Amorosa e a música

Antônia Amorosa de Menezes, natural de Itabaiana, 33 anos, mãe de três filhos, e três CD”s gravados, nesses quinze anos de carreira, além de uma grande mulher, que tem uma opinião precisa sobre a importância de uma política cultural séria no nosso estado. É uma representante notável da música sergipana, que temos muito orgulho em entrevistá-la. O INÍCIO… O interessante foi que eu não comecei com a música. Eu comecei no rádio. Comecei como radialista na Radio Princesa da Serra, logo depois eu fui fazer teatro e depois, dança, só então veio a música. Tudo isso em dois anos. Ah! Também escrevia no jornal “O Serrano” da minha cidade, Itabaiana.Tudo isso com quatorze anos de idade.Deve ser por isso que as pessoas falam que me conhecem a muito tempo. Não é porque eu sou velha, não! Eu estou com 33 anos… É porque eu comecei cedo…risos… TROPEIRO… Em 85 eu vim para Aracaju e fiquei na casa de uns amigos na Rua Alan Kardec, no Bairro Cirurgia. E no dia 14 de janeiro desse mesmo ano eu comecei a cantar na Taberna do Tropeiro e cantando lá, eu tive a oportunidade de ser levada por turistas para cantar na Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. CHACRINHA, O VELHO GUERREIRO! Ele veio fazer um show aqui e eu estava precisando de dinheiro… não queria nem tirar em primeiro lugar, podia ser segundo ou terceiro, com tanto que ganhasse uma grana. Tirei em primeiro lugar, mas o dinheiro nem vi a cor… Mas em compensação foi bom, porque ele me elogiou muito e me levou para o Rio para participar do programa dele eu concorri e tirei o primeiro lugar de novo. Outro dia em um programa sobre os cinquenta anos da TV brasileira, mostraram umas imagens da Buzina do Chacrinha, e foi justamente aquelas onde eu participava …. Até me emocionei. A UNIVERSIDADE NA NOITE Voltei de novo para Aracaju e fiquei dois anos e meio cantando na noite, essa foi a minha universidade, minha escola, mas eu sabia que não ia ficar muito tempo assim, queria outras coisas. Minha grande identificação é com a praça pública e com o teatro, a praça pública porque eu gosto dessa facilidade que ela proporciona em se comunicar com o povo e o teatro por ser o momento em que nós podemos mostrar o que há de melhor e de novo no nosso trabalho. A MÚSICA QUE O POVO ESCUTA Infelizmente o povo está viciado em um tipo de música de má qualidade, ele ainda não sabe que o que se toca no rádio ou passa na televisão nem sempre é bom. Também, num país onde somos carentes de educação, saúde, saneamento básico e emprego, quem vai querer saber em evoluir nesse aspecto, não se pode exigir que as pessoas queiram consumir só boa música. E aqui no nordeste esse problema se agrava, isso me preocupa … eu lamento profundamente … esse é o Calcanhar de Aquiles da minha carreira, é muito duro conviver com meu público, que eu tanto amo e respeito, mas que muitas vezes são privados da música de qualidade. A MÍDIA Por mais que muitas vezes não queiramos, é ela que influencia e direciona o público que não tem uma concepção já criada sobre um determinado conceito. UNIVERSITÁRIOS DE HOJE Hoje em dia os universitários não são mais referência de cultura e informação, outro dia, numa palestra na universidade, eu falei isso para eles, eu abri o verbo, porque é preciso que eles se toquem também, há alguns anos atrás, um universitário sabia o que é uma boa música e esses de agora devem saber a responsabilidade que têm. É lamentável que depois do surgimento de Caetano, Gilberto Gil, Djavan, Chico Buarque, não se falou de novos grandes talentos, com excessão é claro de Renato Russo e Cazuza. A NOVA SAFRA Está surgindo uma safra muito boa de grandes talentos, Zeca Baleiro, Lenini, Chico Cezar, mas mesmo assim o Brasil tem muito mais do que eles para se ver e ouvir… NOSSA MÚSICA SERGIPANA… Os artistas estão tristes, não estão mortos, mas estão agonizando… ainda não fomos assassinados… até porque nós temos que reagir nessa guerra fria… da indiferença, do desrespeito, da desvalorização, da falta de uma política cultural. NOTAS MUSICAIS! E se temos que reagir, eu já comecei! Estou lançando um jornal chamado Notas Musicais, que vai levar ao público sergipano todas as informações sobre os nossos músicos, porque às vezes alguém quer contratar o músico tal e não sabe onde encontrá-lo, e através do Notas Musicais isso será possível. E o mais importante é que o músico não vai pagar nada e a distribuição dele também será gratuita. O objetivo desse jornal é colaborar de alguma forma para mudar essa situação… Mudar inclusive a forma que muitas vezes os contratantes nos tratam. Muitas vezes bancam festas às custas da gente; porque demorar, as vezes, um ano para nos pagar, é dar festa as nossas custas… POLÍTICA CULTURAL Nós temos que criar uma política cultural independente da formação de quem governa o nosso estado, infelizmente aqui não se coloca alguém para administrar um órgão de cultura, porque essa pessoa é competente, e sim porque é amigo ou faz parte de acertos partidários. Então essa pessoa que não conhece nada da cultura sergipana fica perguntando a um e a outro sobre o que tem que fazer, e nós vamos ficar assistindo a isso inertes ? Como se nada tivesse acontecendo ? Ah, isso não! A gente não pode permitir isso! As pessoas precisam não apenas ter vergonha na cara, mas respeitar as pessoas que mantêm a história desse estado. Se a gente não assume uma postura, e age como covardes e medrosos, que é o que mais tem aqui, covardes e modrosos. É impressionante. Nós temos que continuar mantendo nossa opinião contundente a respeito dessas questões. O PÚBLICO QUER O NOVO CD A minha grande dificuldade, antes de lançar um CD, é a escolha do repertório. E eu decidi que esse meu quarto CD tem que receber uma atenção especial nesse sentido. Então, vale a pena esperar, pois ele será muito especial.

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