Um dos requisitos para que o turista permaneça no destino são roteiros atrativos que garantam uma estada por mais tempo no destino. No caso de Aracaju, produtos e potencialidades turísticas não faltam. Diversos roteiros têm se mostrado atrativo, como um roteiro que venho sempre batendo na tecla como um dos melhores: Aracaju (SE): roteiro central a pé, cheio de conhecimento, de prédios históricos e até com passeios fluviais de tototó, cheiros, sabores, cores e sergipanidades.
O Tô no Mundo traz um roteiro pelo Centro da capital de Sergipe, Aracaju, que pode ser feito em um turno ou o dia inteiro.
Preferencialmente a pé, o roteiro já foi percorrido por vários grupos de estudantes de Turismo e até por historiadores, demostrando sua viabilidade. Do turismo cultural ou histórico, dos passeios fluviais ou até mesmo gastronômico, a região central de Aracaju reserva bons atrativos e oferece um diferencial de infraestrutura em restaurantes, quiosques de informações turísticas, centros culturais para acolher bem o visitante. Bora lá?
Urbanisticamente projetada em um tabuleiro de xadrez, Aracaju apresenta uma arquitetura central que une prédios históricos e modernos, mas, no geral, resguarda um traçado moderno, principalmente, caminhando para a zona sul da cidade. É no Centro onde o turista pode contemplar prédios que serviram de local para diversos atos da formação histórica da Capital, além de lugares que merecem uma visita por sua beleza arquitetônica e urbanística.
Aracaju, cidade fundada em 17 de março de 1855 conta com 664.908 pessoas (IBGE 2020) e uma extensão de mais de 35km de praias, entrecortadas por braços de rios, a exemplo do Vaza-Barris, Poxim e Sergipe. Seu topônimo vem do tupi arákaîu, que significa “cajueiro das araras” (ará, arara + akaîu, cajueiro), mas popularmente e de forma poética conhecida como Cajueiro dos Papagaios.
A dica é ter como ponto de referência a praça Fausto Cardoso, onde lá concentra os três poderes da capital e alguns dos mais belos cartões-postais do centro histórico e comercial da cidade. Observe o traçado da praça. As estátuas foram projetadas e adornadas por uma missão italiana inspiradas em palácios de Florença. Belando Bellandi (arquiteto e escultor), Orestes Cercelli (arquiteto e pintor), Bruno Cercelli (pintor), Orestes Gatti (escultor, fundidor e pintor), Fiori (fundidor), Frederico Gentil (que trabalhava em serviços de assentamento) e Pascoal del Chirico são os responsáveis pela modificação paisagística nas primeiras décadas do século XX. Nela se encontra a primeira estátua pública de Sergipe: a de Fausto Cardoso.
Inicie a visita à beira-rio, na ponte do Imperador, construída em 1860 quando o então imperador D. Pedro II esteve em Sergipe. Para sua chegada em Aracaju, foi construído um ancoradouro para que o vapor Apa, que conduzia Sua Majestade e sua comitiva, pudesse ancorar.
Em 1904 a “ponte” passou por sua primeira reforma, alterando-se a estrutura original que era totalmente de madeira por um material mais sofisticado, metal e vidro vindos da Inglaterra e um portal de castelo medieval. Nesse período ela ganhou o apelido de ponte metálica ou inglesa, denominação que alcançou os dias atuais.
Em 1920 nova reforma empreendida pelo construtor italiano Hugo Bozzi. O portal medieval foi substituído por dois torreões em alvenaria, simbolizando a identidade cultural sergipana, com duas figuras em forma de escultura de índios.
Percorra a praça e veja que do lado esquerdo em direção contrário ao rio ficam os prédios da Assembleia Legislativa de Sergipe e o Palácio da Justiça Tobias Barreto, onde antes funcionou um dos primeiros hotéis de Aracaju: o hotel Rubina (1930).
Vale a pena ir até do lado direito da praça. Pouco conhecido pelos sergipanos, não deixe de observar o painel de cerâmica com técnica azulejista do artista plástico Jenner Augusto e fabricado pelo ceramista alemão Udo Knoff, em 1957. A obra está localizada na fachada do edifício Walter Franco, situado na esquina do calçadão da rua João Pessoa e praça Fausto Cardoso. O painel com traços cubistas traz a economia de Sergipe e é tombado pelo Governo do Estado. Representa um marco do modernismo em Sergipe, sendo uma das primeiras obras vanguardistas públicas do gênero no Nordeste.
Do lado ficam os prédios da Delegacia Fiscal e Biblioteca Pública, datados dos anos 30, antigas sedes da Receita Federal e Arquivo Público do Estado. Suas estruturas praticamente permanecem as mesmas.
A sua frente fica um dos ícones da história político-econômica de Sergipe: o Palácio-Museu Olímpio Campos, ex-sede do governo de Sergipe e que hoje abriga um museu histórico.
Salões nobres, corredores, sacada com vista para a emblemática praça Fasto Cardoso, cômodos. Mobílias, objetos pessoais de governadores e telas de pintores da década de 20. Suas obras foram iniciadas em 1859 e concluída em 1863 para ser a sede do governo da província, funcionando com esse patamar até 1995. A volta ao passado está garantida através de uma visita monitorada ao Palácio-Museu Olímpio Campos, restaurado no final de 2010 e reaberto com status de palácio-museu.
O Olímpio Campos é um marco da história de Sergipe e resguarda em seus 157 anos um acervo singular de assinaturas de documentos, de visitas ilustres, dos discursos e desfiles cívicos, além dos fatos históricos de resistência, mudanças e tragédias. Muitos deles com enfática afirmativa de ser emblemáticos para a construção do povo sergipano.
Por conta da pandemia, o Museu está temporariamente fechado, mas pode-se fazer uma visita monitorada e gratuita em todos os seus cômodos e dura em média 2h.
Vizinho a ele fica um prédio secular onde abriga o Memorial do Legislativo Quintina Diniz, primeira deputada de Sergipe, e a Escola do Legislativo Seixas Dória. A antiga sede da Assembleia Legislativa, concluída em 1874, foi erguido em estilo neoclássico, após reforma executadas no início do século XX, enquadrando-se no estilo eclético. Com a transferência da Assembleia para sua sede atual, o prédio recebeu a denominação de Palácio Fausto Cardoso em homenagem ao advogado e político Fausto de Aguiar Cardoso (1864-1906), líder do movimento revolucionário de agosto de 1906, baleado na praça que leva o seu nome.
Percorra o corredor de palmeiras imperiais da praça Almirante Barroso entre os dois palácios até passar pelos dois palácios que abrigam a Câmara de Vereadores de Aracaju e a Procuradoria Geral do Estado, em restauros. A praça à frente é o antigo Parque Teófilo Otoni, hoje mais conhecida como praça Olímpio Campos ou da Catedral Metropolitana de Aracaju.
Ao centro, fica a catedral metropolitana de Aracaju, um dos mais significativos monumentos da arquitetura religiosa da capital. Construída em 1862, a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição tornou-se catedral em 1910. Sua arquitetura está ligada aos elementos marcantes do neoclassicismo e do neogótico, sendo tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual em 1985. Sua cúpula é ornamentada com belíssimas pinturas do século passado. Atualmente passa por um grande processo de restauro, mas continua aberta para o público.
O traçado urbanístico da praça contempla em seu entorno prédios emblemáticos como a primeira sede da Prefeitura Municipal de Aracaju, o Palácio Inácio Barbosa, a Cúria Metropolitana ou o palacete da Arquidiocese de Aracaju, o colégio estadual Jackson de Figueiredo e o imponente sobrado do arquivo público do Judiciário de Sergipe.
Em um dos lados, chama atenção o prédio da primeira escola Normal de Sergipe ou Escola Modelo, hoje funcionando o Centro do Turista. Não deixe de observar a fachada principal da entrada, erguida em 1911, e que hoje é a porta de entrada da Rua do Turista com restaurantes, bares, lojas e cinema de arte. Há comercialização de artesanatos, lojas de serviços, infraestrutura para o turista relaxar e conhecer o centro comercial central propriamente dito de Aracaju, entre os calçadões das Laranjeiras e João Pessoa.
Vá até a praça General Valadão onde se concentram mais prédios documentais da história de Sergipe, a exemplo do antigo hotel Palace, considerado o primeiro hotel modernista de Sergipe, a antiga sede da Cadeia Pública e hoje o prédio Serigy, da Secretaria de Estado da Saúde e a antiga Alfândega de Sergipe, hoje o Centro Cultural de Aracaju, que após ser restaurado, a prefeitura de Aracaju transformou em um centro cultural. Há uma sala de projeções, biblioteca, espaço cultural e de exposições, um pequeno teatro e um museu com peças sergipanas. O prédio funciona aos sábados, das 9h às 14 horas. Durante a semana o centro cultural abre das 9h às 17h, com exceção das segundas-feiras.
Saindo do Centro Cultural de Aracaju, ao fundo, veja o Memorial Zé Peixe e uma agradável vista o rio Sergipe. Percorra a beira-rio e observe a agradável vista dos casarões comerciais da avenida Rio Branco com as antigas embarcações denominadas de tototó às margens do rio Sergipe, que dão um tom bucólico e pesqueiro ao centro da capital sergipana. Do atracadouro onde ainda serve de ponto de embarque para a travessia Aracaju- Barra dos Coqueiros há uma grande concentração de barcos, o que dá um charme especial à beira do rio Sergipe. Curta a paisagem de uma capital que se verticaliza e moderniza, sem perder a essência de um grupamento urbano ainda em desenvolvimento. O Centro de Aracaju é um grande exemplo, resguardando prédios históricos dessa capital que cresce.
Gastroterapia
O primeiro momento do roteiro chega ao fim e as delícias da gastronômica sergipana aguardam os visitantes com sabor, cheiro, aroma e cores da mangaba, do caju, do umbu, dos pratos à base de tapioca, dos frutos do mar. A dica é escolher entre vários restaurantes turísticos ou não do centro, a exemplo do Cacique Chá Senac Bistrô, do Tototó, dos restaurantes dos mercados Augusto Franco e Thales Ferraz.
A dica é experimentar as sensações gastronômicas no restaurante Caçarola, situado no mercado Antônio Franco, um dos principiais pontos turísticos dos mercados. Entre artesanatos e guloseimas, o secular relógio e o rio Sergipe, no andar superior do mercado, a culinária criativa e regional com toque baiano e mineiro da chef Meg Lavigne fazem do restaurante Caçarola o mais procurado.
Nem pestaneje em pedir o Camarão de Cueca, um dos pratos principais da casa se gosta da tradicional comida dos frutos do mar com o toque do óleo de dendê (R$ 89 a 129, a depender da quantidade, poções sempre generosas). Como entrada, o sabor regional ganhou nome sofisticado nas Galletes de Macaxeira, tipo uns discos gratinados sem levar adição de nenhum tipo de farinha e com toque gourmet recheado de aratu, caranguejo, carne seca, vegetariana, três queijos (R$ 14). Meg Lavigne explica que o nome vem de tradicionais gratinados europeus que através de suas mãos ganharam um toque brasileiro das comidinhas regionais.
O segundo turno ou segundo roteiro será apresentado no próximo post do Tô no Mundo. Produtos turísticos, Aracaju tem para oferecer, roteirizá-los e torna-los viáveis é uma iniciativa empreendedora. A dica está aqui.
Complete o passeio à pé pela Capital dos Sergipanos caminhando para o outro lado, mais precisamente para o Largo da Gente Sergipana e o Museu da Gente Sergipana. Esses merecem um post especial.
Fotos: Silvio Oliveira
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