Com preços altos, mercado de imóveis em Aracaju pode entrar em colapso

Novos ou usados, imóveis estão cada vez mais caros em Aracaju (Fotos: Portal Infonet)
Não faltam exemplos do quanto o preço de imóveis novos ou usados, em Aracaju, atinge valores acima da expectativa de qualquer pessoa que esteja disposta a realizar o sonho da casa própria. Em alguns pontos da cidade, em bairros que não são considerados como classe média, é possível encontrar casas ou apartamentos com três quartos por mais de R$ 100 mil. Em áreas mais nobres, não é novidade que alguns empreendimentos atinjam valores superiores a R$ 1 milhão, uma realidade que só é mais comum em grandes cidades, como Salvador e Recife.

Especialistas no assunto concordam que há uma supervalorização e apresentam alguns motivos para o inflacionamento. Sabe-se, no entanto, que no caso dos imóveis usados a responsabilidade recai não só para o proprietário, como para o corretor de imóveis, visto como o regulador do mercado. No caso dos novos empreendimentos, as construtoras é que conduzem o barco. O consenso é de que caso não haja uma preocupação com tal aspecto, o mercado sergipano pode entrar em colapso.

Ivã Soares afirma que alguns corretores fazem más avaliações dos imóveis

Ivã Soares Filho, gerente de vendas de uma imobiliária na zona sul da capital, credita à ‘supervalorização’ a uma avaliação irresponsável por parte dos profissionais. “Muitos dos nossos colegas não têm compromisso com o trabalho e acabam até tirando uma média através de anúncios de jornal, desconsiderando todos os quesitos necessários para a avaliação de um imóvel”, critica.

Ele admite ainda que muitas vezes a exigência do proprietário por um determinado valor acaba pressionando o corretor. “É um ciclo vicioso. A pessoa acha que o imóvel vale ‘x’ e o vizinho, baseado nisso, acha que a sua casa ou apartamento, pode valer ainda mais”, acrescenta.  As conseqüências disso podem resultar num colapso do mercado local, ressalta Ivã. “Nós já sentimos essa supervalorização sem causa. Vai chegar o momento de travar, porque vai ficar tudo muito caro e fora da realidade”, destaca.

Construtoras

Marcelo Maciel analisa participação das construtoras no inflacionamento
A mesma tese é apresentada pelo professor de arquitetura da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Marcelo Augusto Maciel. Ele acredita que basta uma comparação com outros mercados maiores que Aracaju para se ter uma idéia do quão caro os imóveis são. “A cidade está crescendo, mas ainda assim não há razões que justifiquem de verdade nem mesmo aqueles que ultrapassam a faixa de R$ 1 milhão. Mas acontece que se as empresas produzem é porque há quem compre. Os estímulos à troca de imóveis são grandes, mas é possível que haja um ‘nó’ no mercado”, afirma.

Com relação aos imóveis novos, Marcelo aponta a falta de concorrência entre as construtoras e vai mais longe, apontando as deficiências no planejamento urbano como fatores que podem explicar a alta valorização. “Em Aracaju, quem legisla sobre onde a cidade vai crescer são as empresas e não a Prefeitura. Ainda temos áreas que poderiam ser comercializadas, mas fizeram uma expansão de forma invertida”, critica.

Tecnologia barateia obra, mas não baixa o preço dos imóveis

O professor destaca, ainda, que o valor agregado trazido pelas áreas de lazer com inúmeros equipamentos, que muitas vezes são o maior atrativo dos condomínios, também eleva os preços. O perfil de imóvel com maior oferta inviabiliza, ainda, outros tipos de empreendimentos. “O custo para a construtora não é alto. A tecnologia empregada nos canteiros, atualmente, barateia a obra, mas não barateia o produto final. Fora isso, inexiste uma hierarquia: ou o imóvel é popular demais, com áreas exíguas, ou é de alto padrão”, destaca.

Procura e oferta

O diretor-secretário do Conselho Regional de Corretores de Imóveis, André Cardoso, desmistifica a figura de vilão do corretor de imóveis. Ele afirma que nos últimos anos nenhuma denúncia foi feita ao órgão com relação à conduta de preços dos profissionais.  “Nós sentimos que há o inflacionamento e que alguns corretores avaliam com um preço maior, mas em Aracaju isso ainda não ocorre de forma gritante”, contesta.

André Cardoso, do Creci, diz que mercado vai continuar a crescer

A recomendação é que no caso de dúvida, o proprietário ou cliente busque mais de uma avaliação. “A pessoa pode pedir o número de registro no Creci e fazer uma consulta. Nem todo corretor é avaliador”, frisa.

Cardoso, por outro lado, vê de forma positiva o crescimento da cidade e aponta a oferta de crédito como determinantes para o crescimento do mercado. “Os feirões, os prazos, as taxas de juros, tudo isso contribui para manter as transações aquecidas. Ainda há um déficit, por isso a tendência é de crescimento”, explica.

Por Diógenes de Souza e Raquel Almeida

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