Mais de 200 assaltos no transporte coletivo em Aracaju
Cleverton de Jesus ficou afastado devido aos traumas (Fotos: Portal Infonet) |
O ano mal começou e os assaltos a ônibus já passam de duzentos em Aracaju. A ação dos bandidos contra os coletivos tornou-se rotina na vida dos motoristas. Somente este mês, nos primeiros 18 dias, foram registrados 51 assaltos. Mais de 600 ocorrências em Aracaju e na área metropolitana foram registradas no ano de 2013. Somente este ano ocorreram cerca de 249 assaltos a coletivos. Os dados são do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo (Setransp) e Sindicato dos Trabalhadores de Transporte (Sintra).
O presidente do Sintra, Miguel Belarmino, alerta também para o número de funcionário que estão sendo afastados por traumas psicológicos. Ele atribui o crescimento da ação de bandidos à falta de segurança. Para ele, o policiamento não é suficiente e os empresários não investem em segurança. “Tanto os motoristas quanto os passageiros ficam expostos. Vários colegas de profissão foram afastados após assalto ao ônibus onde trabalhavam”, diz.
Belarmino conta que os motoristas são agredidos com coronhadas, facas no pescoço e até tiros na lateral do veículo. Ele lembrou também que um colega foi morto no município de Itaporanga D´Ajuda. “O último assassinato a um motorista foi em 2012 em Itaporanga. O meliante assaltou e matou o motorista. As agressões físicas com coronhadas de revólver, tiro na lateral do veículo e facas no pescoço. A categoria está sem condições de trabalhar sob essas condições. Dezenas de pais de família estão encostados pelo INSS, por traumas oriundos dos assaltos” conta.
Pablo Silva "trabalho sob a expectativa de ser assaltado" |
Vítimas
Motorista há 8 anos, Cleverton de Jesus Santos, de 38 anos, ficou afastado das atividades por um ano. Ele relata que dois homens armados roubaram o ônibus em que trabalhava e o agrediu com coronhadas e arma na cabeça. “Foi um momento aterrorizante, pensei que fosse morrer naquela hora. Eles foram bem agressivos e ameaçavam também o cobrador e os passageiros”, conta.
Cleverton ficou afastado de suas funções por um ano, enquanto passava por tratamento psicológico. “Fiquei afastado por um ano com depressão, devido ao trauma psicológico. O trauma é muito grande e acabei de voltar ao trabalho, mas ainda com tenho medo. Infelizmente a gente não tem outra opção se não encarar os perigos vividos na profissão”, diz.
Gilvan da Cruz, de 36 anos, trabalha como motorista há 16 anos. Ele também foi assaltado e agredido por dois homens. “Fui vítima de assalto no ônibus da linha Maracaju/Coqueiral. Já fui assaltado quatro vezes no mesmo local e agredido também. Já estou com o meu psicológico abalado”, reclama o motorista, que pretende buscar ajuda médica.
Assaltos a ônibus acontecem diariamente |
O cobrador Givanízio Santos Oliveira, 40 anos, lida com os problemas da profissão há 21 anos. Ele conta que a renda do coletivo já foi roubada mais de cinco vezes. “A gente vem para o trabalho já na expectativa de que podemos ser assaltados. Uma delas foi mais traumática, o assaltante colocou uma arma na minha cabeça e outro colocou uma faca em meu pescoço. A sensação é de que aquele é o nosso último dia de vida. Saio de casa, olho para nossa família e não sei se volto. A insegurança na cidade está alta e o trabalhador é quem paga por isso”, lamenta.
Pablo Silva é cobrador de ônibus a quatro meses e já está trabalha sob a expectativa de ser assaltado a qualquer momento. “Eu sei que a profissão é perigosa, mas eu preciso trabalhar para sustentar a minha família. Sei também que posso ser assaltado a qualquer momento e peço a Deus que isso demore a acontecer”, diz.
Setransp
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiro do Município de Aracaju (Setransp), José Carlos Amâncio, vê com preocupação o crescimento de assaltos a ônibus. Para o presidente do Setransp não adianta procurar culpados e sim soluções.
Belarmino "A violência contra esses profissionais são diárias" |
“Nós vemos esse crescimento com preocupação, pois nos temos em tornos de 40 mil viagens por mês e eu entendo que o número é alarmante, mas não adianta procurarmos culpados e nem atribuir culpados. Aqui em Aracaju implantamos o sistema de bilhetagem eletrônica, onde 70% já possui o cartão. Temos câmeras e cofres nos veículos. As pessoas são orientadas a andar com poucos recursos. É algo muito difícil de monitorar, mas infelizmente não temos o poder de polícia. O que a gente faz é orientar esse trabalhadores a fazer um boletim de ocorrência e trabalhar em conjunto com a SMTT e SSP, para buscar uma solução para tentar resolver o problema”, diz.
Policiamento
Coronel Paiva, assessor de imprensa da PM, ressalta a importância dos registros de boletins de ocorrência. Ele explica que os registros auxiliam, a PM no planejamento das suas ações de policiamento preventivo, tornando o trabalho muito mais eficaz. “A omissão desses registros, portanto, simulam uma falsa realidade, dificultando a adequação do policiamento à verdadeira demanda ou predisposição de determinadas áreas ou locais específicos para determinados delitos”.
Coronel Paiva "ações policiais vem sendo empreendidas diariamente" |
Ações
Segundo Paiva, a PMSE tem motivado suas unidades de área e subunidades especializadas sediadas na região metropolitana de Aracaju a aumentarem o número de abordagens preventivas aos ônibus, buscando localizar e prender ou apreender pessoas armadas e potenciais criminosos. “Esse trabalho vem possibilitando inúmeras prisões, tal qual aconteceu no último dia 20 de fevereiro, na Av. Tancredo Neves, nas proximidades do terminal rodoviário José Rolemberg Leite, quando o pessoal da RP prendeu um elemento armado com um facão em um dos ônibus da linha que serve o bairro Veneza”, conta.
Prisões como essa, de acordo com Paiva, vem sendo cada vez mais frequentes, revelando o perfil do assaltante de ônibus em Aracaju. “Os assaltantes são jovens, na maioria das vezes menor de idade; armado com arma branca, em regra uma simples faca de mesa; viciado em drogas, normalmente crack; que visa exclusivamente a renda do veículo, que toma do cobrador, sem admoestar os passageiros ou os profissionais rodoviários; obtendo baixos valores, em média R$ 30,00/40,00, que utiliza para sustentar o seu vício”, diz.
Paiva explica que além das ações policiais, que vem sendo empreendidas diariamente, faz-se necessária a intervenção de outros setores. Para ele, as ações preventivas de segurança devem também partir dos empresários. “São cruciais as ações dos empresários, no sentido de investirem na segurança dos seus veículos, dos seus funcionários e, principalmente, dos seus clientes. É necessário, por exemplo, minimizar ou acabar com a circulação de dinheiro em espécie nos ônibus, através da utilização exclusiva da bilhetagem eletrônica; instalar cofres metálicos abaixo dos assentos dos cobradores, a fim de tornar inacessíveis os valores em espécie que ainda forem utilizados; retirar os anúncios publicitários dos vidros traseiros dos veículos, aumentando a visibilidade do que ocorre no seu interior; aumentando o número de ônibus com câmera de vídeo, com resolução suficiente à identificação dos criminosos que os vitima, entre outros”, orienta.
Por Eliene Andrade