Memória de Jenner Augusto em Aracaju precisa de reparos

Mural do Cacique Chá ilustra passagens históricas dos índios   
O renomado artista plástico sergipano, Jenner Augusto, falecido em 2003, foi um dos precursores das artes de caráter público no Estado de Sergipe. Dentre as obras de sua autoria em destaque em Aracaju, podem-se citar os murais do Cacique Chá, considerado o marco do modernismo em Sergipe. Apesar de ser referência, tais painéis estão apagando com a ação do tempo e do homem que até então não tinha acordado para a importância da obra do artista.

Por conta de uma iniciativa do Ministério Público Estadual (MPE), a Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur) e a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) deverão tomar providências para restaurar e manter viva a obra de Jenner. A ação do MPE visa à recuperação não só dos murais localizados no Cacique Chá, mas também os que ficam no Edifício Walter Franco e no prédio do antigo Bingo Palace.

Mural localizado no Edifício Walter Franco deverá ser recuperado
O secretário de Estado da Cultura, Luiz Alberto, afirmou que mesmo antes da ação do MPE a Secretaria já vinha trabalhando na inspeção dos bens tombados pelo Estado, que inclui a obra de Jenner, e na elaboração de projetos, como o de restauração do mural localizado no Edifício Walter Franco, que deverá contar com o apoio do Banese. “Antes de qualquer coisa é preciso destacar que os painéis de Jenner representam um patrimônio imaterial, que temos interesse de preservar independente da preocupação do Ministério Público”, afirma.

No caso do painel do Bingo Palace, Luiz Alberto, diz que está de certa forma de mãos atadas porque a obra está dentro de uma propriedade privada e é o dono que deve elaborar o restauro. No entanto, não se sabe quem é o proprietário do prédio que durante longo tempo abrigou uma casa de jogos e, anteriormente, o Cine Palace.

Marcas do tempo nas obras de Jenner são visíveis
Arte de Jenner

De todo o conjunto da obra pública de Jenner Augusto em Aracaju, os murais do antigo bar e restaurante Cacique Chá é o que tem maior destaque histórico-cultural por ter sido o primeiro de uma série e por representar um marco do modernismo em Sergipe. “Ele foi o primeiro artista a ter essa consciência da obra de arte em espaços públicos. Ele tira a arte das galerias e leva para a rua”, explica o artista plástico Elias Santos, que conheceu em vida o Jenner.

Elias conta que a arte muralista foi introduzida em Sergipe por Jenner e a primeira obra nesse estilo foi o mural pintado com tinta a óleo nas paredes do Cacique Chá. A obra que irá completar 60 anos em 2009 tem forte influência de Portinari e uma temática bem regional. Os painéis ocupam toda a parede superior do prédio na parte interna e externa do prédio e retrata a bravura dos índios.

Prédio deve abrigar memorial de Jenner Augusto
A arte-educadora Silvane Azevedo, realizou um trabalho de pós-graduação em Artes Visuais que teve como foco a importância dos murais do Cacique Chá. Ela explica que Jenner fez os painéis a convite do dono do bar, que durante muito tempo foi local de encontro de boêmios da cidade e recebeu diversos artistas da música popular brasileira. Depois desta época áurea, o espaço abrigou um restaurante de comida à quilo e a gordura dos alimentos interferiu fortemente para a deteriorização das pinturas do artista.

“A parte das frituras de carne ficava embaixo dos painéis, a gordura reage com o pigmento e vai destruindo a pintura. Tem parte do painel interno que não há mais registro, que não vai dar para restaurar, terá que ser feita uma reconstituição com base em fotografias antigas”, explica Silvane. Ele afirma ainda que como o mural conta uma história de bravura dos índios ele deve ser restaurado por completo, para não ficar faltando partes da memória retratada por Jenner.

Entrada do antigo bar e restaurante Cacique Chá
Reconhecendo a importância histórica das obras do artista e do espaço que as abriga, o secretário de Cultura, informa que há projetos para transformar o local num memorial de Jenner Augusto. O prédio passaria então a ser, além de um espaço para as artes, um ponto turístico. Medidas em caráter de urgência deverão ser tomadas para evitar um maior desgaste da obra, o projeto para a revitalização do espaço deverá ser feito em parceria com a Emsetur, no entanto, não há previsão de verba para a execução de obras mais efetivas para a preservação da memória do artista em Sergipe.

Por Carla Sousa

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