Geograficamente, uma ilhota peninsular circulada pelo rio Capibaribe, entrecortada por sete pontes que ligam o denominado Recife Antigo aos bairros da Boa Vista e ao Marco Zero. Historicamente, o Recife antigo dos bairros Santo Antônio, São José e arredores chegam a ter quase que uma igreja secular por quarteirão, além de prédios datados do início do século XVII, edificações em que o tempo resguarda lutas entre portugueses e holandeses. Um Recife que se transfigura em bairros quase portugueses no traçado urbanístico, e que documentam histórias holandesas.
Popularmente, os pernambucanos são unânimes ao conhecerem um pouquinho da histórica Mauricéia, cidade construída por Mauricio de Nassau, mas devastada em detrimentos das conquistas portuguesas. Os prédios são resquícios do poderio lusitano, mas as lendas, os mitos e as glórias fazem do Recife a capital mais holandesa que se tem. Nesse misto de lutas portuguesas, holandesas, até espanholas com forte poderio francês e inglês, o Recife Antigo salta do livro de história do Brasil para ser um museu a céu aberto.
Para conhecer detalhes da arquitetura do Recife Antigo (bairros Santo Antônio e São José) não titubeie em fazer um tour pelas ruas, avenidas, becos e pátios a pé. O Tô no Mundo traz o post “Recife (PE): Conhecendo Santo Antônio, São José e arredores” com alguns dos atrativos que não devem ser dispensados.
Forte das Cinco Pontas
O ponto inicial para se localizar no espaço é o Forte das Cinco Pontas – Museu da Cidade do Recife, uma fortificação, primeiramente construída no poderio holandês, em 1630, por ordem de Frederik Hendrik, Príncipe de Orange, durante a ocupação holandesa em Olinda.
Embora a fortaleza tenha recebido o nome de batismo de Frederik Hendrik, logo ganhou o nome de Forte das Cinco Pontas, devido à sua forma pentagonal. Os objetivos do forte eram garantir o suprimento de água e também assegurar que os carregamentos de açúcar transportados pelo rio Capibaribe chegassem ao Porto de Recife, impedindo a ação de piratas.
Em 1654 foi ocupado pelos portugueses e reformado por completo, ganhando a arquitetura atual. Os documentos iconográficos que compõe o acervo do museu são voltados para a preservação da história urbana, cultural e social do Recife. Entre eles, estão mais de 250 mil imagens, 2560 livros e revistas, 1898 peças digitalizadas – entre mapas, plantas e projetos de arquitetura -, 146 azulejos dos séculos XVII ao XIX, três portas e duas imagens de santos da Igreja do Senhor Bom Jesus dos Martírios, já demolida. O forte é aberto de terça-feira a domingo, das 9h às 17h.
Igreja de São José do Ribamar
Partindo do forte, primeiro faça uma parada na igreja de São José do Ribamar, uma das mais antigas do Recife, situada no bairro de São José, e que representa a devoção popular por ter sido construída como uma modesta capelinha, por carpinteiros. O prédio foi levantado sob o signo de São José dos Carpinteiros – o seu padroeiro e raramente abre à visitação
A destinação da área para construção da igreja, propriamente dita, remota a 1752, mas só iniciaram em 1756. Por falta de recursos financeiros, a igreja ficou inacabada, só finalizando em 1797 pelo governador D. Tomás José de Melo. Em 1902, ganhou torres, um frontispício mais austero e ornamentos (em sua fachada e nas cinco janelas da frente), com símbolos relacionados ao trabalho em madeira – pregos, martelos, esquadros, compassos, e outros -, para deixar em evidência, eternamente, a profissão dos seus fundadores.
No forro do teto de madeira é possível apreciar um grande painel emoldurado com a imagem de São José, tendo em seu contorno doze medalhões com o busto dos apóstolos. Estão presentes, ainda, as Irmandades de Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora do Bom Parto e Senhor Bom Jesus dos Aflitos.
No muro do adro, são belas as tochas de pedra, com suas labaredas espessas. Observa-se, na fachada, o trabalho feito com mosaicos em cores azul e branca, e dispostos em um semicírculo. A obra é uma criação do artista pernambucano Francisco Brennand.
Basílica de Nossa Senhora da Penha
Encravada no coração do comércio recifense, em frente ao mercado de São José, o templo católico divisor na história da arquitetura pernambucana é um exemplar no Brasil dos primórdios do neoclassicismo, única igreja em estilo coríntio de Pernambuco.
A igreja remota à chegada dos missionários capuchinhos franceses no Estado em 1642, na época das Capitanias Hereditárias, quando Maurício de Nassau era donatário. Um oratório foi instituído em 1655 pelos franciscanos e ampliado em 16 de abril do mesmo ano.
Em 1870, capuchinhos de Vêneto (Itália) demoliram a antiga e primeira capela da Penha e ergueram a imponente e atual Basílica da Penha, concluindo a obra em 1882, liderados pelo arquiteto capuchinho Frei Francesco Maria Di Vicenza. O frade arquiteto inspirou-se na basílica veneziana de San Giorggio Maggiore.
Diferente do estilo barroco utilizado na maioria das igrejas do Recife, é uma obra arquitetônica de vasto conjunto artístico, tanto no seu interior, quanto no exterior. Dentre as poucas peças de autoria conhecida encontra-se, no altar-mor, as figuras de São Francisco e Santo Antônio entalhadas no mármore em baixo relevo com autoria de Valentino Besarel, mas há indícios de que que várias obras são oriundas do mesmo escultor. Também se encontra no altar-mor afrescos de Murillo La Greca.
A basílica fica na praça Dom Vital, s/n, São José, e há a famosa Benção de São Félix, às sextas-feiras, das 6h às 18h.
Mercado de São José
O Mercado São José ostenta o título de centro cultural popular do Recife Antigo. Do sonoro “Tu visse” do vendedor que ecoa sem nenhum comedimento, ao grito da feirantes que vendem caranguejo, o mercado setorial é passagem obrigatória por aqueles que querem usufruir das pernambucanidades sem moderação.
Inaugurado em 1875, é o mais antigo mercado público do Brasil pré-fabricado em ferro no país, com a mesma estrutura neoclássica dos mercados europeus do século XIX. O autor do projeto, Louis Léger Vauthier, inspirou-se no mercado público de Grenelle, em Paris, e é tombado como Patrimônio Histórico pelo Iphan.
Ao longo de mais de 142 anos de história, o Mercado de São José sofreu várias reformas. A dica é emergir na cultura local numa uníssona corrente de energia. Logo verá que o centro popular é só um pedacinho de um bairro que tem muito a mostrar, turisticamente falando.
O mercado é aberto de segunda a sexta, das 8h às 17h, e aos sábados e domingos, das 8h às 12h. O mercado fica na praça Dom Vital, s/nº, São José, em frente a preciosa basílica de Nossa Senhora da Penha, ao convento São Felix, entre outros prédios de igual valor histórico, artístico e cultural.
Igreja e Pátio do Terço
Até as primeiras décadas do século XVIII, na rua Cristóvão Colombo, existia um nicho com uma imagem de Nossa Senhora, onde os viajantes se ajoelhavam e rezavam um terço à Virgem Santíssima. Como a localidade havia se tornado um ponto importante, a capela de Nossa Senhora do Terço foi ali erguida.
Um acontecimento histórico teve lugar às portas da igreja: a condenação à forca do frade revolucionário da Confederação do Equador, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca (Frei Caneca), mas o frei terminou sendo morto junto à igreja de São José.
A capela-mor e um dos altares da igreja de Nossa Senhora do Terço foram entalhados pelo mestre pernambucano José de Souza. No templo, pode-se apreciar a parte mais elevada de uma torre de azulejos, com jarros ornamentais e uma balaustrada elegante; um sino; uma pequena cruz com anjos; uma janela com balcão de grade; um relógio e uma data: 1726.
Algumas imagens estão, também, presentes na igreja: Nossa Senhora do Terço, Senhor Bom Jesus, Santo Antônio, São João, São Brás, São Manuel da Paciência, Nossa Senhora das Angústias, São Sebastião, Santa Rita de Cássia e Nossa Senhora da Soledade.
Pátio de São Pedro e igreja de São Pedro dos Clérigos
A praça quadrada, formada por casas multicoloridas e pedras irregulares do século XIX, faz do Pátio de São Pedro um dos únicos do Brasil a preservar o traçado, comum no período colonial. O conjunto arquitetônico, que conta ainda com a imponente Catedral de São Pedro dos Clérigos, é tombado pela Patrimônio Histórico Nacional (1938). Ateliês, bares e restaurantes ocupam os sobrados, garantindo movimento nas noites de sexta e sábado e também nas de terça-feira, quando acontece o “Terça Negra”, evento musical relacionado à cultura afro-brasileira.
Na porta da igreja informa que o início das obras data de 1728. O projeto é de Manuel Ferreira Jácome. O consistório, a capela-mor e a sacristia ficaram prontos já em 1729, mas o corpo da igreja e a parte central da fachada só foram terminados em 1759. Em seguida construíram-se as duas torres sineiras. Além de sua importância religiosa, em determinado período a igreja tornou-se um ativo centro de música sacra.
A sua estrutura é incomumente verticalizada, com monumental portada de rico trabalho em cantaria. O interior guarda um trabalho de talha no estilo D. João V, com elementos rococó nos balcões e sanefas das tribunas, na capela-mor, na nave e na base do altar-mor. Todo o pátio é considerado polo turístico e de conservação do patrimônio.
Igreja de Nossa Senhora do Livramento
A primeira menção a uma igreja recifense dedicada à Nossa Senhora do Livramento é datada de 1694, quando teria existido uma pequena igreja situada nas “hortas de São Pedro dos Clérigos”. Em Recife a devoção a Nossa Senhora do Livramento foi adotada pela irmandade dos pardos.
Nos anos de 1711 e 1712 ocorreram obras de frontispício e acabamento dos altares, e as suas talhas foram elaboradas entre 1715 e 1717 pelo artista João da Costa Furtado. A igreja primitiva foi então sendo alvo de reformas contínuas, até que, em 1830, a Irmandade de Nossa Senhora do Livramento dos Homens Pardos decidiu demolir grande parte dela para ampliá-la.
Em 1832, a nova fachada já estava adiantada, tendo sido colocada no seu nicho uma imagem de Nossa Senhora do Livramento, esculpida em pedra, no tamanho natural. Como a irmandade não dispunha de muitos recursos, o poder público ajudou na reconstrução, instituindo uma loteria especialmente destinada a arrecadar fundos para esse objetivo.
A igreja possui linhas clássicas coloniais, e a sua fachada apresenta traços de relevo em pedra de cantaria e em granito lavrado. A douração do altar-mor foi efetuada por Cândido Ribeiro Pessoa, constando também o mestre dourador João Batista Correa como artífice do embelezamento do interior. A finalização da obra se deu em 1856, quando foi concluída a torre.
Basílica de Nossa Senhora do Carmo
Os primeiros frades Carmelitas chegaram ao Brasil em 1580, vindos de Portugal. Em 1584, com a fundação de um convento em Olinda, o primeiro do país, realizou-se a primeira festividade brasileira em homenagem à Nossa Senhora do Carmo.
Em 1654 a Ordem do Carmo se estabeleceu no Recife. Em 1665, o Capitão Diogo Cavalcanti Vasconcelos deu início às obras de construção da Basílica e com muitas paradas e soerguimentos, as obras só finalizaram no final do século XVIII, em 1767.
A igreja possui nove altares: o altar-mor (dedicado à Nossa Senhora do Carmo), seis altares laterais, e dois grandes altares no transepto (um dedicado ao Santíssimo Sacramento e outro dedicado ao Bom Jesus e a São José). A pintura do teto da igreja chama atenção tamanho.
O frontispício da igreja é um dos mais imponentes de Pernambuco, com muitas volutas esculpidas em pedra, e a torre, de 50m de altura, é encimada por um dos mais elaborados bulbos do barroco brasileiro.
Em 1909 a Virgem do Carmo foi proclamada Padroeira do Recife, e em 1917, o papa Bento XV elevou a igreja à dignidade de ‘Patriarcal Basílica Vaticana’, conferindo a ela diversas indulgências e características jurisdicionais específicas. A Basílica e o Convento do Carmo foram tombados em 5 de outubro de 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No conjunto arquitetônico do Carmo também fica a igreja de Santa Tereza D´Ávila, ou chamada também de Carmo Menor.
Igreja de Santa Tereza D’Ávila (da Ordem Terceira do Carmo)
A entrada já diz que ali está uma das mais belas igrejas de Pernambuco. Parte do complexo arquitetônico dos carmelitas, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo é uma das primeiras dedicadas à Santa Tereza D’Ávila de Jesus no país. O final da sua construção data de 1700 e sem sombra de dúvidas é uma das mais belas por apresentar um dos mais atraentes conjuntos de pinturas de um só tema em templos católicos do país.
Todas as pinturas são obras do tenente João de Deus Sepúlveda com painéis que vão desde as paredes ao teto. Há quem considere a igreja uma pinacoteca, tamanha a quantidade de obras. Vale a pena a visita.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
O culto à santa foi introduzido na cultura dos escravos africanos no Brasil pelos jesuítas na catequese, para legitimar a religião católica, buscando homens e mulheres negros para a prática religiosa. A Irmandade dos Homens Pretos do Recife foi criada em 1654, e a igreja teve sua conclusão entre os anos de 1662 e 1667, no período do reinado de D. Afonso VI de Portugal, venerado por esta instituição que conserva dele um retrato pintado a óleo na sacristia.
No altar existem os santos negros como o rei Baltazar, São Elesbão, São Benedito, Santo Antônio de Categeró e Santa Ifigênia. A rua na frente da igreja recebeu a denominação de rua Estreita do Rosário.
Igreja Matriz de Santo Antônio
A Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio é um dos mais significativos exemplares de arquitetura barroca na cidade. A igreja iniciou-se em 1752 pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e concluídas em 1790.
A decoração do interior se estendeu até o século XIX, com esplêndida obra de talha principalmente na capela-mor, além de painéis pintados de Sebastião da Silva Tavares. A pintura e a douração foram realizadas por Manuel de Jesus Pinto entre 1790 e 1805.
A fachada é barroca, com rica ornamentação. Passando para o interior, de alta nave única e cujo vão não inclui o espaço das torres, logo se depara, sob o coro, com um para vento envidraçado e duas capelas: a da direita, a da Virgem da Piedade, com esplêndida moldura entalhada e douradamento no interior; da esquerda sendo o batistério, com um quadro do início do século XIX – O Batismo de Jesus – pintado por José Elói, autor também da pintura dos painéis da igreja do Mosteiro de São Bento, em Olinda.
A nave possui vários altares laterais em estilo neoclássico, mas com estatuária ainda barroca. Chamam atenção a Virgem das Dores, com uma imagem de Nossa Senhora com o coração trespassado por uma espada; a de São Miguel, com uma bela imagem do arcanjo e outras secundárias; a dos Reis Magos, e o de Nossa Senhora da Penha, com uma imagem da Virgem com o Menino. Na sacristia existem pinturas em painéis de parede, um lavabo de mármore e uma grande cômoda rococó, de 1794.
Convento e igreja Franciscana de Santo Antônio (Convento dos Franciscanos)
Junto com o Convento dos Franciscanos de Olinda, é considerado os dois mais importantes do século XVII e junto com a igreja dos Prazeres de Nossa Senhora dos Guararapes é o mais importante em azulejos portugueses seiscentistas no Brasil. Sua origem remota de 1606 e é uma das mais antiga do Recife
Capela Dourada (Convento dos Franciscanos)
Aberta ao público em 1697 e concluídas obras de embelezamento em 1724 , a Capela Dourada ou Capela dos Noviços da Ordem Terceira de São Francisco é uma obra prima brasileira, sendo até comparada em importância e conjunto da obra com a Capela Sistina, na Itália. Nascida no período áureo de Pernambuco, a Capela recebeu o primeiro encobrimento de ouro em templos do país e foi ganhando decoração ao longo dos anos.
As obras sacras, o mobiliário em jacarandá, os utensílios sacros em prataria mostram esse poderio. Na obra do Senhor dos Passos em roca há entalhes em rubis. Os entalhes em madeiras são de Luiz Machado e Antônio Santiago, porém, não há registros de quem são as pinturas da capela.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares
Uma das mais belas do Recife, a igreja detalhada pelo francês Germain Bazin em visita ao Brasil também é comprada com a Capela Sistina, tamanha a quantidade de obras do barroco-rococó. datada de 1726, o conjunto arquitetônico chama atenção de quem o visita pelos detalhes em relevo de ouro 24 quilates e luminosidade que os deixam ainda mais evidentes.
Os militares do terço da Vila de Santo Antônio do Recife exigiam que fosse criada uma irmandade católica só para eles, um costume que já existia na Europa. A edificação do templo iniciou-se em 1720 com obras encerradas em 1771.
Além do entalhamento em ouro, a igreja possui diversas curiosidades em suas pinturas, como Jesus ainda no ventre, diversas paisagens da Batalha de Guararapes e representações mestiças, uma movimentação da época para inserir nos traços europeus a miscigenação da população brasileira à época. Um dos que contribui para essa técnica foi o pintor mestiço João de Deus Sepúlveda. Vale a pena conhecê-la.
Fotos: Silvio Oliveira
Gastroterapia
File de agulhinha frita é uma boa pedida como entradinha para cair de amores nos sabores dos pernambucanos. O peixinho bem preparado sem espinhas e quase que unanimidade nos cardápios de bares e restaurantes, mas a culinária pernambucana também passeia pelos sabores dos frutos do mar, a exemplo de pratos à base da lagosta, ou sabores do sertão, como linguiça de bode e bode assados.
A sobremesa com o bolo de rolo é uma boa pedida para se deliciar. O rocambole recheado tradicionalmente de goiabada, também já é encontrado com doce de leite e outros recheios. Também é encontrado como souvenir em bancas de artesanato e mercadinhos.
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