Dia desses, percorrendo a rodovia José Sarney, deparei-me com um out-door de propaganda de uma ponte sobre o rio Vaza-Barris que o governo Marcelo Deda está construindo, ligando a região do Mosqueiro à praia da Caueira, em Itaporanga d”Ajuda, que se chamará ponte Joel Silveira. Chamou-me a atenção a forma ufanista da publicidade, que dizia que em breve os sergipanos deveriam se orgulhar da grande ponte que seria erguida ligando o povoado sergipano ao município de Itaporanga, alçando a construção como a primeira grande obra do governo Deda. O que me causou maior espanto foi o fato de que no governo anterior a contraditória e disparatada oposição dos petistas tratava a construção de uma ponte em Aracaju – a imponente ponte Construtor João Alves, que hoje liga a capital sergipana à Barra dos Coqueiros – como algo absolutamente supérfluo, levando em conta, na opinião desses mesmos petistas, que Sergipe estava muito mais a necessitar de investimentos em setores sociais imprescindíveis, como a educação, saúde e segurança pública, enquanto o estado estaria a gastar em obras faraônicas e desnecessárias. Os jornalistas-capangas do então prefeito de Aracaju e candidato a governador, Marcelo Deda, faziam questão de alardear que uma ponte era algo absolutamente desnecessário, tida aliás como a única e inútil obra do terceiro governo de João Alves, que levaria Aracaju a lugar nenhum, desconsiderando as potencialidades turísticas da Barra, da Atalaia Nova, de Pirambu, Japaratuba e outros municípios, cujas populações foram beneficiadas pela tal da ponte. Mas eis que agora, passado quase exatamente um ano do atual governo, a única obra que Marcelo Deda apresenta à população é justamente uma ponte, de utilidade extremamente duvidosa. E nem assim a capangagem midiática do governo se atreve a apontá-la como outra obra digna de um faraó que deseja rivalizar com seu antecessor, construindo uma ponte para o passado, que o nivelaria ao adversário. Como as coisas mudam. O poço de contradições do PT descobriu agora que uma ponte é muito importante e, esquecendo-se das tais promessas de mudanças, repetiu o feito ipsis litteris, mas em edição piorada. E ainda se atreve a exortar os sergipanos a se orgulharem da nova e “grandiosa” ponte. Ora, se já há uma ponte da qual os sergipanos se orgulham, e que aliás é muito mais útil do que esta que ora se constrói – pois afinal, além da questão relacionada às potencialidades turísticas, o município da Barra dos Coqueiros transforma-se hoje numa zona dormitório para trabalhadores de Aracaju, beneficiários natos da ponte Construtor João Alves – é de se perguntar por que os sergipanos deveriam se orgulhar de mais uma ponte, essa sim evidentemente desnecessária, e que não chega aos pés da engenharia e utilidade da anterior? A nova ponte Joel Silveira, que na verdade não passa da cópia de outro projeto do governo João Alves que estava pendente, e que agora Deda coloca em prática como se fosse idéia de sua gestão, servirá seguramente para atender a uma burguesia privilegiada, uma elite da qual os petistas hoje fazem parte, que se refestela em suas casas de praia no Mosqueiro, Caueira e Abaís, e que custará aos cofres públicos a bagatela de R$ 44 milhões a preços de hoje, mas que seguramente consumirá mais recursos ao fim de sua construção. Enquanto o governo dos petistas economiza algo em torno de R$ 800 milhões neste ano que se finda, sabe-se lá com que objetivo, e deixa a saúde pública chegar a um estado de penúria catastrófica nunca antes verificada em Sergipe, constrói uma ponte que, no entendimento deles mesmos, é algo completamente supérfluo, mas para a qual exigem dos sergipanos uma santa veneração, como se fosse a mais fascinante e grandiosa obra do atual governo. Aliás, a única. Ora, venhamos e convenhamos, para um Partido que se dizia indignado com os gastos da ponte Construtor João Alves enquanto, segundo eles, a saúde, a educação e a segurança pública definhavam, construir uma nova ponte – mais “supérflua” que a anterior – e tratá-la como obra prioritária enquanto essa mesma saúde, educação e segurança definham como nunca antes, é algo só imaginável se estivermos lidando com uma horda de loucos celerados. Enfim, a impressão que dá é que estamos em meio a políticos com graves transtornos dissociativos de personalidade, os chamados transtornos de personalidade múltipla, que na literatura e cinematografia clássica vieram a produzir o fenômeno da popular “dupla personalidade” manifesta pelas figuras de Dr. Jeckyll e Mister Hyde, na imortal novela de Ian Stevenson. Só questiono hoje essa situação porque eles passaram os quatro anos do governo anterior maldizendo a tal da ponte sobre o rio Sergipe como a obra mais inócua do governo anterior e agora decidem, dentro dessa mesma ótica, superar o feito. Afinal, onde está a tal da mudança? É de se perguntar onde diabos nós nos metemos? Talvez num quadro de Salvador Dali, a representar um surrealismo tão psicodelicamente lisérgico, que só os cocainômanos, os viciados em LSD ou as mentes mais doentias poderiam imaginar, e mesmo assim ocasionalmente.
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