Estância (SE): Maravilha do Litoral Sul

Casarios e azulejos podem ser vistos na avenida Gumercindo Bessa

Estância, cidade localizada a poucos 66km da capital, Aracaju, é considerada a Capital Nacional do Barco de Fogo, Berço da Imprensa Sergipana, cidade cultural e musical. O centro histórico que resiste ao tempo proporciona ao visitante sobrados cobertos por azulejos portugueses, além de uma vila operária de interesse histórico e o fabrico dos tradicionais fogos de artifícios, a exemplo do sergipaníssimo barco de fogo.

O município ganhou esse nome ainda em tempo de povoamento, no século XVII, quando os seus primeiros colonizadores, principalmente, o mexicano Pedro Homem da Costa, o denominava de Estância por conta da quantidade de propriedade de criação de gado e de estancieiros.

A sede municipal não fica na zona litorânea, mas localiza-se às margens da BR 101, e seu primeiro povoamento data de 1621. Os primeiros passos econômicos se deram em direção ao cultivo da cana de açúcar, até por sua localidade estar entrecortada pelos rios Piauí e Piauitinga, facilitando, assim, tanto a criação de gado e quanto o cultivo da cana.

Casarios coloniais

A sede municipal já possui catalogado mais de 46 casarões coloniais, alguns deles no entorno do denominado Paço Municipal. Mas a constante reutilização para lojas comerciais e a ação do tempo sem restauros, tem descaracterizado o patrimônio histórico da cidade, porém, ainda se constituiu num bom destino a ser visto para quem gosta da arquitetura colonial em Sergipe.

Denominada de Cidade Jardim por Dom Pedro II, Imperador do Brasil, quando visitou o Estado, o casarão que o abrigou foi tombado pelo Iphan em 27 de julho de 1962.

Casarios

Outros casarões que devem ser visitados são os sobrados e casas azulejadas, também tombadas pela Secretária de Cultura do Governo do Estado de Sergipe, que se destacam na paisagem urbana da avenida Gumercindo Bessa. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário e a pintura em óleo sobre tela “Misericórdia e Caridade”, de autoria de Horácio Hora, instalada no Hospital Amparo de Maria, são atrativos que fazem da cidade um bom local para quem gosta de patrimônio e cultura.

Sete Maravilhas

Recentemente a população de Estância constituída por associações, organizações não governamentais e instituições, escolheram dentre mais de vinte atrações regionais (cultural, material e imaterial), obras arquitetônicas e paisagem natural, as sete maravilhas estancianas. Esses potenciais atrativos ganharam placas explicativas e foram transformados em um roteiro turístico, vejamos: 

Sede da Lira Carlos Gomes

1. Lira Carlos Gomes

Instituição musical não governamental fundada em 1879, ou seja, com 138 anos de fundação, a Lira funciona no antigo casarão de Gilberto Amado, primo de Jorge Amado e personalidade ilustre do mundo jurídico sergipano. A Lira Carlos Gomes é uma das mais antigas do Estado e conhecida, nacionalmente, por difundir a música orquestrada. Foi a mais votada através da consulta pública que estabelece as Sete Maravilhas de Estância.

Lagoa dos Tambaquis

2. Lagoa dos Tambaquis

Você já imaginou tomar banho em uma lagoa de águas límpidas e mornas em meio a tambaquis? Na Lagoa Azul, também denominada de Lagoa dos Tambaquis, é possível.

O balneário localizado a poucos 40km da sede municipal, em uma região de forte apelo ao ecoturismo. A lagoa dos tambaquis atrai visitantes por sua estrutura de bares e restaurantes no seu entorno, onde o banho em meio aos peixes é uma atração. A região lacustre e praiana, ao mesmo tempo, permite degustar do que a gastronomia local tem para oferecer e deixar o tempo passar sem pressa.

Santa Cruz

3. Complexo da Santa Cruz

Terceiro mais votado, o Complexo da Santa Cruz abrange o patrimônio arquitetônico da antiga fábrica de tecidos, a vila operária, uma sede da creche, cinema e a vila das casas dos familiares e dos operários.

A Fábrica Santa Cruz ou Fábrica Velha foi implantada em Estância em 1891 pelos portugueses João Joaquim de Souza e Eduardo José Fernandes e vendida em 1937 ao coronel Gonçalo Rolemberg Leite, sogro de Júlio César Leite.

Fábrica Santa Cruz

No seu auge, durante a 2º guerra mundial a fábrica contava com mais de mil funcionários, atendendo, inclusive, ao comércio exterior. Em 1964, uma grande enchente inundou toda a fábrica e mais de 1 milhão de metros de tecidos estocados ficaram submersos e seis meses sem produção.

Para completar o nível de dificuldades surge a Revolução de 64, que inviabilizou a indústria têxtil no Nordeste. E em 1972, a Velha Santa Cruz fechou suas portas e hoje é a sede da empresa Sulgipe, mas continua sendo cartão-postal da cidade por abrigar um valor patrimonial histórico e paisagístico.

Barco de fogo – Foto: Márcio Garcez

4. Barco de Fogo

O fogo de artifício tipo de Sergipe e símbolo de Estância e Patrimônio Imaterial do Estado desde 2013. Um barco movido por um fio de aço e pela força de espadas de fogo são confeccionados na cidade e é um dos mais importantes elementos da cultura sergipana, principalmente no período junino. O barco decorado com motivos juninos percorre o fio, com tração movida por espadas. Ao percorrer determinado percurso, as espadas promovem a tração inversa, fazendo com que o barco retorne.

O fabrico é, principalmente, realizado por fogueteiros do bairro Porto D’Areia, que também mantém a tradição do pisa pólvora para a confecção de espadas, pitus, entre outros fogos de artifícios.

Igreja Matriz de Guadalupe

5. Catedral Diocesana Nossa Senhora de Guadalupe

Situada no Paço Municipal entre vários casarios colônias da praça Barão do Rio Branco, a catedral de Estância homenageia Nossa Senhora de Guadalupe, uma santa bastante referenciada no México e que advém também das crenças do fundador da cidade, o mexicano Pedro Home da Costa.

A Igreja Matriz é uma obra do século XVIII, edificada em arenito, cal e grossos tijolos, com marcante presença do estilo jesuítico. No teto da capela-mor há painel representativo da Santíssima Trindade, atribuído ao artista plástico João Pequeno.

Praia do Saco

6. Complexo Ambiental da Praia do Saco

O Complexo Ambiental Praia do Saco abrange a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, datada do século XVI com fortes trações jesuíticos, além da região de dunas e da praia do Saco, uma das mais belas regiões de Sergipe.

No início de 2018 a igreja quase que dessaba em ruínas por conta do avanço do mar na região. Através de uma mobilização popular, de uma luta travada entre Município, Estado e Justiça Federal, a igreja patrimônio material do município, foi preservada e uma obra de contenção foi feita para que o mar destruísse a construção secular.

Capela da Boa Viagem

Os visitantes também poderão apreciar na região da praia do Saco uma boa estrutura de bares e restaurantes à beira-mar, além de passeios para a ilha da Sogra e redondezas.

7. Complexo Turístico do Bairro Porto D'Areia

Situado em um bairro remanente de quilombo, o complexo circula a capela de São Pedro, um terreiro de matriz africana, o alto da Conceição com a imagem do Cristo Redentor, além de barracões de fabrico de fogos de artifício.

O local também foi onde nasceu Raimundo Souza Dantas (1923 – 2002), primeiro desembargador negro do Brasil, embaixador do Brasil em Gana e na Argentina. Também onde nasceu Mestre Paulo dos Anjos, importante capoeirista que construiu a história do movimento em Salvador e São Paulo.

Complexo do Porto D'Areia

Pode-se observar uma vista panorâmica do antigo trapiche onde funcionava o embarque e desembarque de mercadorias e o comércio de escravos, no século XVIII.

Dicas de viagem

  • O município de Estância está localizado no território sul sergipano com sede a poucos 66km da capital. Para se chegar até lá, há duas opções: partindo pela BR 235 e seguindo pela 101 ou pela região litorânea, percorrendo as praias do litoral aracajuano, passando pela zona de expansão da capital denominada de Mosqueiro, pela ponte Joel Silveira, adentrando o município de Itaporanga D’Ájuda, e chegando a zona de praia estanciana.

  • Compexo do Trapiche visto do Porto D'Areia

    As praias estancianas ficam a pouco mais de 20km distante da sede nos loteamentos Abaís e Saco, que nomeiam as praias locais. A região entrecortada por rios e dunas promovem paisagens de belezas e que a partir dos anos 80 passou a despertar o olhar da especulação imobiliário e do turismo para a região. Recentemente a ocupação desregular tem provocando uma forte erosão das zonas de praias.

  • Praia do Saco

    Não deixe também de conhecer a história de Jorge Amado na cidade. O pai do escritor Jorge Amado, o coronel João Amado de Faria (1880 – 1962), era sergipano de Estância, filho de José Amado, também sergipano. Jorge Amado manteve laços familiares com primos e avós em Estância (SE) e no litoral norte da Bahia, a exemplo do povoado Mangue Seco (Jandaíra), onde passava temporadas. O primo dele, Gilberto Amado, também fez história na cidade sergipana.

  • O escritor baiano exilou-se em terras sergipanas do regime de Getúlio Vargas por sua ligação com a Intentona Comunista, onde viveu o período de 1936 a 1939 mais uma vez na cidade de Estância. Nas terras estancianas, a Papelaria Modelo, a Sociedade Monsenhor Silveira e o Hotel Vitória tiveram papel importante em sua vida. Neste último, Jorge Amado residiu durante algum tempo e com seus proprietários estabeleceu uma relação quase que familiar.

  • Há pesquisas que ressaltam a importância da passagem por Sergipe em suas obras e confirmam que o período foi o mais auspicioso do escritor, quando escreveu parte de Capitães de Areia e Mar Morto, além de trazer personagens que povoaram alguns dos seus livros, como Gabriela, Tereza Batista e Tieta do Agreste.

  • Fora do centro da cidade é possível conhecer a famosa ponte histórica sobre o rio Piautinga, que interliga a cidade ao bairro do Bomfim.

  • As velhas fábricas do bairro Bomfim merecem ser visitadas. Entre em contato com antecedência com o setor de Turismo da Prefeitura Municipal ou com seu agente de viagem. Telefone da Secretaria de Turismo e Comunicação Social – 79 3522 2720.

  • Estância foi sede do primeiro órgão da imprensa sergipana, o Recopilador Sergipano, que surgiu em setembro de 1832, pelas mãos do monsenhor Antônio Fernandes da Silveira.

Gastroterapia

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O litoral sul de Sergipe é rico em mangues e entrecortado por braços de rios, que oportunizam aos seus populares o catado de crustáceos e a pesca fluvial e marítima. Por conta dessa questão geográfica, os pratos à base de sururu, ostra e do aratu ou de caranguejo são quase que unanimidade quando se quer apreciar um prato regional.

O catado de aratu é servido na palha na região litorânea, além dos principais restaurantes turísticos da região. Pode ser encontrado ensopado, como recheio no pastel ou na denominada casquinha de aratu servida com farofa e vinagrete. Para se fazer o catado, as marisqueiras quebram o primo do caranguejo de cor avermelhada e encontrado na região de mangue, sua carne é cozida com temperos e cheiro verde, por vezes, ganha uma porção de leite de coco.

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