Viva Aracaju!

Nasci aqui, talvez tenha crescido aqui também, ao menos em termos de idade e em partes de vivência. Dizem que à medida que você se desloca pelo mundo, a sua mente amplia os horizontes, perspectivas, trazendo novas maneiras de pensar, surgem questionamentos antes jamais cogitados. Assim me sinto em relação à Aracaju. A cidade que  já teve o título de Capital da Qualidade de Vida do Brasil, e, assim como tudo na vida, uma controversa rede de histórias e relações.

Primeira cidade planejada do país, cujo formato das ruas culmina em um tabuleiro de xadrez, Aracaju foi palco de diversas manifestações culturais, apesar de muitos ditarem que somente as cidades do interior sergipano produzem cultura popular, achando, essas pessoas, que cultura popular é somente as danças e folguedos. Vale ressaltar que a cultura popular nada mais é do que aquilo que é produzido pelo povo.

Aracaju produz artistas e espaços ricos, mas sua controversa relação entre ego e baixa autoestima, dificulta o alavancar e valorização do que produzimos aqui. Tudo que é de fora é mais interessante, mais bonito. Desde a arte até a medicina. As competências de seu povo só são atestadas e validadas quando este se desloca para fora, especialmente do país, e retorna, provando que o mesmo título que conseguiria aqui, é melhor, pois veio de fora.

A cidade que tem absolutamente tudo para prosperar, segue com o que foi rogado pelo Cacique Serigy, de que nada aqui pode avançar, afinal, essa é a terra que dizimou seu próprio povo, a população indígena que aqui habitava. Mas, como se prospera quando a mentalidade ainda está arraigada em valorizar somente o que não é daqui? Será que estamos dizimando a nós mesmos, aracajuanas, aracajuanos e aracajuanes?

As aparências de Instagram, os certificados de São Paulo, Harvard, ou da Caixa Prego ditam quem merece ser destaque na cidade, sair na coluna social, frequentar os restaurantes famosos com as subcelebridades sergipanas do momento, pois o que importa é a tela do celular. E aí eu pergunto a vocês: Tanto amor por Aracaju no dia 17 de março, para boicotar toda a cidade o resto do ano. Seria um caso de relacionamento abusivo, tóxico, de seu povo consigo mesmo?

Se você ama Aracaju, viva Aracaju, consuma Aracaju, beba Aracaju, vista Aracaju. E se o que Aracaju lhe oferece ainda não está do seu agrado, produza você mesmo. Uma cidade efervescente e próspera precisa que a sua população se movimente, caso contrário, ela morre. Com isso, não estou dizendo que tudo pode ser perfeito, mas também não vivemos no pior dos cenários, e muita coisa depende do nosso modo de lidar e a da nossa perspectiva pessimista sobre ele. Deixo aqui a minha curta reflexão sobre a forma como nos relacionamos com os nossos espaços.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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