Sergipe e os partidos de aluguel

A política de Sergipe está em rebuliço. Mas engana-se quem acredita que a movimentação do cenário político no estado se dê por motivações ideológicas ou disputa de reais projetos de desenvolvimento para Sergipe. O que move a política local atualmente é a mudança de agremiação política por alguns políticos conhecidos da população, a entrada em cena de novos partidos políticos e a imediata disputa pelo comando dessas legendas por figuras também já conhecidas pelos sergipanos e sergipanas.

As diversas notícias veiculadas na imprensa esses dias demonstram que espaços não faltam para tais movimentações, afinal Sergipe não está imune de um dos piores males do sistema político atual do país: a multiplicação das legendas de aluguel, partidos desprovidos de quaisquer compromissos ideológicos e sem qualquer relação orgânica com grupos sociais.

É assim com o PROS, que mal nasce e já tem o ex-prefeito de Lagarto, Valmir Monteiro (que é filiado ao PSC), e o ex-deputado federal Bosco Costa (que atualmente preside o DETRAN) brigando publicamente pela paternidade. Não é diferente com o Partido da Solidariedade, que tem como principal porta-voz em Sergipe o deputado federal Laércio Oliveira (ainda filiado ao PR).

São partidos que nascem pequenos, sem expressão ou nomes de densidade política para disputar uma eleição majoritária, mas que sempre aparecem durante o processo eleitoral como “gigantes” para negociar o apoio político com quem trouxer mais vantagens. É assim que sobrevivem.

O mais recente encontro das legendas de aluguel de Sergipe aconteceu na última sexta-feira, em um comício de lançamento de candidatura ao Governo do Estado (travestido de “Plenária Pluripartidária”). O que reúne 12 partidos de apoio a um candidato mais de um ano antes das eleições? Programa? Propostas? Nada. Está claro que o que une e reúne essas agremiações é apenas o  favorecimento particular das lideranças desses partidos. O debate é apenas um: em caso de vitória, quem fica com qual cargo, quem ocupa qual secretaria, quantos cargos comissionados cada um terá direito. Alguns dos que estavam lá: PEN, PPL, PSL, PTC, PT do B, PTN. Qual a vida desses partidos fora do período (pré)eleitoral? Qual a atuação dessas siglas perante a sociedade?

Para esses partidos, o que reina é a política do vale-tudo, desde que as suas lideranças tenham algum benefício político. Não são desconhecidos os mecanismos de aluguel, sendo o principal o tempo de rádio e televisão, moeda preciosa de troca em tempos de política de muito marketing e pouco projeto.

A vontade por um cargo ou espaço numa possível gestão estadual, camufalada sob o discurso leviano de que “Sergipe precisa do novo”, é tamanha que todos os políticos que participaram da Plenária, realizada na Assembleia Legislativa, pareceram esquecer que campanha antecipada (ou alguém duvida que foi isso o que aconteceu?) configura desrespeito à legislação eleitoral.

O que acontece esses dias em Sergipe acontece em todo o país nos momentos eleitorais ou pré-eleitorais e evidencia o baixo grau qualitativo da democracia brasileira. Por isso e tantos outros motivos, a centralidade de uma ampla reforma do sistema político que, ao mesmo tempo, concilie o princípio da liberdade de organização partidária com a necessária inibição da formação das legendas de aluguel. No caso do comício realizado na ALESE, a população aguarda o também necessário posicionamento do TRE e do Ministério Público Eleitoral.

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