O LIVRO DO VISCONDE

Em Sergipe pouco se fala sobre os irmãos Rufino Enéas, Antonio Enéas, e Manoel do Nascimento, filhos do general José Antonio da Fonseca Galvão, (1802-1866 – Igarassu- Pernambuco). O militar, que assentou praça em 1817, chegou em Sergipe, como avulso, por volta de 1830, permanecendo quase uma década, ocupando-se da lavoura, sem perder, contudo, as Comissões para qualificar os oficiais idôneos para o quadro do Exército, considerando prontos para os serviços militares. O primeiro, Rufino Enéas Gustavo Galvão, (Laranjeiras 2.7.1831- 18.2.1909), fez notável carreira militar, reformando-se como marechal, foi Ministro do Supremo Tribunal Militar, Conselheiro de Estado, no Império, e Ministro da Guerra, o último da monarquia, integrante do Gabinete do Visconde de Ouro Preto. Governou as Províncias do Amazonas (1878/79), Mato Grosso (1880/81) e Pará (1883/84), e foi duas vezes titulado: Barão de Maracaju, depois Visconde de Maracaju. O Marechal Visconde de Maracaju, que tem um pedaço de avenida com seu nome em Aracaju, escreveu e deixou inédito o livro Campanha do Paraguai – 1867-1868, escrito em 1892/93, a partir de notas e apontamentos do seu diário de guerra. O livro, que dá ênfase à construção da estrada militar do Grão-Chaco, obra de engenharia militar que lhe coube executar, e que facilitou o acesso das tropas brasileiras, apressando o fim da guerra, é dedicado ao seu pai, “como provada da amizade e admiração que sempre vos tributou.” Trata-se de um volume de 228 páginas, editado, no entanto, sem as Cartas geográficas e outros anexos deixados pelo Visconde de Maracaju. A edição póstuma (Rio de Janeiro: Imprensa Militar, 1922) é uma raridade bibliográfica. Os biógrafos do Visconde de Maracaju, principalmente Liberato Bitencourt (1917) e Armindo Guaraná (1925) mencionam apenas o original. E realmente era como se o livro continuasse inédito, tanto pela parca circulação, como pela falta da documentação citada pelo autor, certamente enriquecedora. O Visconde de Maracaju chefiou diversas Comissões tratando de fronteiras, litígios, sendo no seu tempo uma das maiores figuras da oficialidade brasileira. O segundo dos filhos do general Fonseca Galvão é Antonio Enéas Gustavo Galvão (Nossa Senhora do Socorro 19.10.1832 Rio de Janeiro 25.5.1895) era também militar, chegou ao posto de Marechal de Campo e foi igualmente agraciado com um título de nobreza, o de Barão do Rio Apa. Serviu na armada e no exército, comandou o primeiro batalhão dos voluntários da Pátria, lutando como o irmão na Guerra do Paraguai. Foi Ministro da Guerra, em 1893, no Governo do marechal Floriano Peixoto e Ministro do Supremo Tribunal de Militar, desde 5 de setembro de 1893. Nas notas biográficas, especialmente o Dicionário Biobibliográfico Sergipano, de Armindo Guaraná, há menção a uma Memória, inédita, sobre a Guerra do Paraguai (1865-1870). Assim, são dois os livros de autores sergipanos sobre um episódio da história brasileira, que tem merecido atenção de pesquisadores estrangeiros, e que continua como tema de interesse de estudos. O terceiro filho do general José Antonio da Fonseca Galvão, Manoel do Nascimento da Fonseca Galvão também nasceu em Sergipe ( Estancia 25.12.1837 – Recife 25.2.1915) não seguiu a carreira militar, foi magistrado. Bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo, entrou na magistratura ocupando várias comarcas em São Paulo, Mato Grosso e Pernambuco, sendo desembargador do Tribunal de Relação de Pernambuco e seu Presidente. Atuou politicamente como Deputado e presidente da Assembléia de Santa Catarina, presidente da Província de Sergipe, nomeado por Carta Imperial de 28 de dezembro de 1872, assumindo o Governo por alguns meses, de 8 de março de 1873 a 19 de novembro de 1873. Trata-se, portanto, de sergipanos ilustríssimos, três de uma mesma família, com produção intelectual variada, deixados completamente no esquecimento, sem a consagração conferida pelas suas biografias. Bastaria a participação do Visconde de Maracaju e do Barão do Rio Apa na Guerra do Paraguai para justificar o interesse pelas biografias e especialmente pelas obras de que são autores. Valeria a pena, também, levantar a presença em Sergipe do general José Antonio de Souza Galvão, nos primeiros tempos da Província, suas atividades, como proprietário rural e como comissionado do Império, para recrutar militares. Também vale procurar ligações entre o varão pernambucano e o coronel do Regimento de Milícias (ou brigadeiro) Ignácio Francisco da Fonseca Calassa Galvão, que estava sediado em Penedo, participando da reação à Revolução de 1817 e que, pouco mais tarde, viria para Sergipe, onde morreu em 1830, e parece ter assumido o Governo entre 1828 e 1830. Há fortes indícios de parentesco entre esse militar e o pai do Visconde de Maracaju. A edição do texto inédito do Barão do Rio Apa e a reedição, completa, com os mapas e os anexos, da Campanha do Paraguai, do Visconde de Maracaju são impostas pela necessidade de preservação da contribuição intelectual sergipana, notadamente quando se projeta ao acervo do País, como os dois livros que tratam do mesmo tema a Guerra do Paraguai – e reproduzem testemunhos presenciais, conotando de responsabilidade as duas memórias. São livros antigos, de mais de cem anos de ineditismo, que precisam ser recuperados para a historiografia brasileira e para a galeria dos autores sergipanos, como acaba de acontecer com o livro de Manoel Pedro das Dores Bombinho, em versos, sobre a guerra de Canudos, que vem obtendo ampla divulgação na mídia nacional. Há muito mais sobre Sergipe do que o que se conhece e divulga. As surpresas são muitas, contrastando com as pesquisas e os estudos, que são poucos. A família Galvão é bem um exemplo, a despertar, no mínimo, a curiosidade, pela biografia que construíram, pelas obras que deixaram. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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