Um Marajá incomoda muita gente…

A população de Aracaju, certamente, se lembra de um personagem pomposo, bem vestido, que andava sempre cheio de dinheiro e que ganhou espaço em outdoors de toda a cidade entre setembro e dezembro do ano passado. Por representar não apenas um indivíduo, mas um grupo pequeno e seleto de pessoas, espalhadas por prédios do Tribunal de Justiça de Sergipe, que recebem salários que ultrapassam até o salário dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (teto salarial do serviço público no Brasil), o seu adjetivo acabou tornando-se o seu nome próprio: Marajá!

De lá pra cá, o Marajá também apareceu na televisão – sempre com muito dinheiro –, foi à praia, apareceu na porta do Gumersindo Bessa e do Palácio da Justiça, foi às ruas durante as manifestações do “Acorda, Aracaju” e mostrou a sua face à população.

Até então acreditava-se que o Marajá incomodava apenas aqueles o levavam para todos os cantos: os trabalhadores efetivos do Tribunal de Justiça de Sergipe. Trabalhadores incomodados sim, afinal, mesmo tendo sido aprovados em concurso público, recebem um salário bem inferior ao que recebe o próprio Marajá.

Depois, o Marajá começou a incomodar também o povo pobre, que via aquele personagem como um símbolo de ostentação e poder. O Marajá passou a incomodar porque o povo sabia que ele não era um personagem de ficção, mas representava o uso indiscriminado de dinheiro público, do seu dinheiro…

Mas parece que além dos trabalhadores do TJSE e do povo pobre de Aracaju, o Marajá incomoda mais gente. Gente que, durante muito tempo, não disse se estava ao lado do Marajá ou se preferia, ao invés desse personagem, reforçar outro símbolo: o da senhora com venda nos olhos, uma balança na mão e uma espada na outra. A esses, por que o Marajá incomoda?

O Marajá materializava a campanha salarial organizada pelo SINDIJUS – Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado de Sergipe. Com a campanha, pretendia-se denunciar o elevado número de cargos em comissão, as indenizações milionárias recebidas por membros da magistratura e os supersalários recebidos por alguns.

Pois bem, depois de muitas idas e vindas, quem mais poderia combater os “incômodos” provocados pelo Marajá preferiu arrancar a venda dos olhos da senhora citada acima e colocar em seus próprios olhos. Trocando em miúdos: ao não implementar as medidas administrativas sugeridas pelos trabalhadores efetivos e pelo sindicato, o ex-presidente do TJSE, Des. Osório Ramos, optou por manter as estruturas que enriquecem alguns poucos no Judiciário sergipano e, além disso, encerrou a mesa de negociação e impôs um reajuste salarial ínfimo aos servidores.

Já com a venda nos olhos, após negar os pleitos dos trabalhadores, quem mais poderia combater os “incômodos” provocados pelo Marajá decidiu agora pegar a espada das mãos da senhora e sacramentar um último ataque aos trabalhadores. Em outras palavras: além de não negociar com os servidores efetivos, o ex-presidente do TJSE diz que sentiu a sua honra ferida com a figura do Marajá e resolveu processar o SINDIJUS, pedindo uma indenização por danos morais.

Na próxima segunda-feira (22), a partir das 11h, acontece a primeira audiência do processo movido pelo Des. Osório Ramos contra os trabalhadores do Judiciário sergipano. Já com os olhos descobertos e desprovida da sua espada, a senhora resolveu, de uma vez, jogar fora a sua balança. Ela percebeu que o TJSE (que deveria ser a sua casa), infelizmente, não é o seu lugar…

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