O que o alemão Udo Knoff tem a ver com a arte de Sergipe? Pode se dizer que pouco, mas Hosrt Udo Knoff (1912-1994), uma das principais referências da arte da azulejaria e ceramista do Brasil, cravou sua marca no centro de Aracaju, em conjunto com o artista plástico Jenner Augusto.
Para se conhecer um pouco sobre a importância do painel em azulejaria na capital sergipana, é importante ressaltar que Horst Udo Erich Knoff nasceu na Alemanha, veio para o Brasil aos 26 anos de idade (1938) fugindo do início da 2ª Guerra Mundial.
Amante das artes plásticas, trabalhou na sua área de formação ainda na Alemanha. Colocou os pés em solo brasileiro, primeiramente, no Rio de Janeiro, mas sofria por ser de origem alemã, sendo preso por várias vezes, fato que acabou permitindo a compreensão da língua portuguesa com colegas de cela.
Em 1952, radicou-se à Bahia e lá fincou a sua arte na mais expressiva sensibilidade até o falecimento com 82 anos de idade, em seu ateliê no bairro de Brotas, Salvador (BA). Desenhista, pintor e colecionador, Udo Knoff lecionou na antiga Escola de Belas Artes de Salvador, criou painéis pelas ruas, prédios históricos, casarões e logradouros do país, sendo também autor do livro “Azulejos da Bahia – Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1986”.
Udo era considerado um exímio artesão, posto que a arte milenar do fabrico das peças exigia conhecimentos e técnicas da azulejaria portuguesa, chinesa e espanhola. O artista também pintava e criava painéis que fotografavam em azulejos a arte brasileira em seu cotidiano, com uma pitada religiosa, baiana, cubista, expressionista, até tridimensional, a depender do momento e do local.
Sergipe e Knoff
Em Sergipe, a azulejaria de Udo Knoff pode ser conferida em praça pública no edifício Walter Franco, no calçadão da rua de Laranjeiras com a praça Fausto Cardoso, no Centro da capital. O edifício de seis andares erguido em 1956 durante o governo Leandro Maciel ocupava o espaço do prédio da Recebedoria Estadual, recebendo o painel confeccionado em cerâmica de Udo e pintado por Jenner Augusto em 1957. Por anos o prédio foi sede do Ministério Público Estadual e hoje abriga uma agência do Banco do Estado de Sergipe (Banese)
O historiador Amâncio Cardoso, quem primeiro fez referência a Udo como co-autor da obra em conjunto com Jenner Augusto, ressalta a ideia de Knoff com igual valor ao pintor sergipano, haja vista que se configura como arte também a técnica do fabrico dos azulejos.
O painel é o primeiro a ser instalado em praça pública de Sergipe e representa um marco muralista do modernismo no Estado. Sua regionalidade está presente no tema da época: a economia, com a produção agrícola, pescados, coco, caju, trabalhadores em mulas e caçoas. Traz traços cubistas mexicanos, em voga na época.
Tombado pelo Governo de Sergipe em 1988, poucos sergipanos se atêm à qualidade e às particularidades da obra, como a presença de uma pomba branca em um painel pouco colorido, com traços azul e branco, e a pintura que traz a tridimensionalidade.
A obra é considerada vanguardista no Nordeste e foi restaurada em 2010 pelo Banco do Estado de Sergipe, através da empresa AM Restauro, da Bahia, especializada na recuperação de patrimônios históricos.
Museu Udo Knoff
Mas se quiser conhecer sobre o alemão- baiano, o Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica, fica na rua Frei Vicente, no Pelourinho, em Salvador, é abrigado em um casario de dois andares do século XVIII. Mesmo aberto ao público em 1994 em memória ao artista, até hoje as obras continuam sendo catalogadas e passam por documentação, por variar entre peças produzidas por ele ou de coleção particular que ele recolhia em grande parte de casas em processo de demolição. Há também criações de representantes sergipano e baiano, como Jenner Augusto, Genaro de Carvalho, Sante Scaldaferri, Calasans Neto e Carybé.
No primeiro andar, o casarão abriga as exposições “Azulejaria na Bahia”, referente à arte da cerâmica e do azulejo, além de proporcionar uma visão cronológica da existência do azulejo disposta do século XV ao XX, incluindo sua chegada ao Brasil, no século XVII. A segunda é a “Arte e Azulejaria”, que exibe fotografias de prédios revestidos com azulejos confeccionados pela oficina de Udo Knoff.
Há também peças de autoria do ceramista, além de azulejos dos séculos XVII ao XX de origem portuguesa, inglesa, espanhola, francesa, holandesa, mexicana e belga, telhas vitrificadas, pratos, jarros e reproduções de azulejos antigos e de peças colhidas por ele.
No espaço também estão arquivados documentos do artista, como desenhos e anotações, que possibilitarão a realização de um completo levantamento, no que se refere à autoria, data e outras informações relativas aos seus trabalhos.
No ano de 1994, o Banco do Estado da Bahia (Baneb) adquiriu parte da coleção e inaugurou o Museu Baneb de Azulejaria e Cerâmica Udo Knoff. Após cinco anos, a Instituição passou por processo de privatização e esse acervo foi doado ao Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC).
Em 2003 o museu foi reaberto com novo nome: Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica. Desde então o museu vem apresentando o acervo de forma sistemática. A proposta é exibir a coleção, identificando os azulejos e as peças de criação do ceramista Udo Knoff.
Hoje é administrado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), da Secretaria de Cultura do Estado (Secult-BA) abre de terça a sexta, das 13h00 às 17h00; aos sábados, domingos e feriados, das 12h às 17h. O email para contato muk@ipac.ba.gov.br.
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