Memorial do comércio

Augusto Barreto, dirigindo o carro do Café Império, foi um dos grandes comerciantes de Aracaju, promovendo artistas, circos, e misses, movimentando a vida social da capital sergipana.
A Associação Sergipana de Supermercados, que em janeiro completou 30 anos de fundada, e que está instalada na rua Campos, 496, na casa onde viveu e morreu Carlos Firpo, médico, ex-Prefeito de Aracaju, assassinado há 50 anos, caso que desde lá continua envolvido em mistério, criou um MEMORIAL para preservar a história do comércio varejista, fazendo um registro da evolução das atividades de negócios, desde as antigas feiras, passando pelas bodegas, quitandas, mercearias, armazéns, até o auto-serviço dos supermercados, no que Sergipe deu grandiosa contribuição, formando com Mamede Paes Mendonça, e seu cunhado Antonio Andrade, a rede Pague Menos, na Bahia, com Pedro Paes Mendonça e seu filho João Carlos Paes Mendonça, a rede BOMPREÇO, em Pernambuco, e com Gentil Barbosa e seu irmão Noel Barbosa, a rede G. Barbosa, três das maiores do Brasil, em seus respectivos momentos.

 

O MEMORIAL historia as feiras, fixando os dias da semana em que tais ajuntamentos comerciais eram autorizados, no interior sergipano, apontando a presença de comerciantes que construíram biografias notáveis, a partir desse contato informal. Um grande exemplo foi o de Oviêdo Teixeira, que vendeu retalhos de tecidos na feira do Saco do Ribeiro, atual Ribeirópolis, antes de estabelecer-se em Itabaiana, depois em Aracaju onde fez sucesso como empresário múltiplo, em vários setores do comércio, sendo, ainda, um dos grandes criadores de gado do Estado, com participação nas maiores exposições de animais de raça.

 

As bodegas ou quitandas, que são pequenos estabelecimentos comerciais, comuns em todas as comunidades do Estado, também mereceram um registro no MEMORIAL, como etapa importante na evolução dos negócios. Dos menores aos maiores povoados, as bodegas ou quitandas prestam um serviço básico, fornecendo gêneros necessários à sobrevivência. É certo que o progresso tem levado ao interior variedade de produtos, que passam a ser do consumo comum das populações, mas isto não retira das velhas, pequenas e curiosas bodegas o papel de abastecedor, daquilo que fosse absolutamente necessário. Sem contar que as bodegas ou quitandas foram pontos de encontro, reunindo diariamente freqüentadores, cada um com seu perfil de conversador.

 

As mercearias e armazéns de secos e molhados, que antecederam as lojas de auto-serviço, cumpriram um importante etapa do comércio sergipano, abastecendo Aracaju e as demais cidades. Eram casas sortidas, oferecendo muitas opções de produtos, dos mais simples e básicos, aos mais sofisticados, importados para o mais fino paladar e para ornar o interior das residências locais. Muitas das mercearias e armazéns seguiram em frente e deram o passo evolucional seguinte, mudando para supermercado, onde o cliente tinha a total liberdade de escolher os produtos que precisava e até os que não necessitava e se dirigir diretamente aos caixas, sem contatos intermediários.

 

Mamede Paes Mendonça, Pedro Paes Mendonça, Gentil Barbosa, para citar apenas os três maiores de Sergipe em redes de supermercados, tiveram mercearias e armazéns, no interior e na capital, e levam a experiência de seus negócios para empreendimentos maiores, fora e dentro do Estado, que repercutiram no País. A Junta Comercial de Sergipe guarda, desde 1939 e até os dois primeiros meses de 2008, 1582 registros de casas comerciais de comércio varejista, incluindo os mercadinhos e supermercados, que aderiram ao auto-serviço e se espalharam, nos bairros da capital, e pelas cidades do interior. Dentre esses registros há o de Pedro Antonio dos Santos, conhecido como Pedro Reservista, nascido em Itabaiana, que teve um pequeno armazém no interior do Mercado Antonio Franco e que saiu de lá para montar, em plena Avenida Barão de Maroim, na zona sul da cidade, o Supermercado Preço Bom, que ainda hoje, sob a direção dos seus filhos, principalmente de Reginaldo Antonio Santos, ajudado pelo irmão Regivaldo Antonio dos Santos, sobrevive, resistindo as megas lojas que são instaladas em vários pontos de Aracaju.

 

O MEMORIAL destaca, ainda, em sua exposição de grandes formatos, com textos e fotos, um conjunto de anúncios de casas comerciais das primeiras décadas do século XX, algumas delas ainda atuantes, como a de Júlio Prado Vasconcelos, tocada por José Tomás Vasconcelos, bem como a continuidade de outros negócios varejistas, como os que Joram Vasconcelos, recentemente falecido, José Alcides Vasconcelos e Manuel do Prado Vasconcelos Filho, o Pradinho, que honram a memória do pai, Manuel do Prado Vasconcelos, conhecido como “Seu Reizinho”. Tomando Itabaiana como referência, pois grande parte dos comerciantes de Aracaju veio da terra serrana, o MEMORIAL recupera a história de Edezio Vieira da Silva, nos anos de 1960 e da família Peixoto, desde Miguel de Carvalho Peixoto, que desde os anos de 1970 comerciam no varejo, seguidos pelos Irmãos Peixoto – Daniel, Messias e Veríssimo – que formaram a empresa Irmãos Peixoto e que seguem, atualmente,  caminhos individuais, cada qual com seu negócio.

 

O comércio sergipano, das feiras aos supermercados, está retratado e anotado no MEMORIAL DO COMÉRCIO VAREJISTA, na sede da ASES e disporá de uma base de dados, para ampliar o que está contido nos grandes painéis expostos em duas salas, ao lado de um espaço cenográfico que recupera formas velhas de negócios.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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