorim buscou reaproximar-se, politicamente, do ex-sogro João Alves Filho. O deputado federal Mendonça Prado, homem acima de qualquer suspeita, percebeu o “golpe”, tratou logo de desqualificar o ex-concunhado e, finalmente fechado o acordo do DEM com o PSC&Cia (com a devida licença de Brayner para o uso da expressão), anunciou que não subirá no mesmo palanque onde estiverem ele e seu irmão senador Eduardo Amorim. Em tempo, Mendonça é casado com Ana Maria, cuja irmã, Cristina, foi casada com Edvan.

No dia 21 de junho, numa entrevista ao radialista George Magalhães, o deputado Mendonça Prado já tentava de qualquer jeito jogar areia nos olhos de Edvan e suas pretensões: "Nós não vamos tratar dessas coisas com subterfúgio como estão fazendo… O que estão querendo é perseguir o Negão. Querem pressioná-lo a aceitar essa aliança. Querem a qualquer custo que João Alves só assuma a prefeitura nessa aliança e se comprometa com uma futura eleição de Amorim para o governo. Toda essa movimentação é pensando em uma futura eleição de 2014. Estão querendo impor isso. Em Brasília estão oferecendo tudo. Mas tem gente que não tem condição moral de impor nada, nem de falar em política. O chefe disso tudo é o senhor José Edvan Amorim, e o grupo deles quer empurrar tudo goela abaixo!", denunciou.

Será que Edvan conseguiu seu intento? A julgar que sequer teve chance de emplacar o candidato a vice-prefeito, talvez não… Mendonça Prado garante que tem uma caixa de revelações contra ele, convida-o para um debate, aonde vai “dizer o que há por trás de tudo isso que envolve o empresário Edvan Amorim" e o desafia a que “diga como construiu a fortuna que arrota ter, pois só acredito em liderança que não tem nada a esconder da sociedade”.

É chumbo grosso, embora o tiro até então não tenha sido tão certeiro. Edvan sabe se desvencilhar bem de tiroteios, mas a carga contra ele só faz crescer. Agora mesmo, Ana Alves, mulher de Mendonça e filha de João e Maria do Carmo, fez coro aos brados do marido contra o ex-cunhado. Em entrevista ao portal Faxaju, afirmou sem meias palavras: “Esse povo não conhece honra. Eles fazem da política um mercado. Fazem política rasteira. Coisa que meu marido não faz”. Ana também despejou ira contra o senador Eduardo Amorim: “Um é senador de fato e outro é de direito. Ele foi eleito senador, mas quem manda é o irmão. Ele não tem coragem para nada. Ele fica embaixo da cama pedindo socorro para o irmão”, ironizou, acrescentando que também não subirá no palanque do pai ao lado “desse povo”.

Há poucos dias, Adiberto de Souza publicou na sua coluna na Infonet um comentário, intitulado “Aliança indigesta”, observando que a reaproximação dos Amorim com João Alves pode ter sido um tiro no pé dos três: “Uma pesquisa de opinião pública pode confirmar o que já é voz corrente nas ruas: não pegou bem o acordo de última hora do ex-governador João Alves Filho (DEM) com os irmãos Amorim. Há quem avalie, como o vice-governador Jackson Barreto (PMDB), que os Amorim se desmoralizaram de vez ao ‘pedirem penico’ a João e Maria. Outros buscam entender o que estaria por trás desse acerto feito no apagar das luzes das convenções partidárias. O deputado federal Mendonça Prado (DEM), genro do casal citado, nunca escondeu sua antipatia ao acordo, a ponto de anunciar que não subirá no mesmo palanque onde estiverem os Amorim. Recentemente, ele afirmou que Edvan estaria fazendo chantagem com João, seu ex-sogro. Que tipo de chantagem? Eleitoral apenas? É o próprio Mendonça quem diz: ‘Na verdade, existe político que não tem condições morais de falar em política. É um gigante de pé de barro e na hora certa nós vamos mostrar quem é quem’. E conclui: ‘Tenho um nome a zelar. O cidadão que para mim é sem vergonha, continua sem vergonha’. Para arrematar, outro deputado federal, Almeida Lima (PPS), que não gostou nada da ‘traição’ sofrida dos ex-futuros aliados, acusa os Amorim de terem preferido ‘voltar ao lixo da história’, colocando mais pulgas atrás das nossas orelhas: ‘Gostaria que esse grupo parasse de fazer negócio e fizesse política. Eles estão apenas preocupados com seus negócios’. Ih, o que será que quer dizer Almeidinha?”

O que todos gostariam mesmo de saber é que “negócios” são esses a que todos se referem. Quem será o Pedro Collor da família que vai nos contar?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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